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Qual a Mensagem que os que Votaram em Trump Querem Passar?

Publicado 17.11.2016, 08:05

“Posso não concordar com o que você diz,
mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”
(Voltaire)

Este texto era pra ser feito sobre as consequências econômicas da eleição de Hilary Clinton. Era ela quem seria a próxima presidente dos Estados Unidos segundo pesquisas, segundo a mídia tradicional, segundo alguns formadores de opinião.

Sendo eleita, Hilary seria continuação do governo Obama. O que significa que eu escreveria algumas poucas linhas pra dizer que não haveria nenhuma mudança significativa e o restante enxeria com alguns proselitismos.

Mas não, o eleito foi Donald Trump, o que deixa o texto mais interessante. E o que era para falar somente sobre economia merece algumas palavras sobre o que significou a eleição de Trump. Alguns certamente ficarão incomodados, o que significa que estarei fazendo meu trabalho.

Cheguei nos Estados Unidos dia 3 de outubro parte de um programa chamado Young Leaders of Americas Initiative (YLAI). O Programa é uma iniciativa de Barack Obama para empoderar 250 jovens líderes na América Latina. E eu fui um dos escolhidos. Fazer parte de um programa para latinos financiado com o dinheiro público dos americanos é tudo que Trump teria rejeitado. Eu teria todos os motivos pra ser contra ele. Mas não cheguei aqui para a torcida, cheguei para entender como Americano pensava e porque o cara que começou como uma piada estava indo além do esperado.

Passei a primeira semana em Dallas no Texas, reduto dos republicanos. Perguntava sobre as eleições para motoristas do Uber, algumas vezes para alguns trabalhadores e a primeira conclusão. Hilary definitivamente não era a unanimidade que muitos – ao menos no Brasil – diziam ser. Era considerada uma pessoa corrupta e que tinha mentido diversas vezes por ações suas no governo. Foi sob o seu comando, que o Embaixador americano Christopher Stevens morreu em uma operação em Benghazi na Lybia em 2012. Hilary tinha recusado ajuda ao grupo que estava encurralado.

Na semana seguinte, fui para Seattle no estado de Washington. Continuei perguntando sobre as eleições para estudantes e outros cidadãos americanos. Muita gente também odiava Trump, mas votaria nele porque odiava mais ainda Hilary. A segunda conclusão: a quantidade do voto chamado envergonhado – aquele voto que a pessoa tem vergonha de assumir – era imenso. Além disso, muita gente não queria votar em nenhum dos dois.

Passei então a assistir discursos inteiros de Hilary e Trump e os dois debates que tiveram. Cheguei a terceira conclusão. Tentei – confesso que tentei – mas os discursos de Trump não era tão radicais como parecia (ao menos para mim). Ele falava sim em deportar os imigrantes, mas apenas os ilegais. Aqueles que estavam legalizados ele prometia lutar por eles.

Mas você não precisa confiar em mim. Minha opinião pode ser enviesada. Mas você confiar nos grandes números. E o resultado é que Donald Trump venceu na Flórida, um dos locais com mais imigrantes. Isso responde algumas perguntas…

Essas foram as três conclusões que cheguei aqui. (i) Hilary não era unanimidade; (ii) o voto envergonhado poderia decidir a eleição; (iii) os discursos de Trump para quem assistia mais agradava do que desagradava. Não é meu papel – ao menos neste artigo – advogar a favor de Trump (ou Hilary), sou apenas o mensageiro do que vi.

Cheguei esta semana em Washington DC e vi Donald Trump vencer com 276 delegados (acima dos 270 necessários) contra 218 de Hilary Clinton.

Essa é a democracia. Aos que não venceram há apenas duas opções: mostrar que a democracia só vale até a página um, como se ela só fosse importante quando é o time da gente que ganha; ou entender a mensagem que os americanos estão dando.

E a mensagem é a seguinte: Os Estados Unidos vem enfrentando muitos problemas. Definitivamente os americanos não são fãs de Trump, como um dia foram de Ronald Reagan, um dos presidentes mais populares, ou de Abraham Lincoln. Mas definitivamente os movimentos progressistas que Hilary defendia não têm sido a resposta para esses problemas.

A verdade porém, é que pelo bem e pelo mal, em qualquer nação séria, um presidente ou um primeiro ministro não pode fazer o que bem entender. Obama não conseguiu aprovar o seu programa de Saúde – o Obamacare – do jeito que pretendia, pois o congresso o barrou. Da mesma maneira, as instituições americanas ainda funcionam para Trump não fazer do governo o que vier à cabeça.

E já ia me esquecendo de falar sobre a economia. Do ponto de vista econômico, é praticamente unânime entre os economistas que Trump tem políticas piores. Suas medidas protecionistas podem elevar os preços dos importados o que tornaria mais caro o consumo dos americanos e diminuiria o crescimento americano. A moeda americana tende a perder valor, pois há muita incerteza sobre qual será sua política econômica. Os Estados Unidos se tornariam um país mais fechado, indo contra a toda literatura que fala dos benefícios da abertura econômica.

Ainda assim, mais de 54 milhões de americanos decidiram eleger Trump. Não resta outra saída – para aqueles que respeitam a democracia além da página dois – senão respeitar. Eles tem os motivos deles.

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