Vivemos um momento histórico no Brasil com as eleições presidenciais de 2014. Seus reflexos vão além da política e estão afetando profundamente o comportamento dos ativos financeiros: ações, dólar, juros.
O embate presidencial no primeiro turno foi marcado por uma série de afirmações ao vento, entre elas a de que a candidatura de Marina Silva seria a mais alinhada com os interesses dos Banqueiros!
Fui então levantar os números do setor para verificar o comportamento do lucro dessas instituições nos últimos anos e assim comparar com as medidas macroeconômicas adotadas pelo governo e reflexo para os bancos.
O que diz o balanço?
O gráfico abaixo reflete o lucro anual dos 3 maiores bancos privados de capital aberto (Itau, Bradesco, Santander) entre 2005 e 2013. Minha fonte foi o sistema Quantum.
Algumas constatações importantes podem ser retiradas do gráfico.
Reparem do lado esquerdo, onde estão os dados mais recentes, que o lucro nunca esteve tão alto no período avaliado. A aceleração dessa tendência de alta nos lucros se inicia no final do segundo mandato de Lula, em 2009, e continua seu crescimento na gestão Dilma.
Entre 2005 e 2009 o lucro teve uma taxa de crescimento menor, muito em linha com o crescimento do PIB no período, com exceção de um lucro não recorrente do Itau em 2008.
O mais importante é entender por que o crescimento no lucro foi tão alto entre 2009 e 2013?
E a principal pergunta é: ele se repetirá? Responderei a essa questão no final do artigo.
Inicialmente precisamos avaliar o cenário econômico e as medidas que o governo do PT tomou, inicialmente com Lula no segundo mandato e posteriormente com Dilma.
Após a crise de 2008, que afetou fortemente todas as economias ao redor do globo, a equipe econômica de Lula passou a impulsionar fortemente o consumo. Várias medidas foram tomadas em 2009 para que o consumidor brasileiro ganhasse papel de protagonista em nossa economia.
Dilma, ao assumir como presidente em 2011, manteve as políticas macroeconômicas, com foco no consumo. Impostos foram reduzidos, linhas de crédito foram criadas, programas de financiamento habitacional.
Em resumo, tanto o segundo mandato de Lula quanto o atual governo Dilma, tem pelo menos um objetivo em comum, o estimulo ao financiamento e crédito.
Para se ter uma ideia, passamos de 25 milhões para 45 milhões de veículos nas ruas em 10 anos. Grande parte disso adquirido com uso de financiamento.
Outro dado importante: a Selic média do período se manteve em 11,50%. Essa taxa é a base do custo dos financiamentos no país.
Nesse período houve também um maior ganho de renda da população privilegiando a bancalização, que ainda é pequena no nosso país.
Com isso, mais produtos bancários foram consumidos, como o seguro saúde por exemplo.
Ao somarmos a política de incentivo ao credito e financiamento, ganho de renda impulsionando bancalização, as altas taxas de juros e o spread bancário praticado no nosso mercado, formou-se o cenário perfeito para aumento da lucratividade no setor.
Apesar de, ao longo do seu mandato, Dilma baixar na marra os spreads dos financiamentos dos bancos públicos, forçando um realinhamento do setor, o aumento do volume de crédito sustentou o crescimento do lucro.
Enfim, várias foram as medidas que, indiretamente privilegiaram os bancos.
E esse cenário se repetirá?
Basicamente não acredito que num segundo mandato do governo Dilma a situação seja diferente.
Desde quando ocupava a casa civil Dilma defendia que para viabilizar o crescimento auto-sustentado, o Estado deveria ter um papel importante na coordenação da atividade econômica, distribuição de recursos entre os setores da econômica, realização de investimentos e distribuição de renda.
Não temos como esperar algo muito diferente dessas premissas.
Caso tenhamos uma vitória de Aécio, a intervenção estatal deverá ser reduzida, e o setor industrial deverá ressurgir. O Estado tenderá a intervir menos na economia.
Em ambos os casos o segmento bancário deverá continuar na crista da onda.
No primeiro cenário, a continuação dos estímulos e foco no consumo, como já demonstrado na pratica é positivo para o setor.
No segundo cenário, uma possível retomada no crescimento do PIB também impulsiona o setor, que atua como fomentador desse crescimento.
Porém o investidor deve ficar atento ao comportamento dos papéis para cada cenário.
Cenário 1 – Reeleição de Dilma: não só ações de bancos, mas o mercado como um todo deverá realizar os ganhos recentes. Será o reflexo das incertezas, baixo crescimento do período e inflação.
Em minha opinião esse recuo será uma boa oportunidade para montar uma posição relevante nos ativos do setor bancário. Resta ao investidor encontrar o melhor momento para montar tal posição.
Cenário 2 – Eleição de Aécio: o mercado deverá pagar cada vez mais caro pelos ativos, e o setor bancário com certeza será um dos mais procurados.
Nesse caso o investidor deverá compor parte dos seus investimentos com ativos do setor. Mas cuidado! Na hora da compra a atenção deverá ser redobrada para que o preço não seja muito superior ao valor.
Em síntese, enquanto impulsionar o crédito e financiamento for a mira de qualquer equipe econômica, os bancos nadarão de braçada.
E pelo gráfico de lucratividade abaixo, fica bem claro quais as melhores opções de investimento no setor financeiro.