Ibovespa renova recordes puxado por Petrobras, bancos e fala de Trump sobre Lula
A redução de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros dos Estados Unidos, anunciada pelo Federal Reserve, é mais do que uma simples movimentação técnica de política monetária. É um grito, não de guerra, mas de alerta. Um “quem vem lá?” lançado pelos guardas da muralha da economia americana, que observam, com olhos semicerrados, a aproximação de um inimigo silencioso: o desemprego crescente.
Jerome Powell, presidente do Fed, não precisou de binóculos para enxergar o enfraquecimento do mercado de trabalho norte-americano. A desaceleração na criação de empregos e o risco de aumento na taxa de desemprego foram suficientes para justificar o corte, mesmo com a inflação ainda acima da meta de 2%. A decisão, embora esperada, carrega o peso de uma tentativa de manter o castelo da economia americana de pé, mesmo com os muros já mostrando rachaduras. E como todo bom castelo em tempos de tensão, há também disputas internas: Trump, novamente presidente, pressiona por cortes mais agressivos e tenta moldar o Fed à sua imagem e semelhança, transformando a política monetária numa espécie de reality show de demissões e nomeações.
Enquanto isso, do outro lado do hemisfério, o Brasil permanece firme, ou teimoso, dependendo do ponto de vista, com sua taxa Selic em 15% ao ano. O Copom, em sua mais recente reunião, decidiu manter o nível contracionista da política monetária, justificando com um discurso que mistura prudência, projeções inflacionárias desancoradas e um ambiente externo incerto, especialmente por causa da política econômica americana. A ironia aqui é quase poética: enquanto os EUA cortam juros para tentar salvar empregos, o Brasil mantém os seus altos para, supostamente, se proteger da inflação, mesmo com sinais de moderação na atividade econômica e um mercado de trabalho que, segundo o próprio Copom, ainda mostra dinamismo.
A diferença entre as taxas de juros dos dois países, agora em mais de 10 pontos percentuais, transforma o Brasil em um potencial paraíso para o chamado carry trade. Investidores internacionais, podendo agir como oportunistas, tomam recursos baratos nos EUA e os aplicam em ativos brasileiros, buscando retornos mais altos. O real se valoriza, o dólar recua, e o Ibovespa sorri. Mas será que esse sorriso é de alívio ou de nervosismo contido?
O Copom afirma que sua decisão também visa “suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego”. Mas com juros em 15%, essa suavização parece mais uma massagem feita com martelo. A política monetária brasileira, nesse momento, lembra um castelo que, ao ouvir “quem vem lá?”, responde com um portão trancado e uma flecha apontada para qualquer aproximação, por medo que seja a aproximação do temido dragão da inflação, deixando de fora um potencial crescimento econômico ou de emprego.
No fim das contas, o que se vê é um contraste de estratégias e de prioridades. Os EUA, mesmo sob o fogo cruzado da política interna, tentam reagir ao enfraquecimento do mercado de trabalho com cortes graduais. O Brasil, por sua vez, parece esperar que a inflação se curve diante da austeridade, mesmo que isso signifique manter a economia em marcha lenta. E assim seguimos, cada um com seu castelo, seus guardas e seus fantasmas. Mas a pergunta ecoa em ambos os lados: quem vem lá?