Questão Maior é se a Economia Conseguirá Dar Respostas ao Ajuste Fiscal

Publicado 08.05.2015, 07:01
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Mesmo que “aos trancos e barrancos” as medidas de ajuste fiscal vão ultrapassando as barreiras políticas que se antepõe e vão conseguindo ser aprovadas.

Mas, por outro lado, é crescente a incerteza sobre a efetiva capacidade da economia, ainda em estado de deterioração, responder adequadamente aos anseios governamentais objetivados pelas medidas de ajuste ou se retroagirá levando o país à recessão piorando o “status quo” atual, indo contra as expectativas, pelo simples fato da impossibilidade de suportar os impactos decorrentes dos ajustes muito fortes e sem gradualismo.

A Ata da mais recente reunião do COPOM pontua a elevação da estimativa de alta para o conjunto de preços administrados em 2015 de 10,7% para 11,8% e de 38% na luz no ano, ainda não tendo considerado outros aumentos em curso para ampliação como o da água em SP da ordem de 15%. Não bastasse a elevação nos preços administrados que causam grande efeito na cadeia produtiva e no poder aquisitivo da população, há que se considerar a contaminação ocorrida nos preços livres que também foram reajustados com grande intensidade.

Então, soa bastante improvável a perspectiva do próprio COPOM de que a taxa de inflação pelo IPCA esteja convergindo para o centro da meta, ou seja, 4,5% ao final do ano de 2016. Os ajustes de preços tem um efeito cascata que conduzirá neste ano a inflação a algo em torno de 9,0%, sendo uma queda muito expressiva projetar-se 4,5% ao final de 2016.

Evidentemente que num ambiente de economia em recessão ocorre uma contribuição efetiva para a contenção da inflação e o governo sabe e trabalha com esta hipótese, mas de toda forma seria uma queda muito expressiva.

A continuidade da inflação de forma persistente coloca como efetiva a possibilidade de continuidade da elevação da taxa SELIC para combatê-la, que naturalmente impacta nas contas do Tesouro.

A indústria revelou neste 1º trimestre queda de 5,9%. Mas há sinais de desaceleração de todos os segmentos, com desemprego crescente sendo que o último dado conhecido indica estar em 7,9%, mas em perspectiva este problema deve se acentuar. A indústria automobilística já dá indícios de forte tendência a demissões.

O crédito que alavancou a atividade econômica até bem pouco tempo está retraído e seletivo e assim a demanda se fragiliza, além do que o fator desemprego provoca nos consumidores postura preventiva de redução drástica de consumo.

Os resultados fiscais do 1º trimestre deram evidência a este quadro e apresentaram números desanimadores e que colocam em perspectiva ruim o alcance do superávit primário e reavivam o risco de perda do grau de investimento pelo país, o que seria absolutamente drástico para o Brasil.

O governo corre o risco de obter uma vitória de pirro, ou seja aprovar as medidas de ajuste porém sem alcançar os resultados de que precisa. Não que não se reconheça como necessário o ajuste de erros sistêmicos de gestão cometidos na ultima década, mas a questão é sua exequibilidade com resultados favoráveis da dimensão necessária no momento.

Temos presente o risco do “tratamento piorar em muito o estado do paciente”.

No setor externo temos perspectivas bastante preocupantes em torno do déficit em contas correntes, bastante expressivo. Atualmente acima de US$ 100,0 Bi nos últimos 12 meses e para o ano uma projeção por parte do governo bastante conservadora em torno de US$ 84,0 Bi.

Soa irônico quando lemos que o fluxo cambial favorável de abril apreciou o real, passando por cima de realidades presentes utilizadas para dar suporte ao preço da moeda americana.

Os bancos ainda têm posições vendidas em razão de carência de fluxos da ordem de US$ 10,0 Bi e o BC tem mais de US$ 110,0 Bi em contratos de swaps cambiais no mercado “comprando” credibilidade para o real.

Muito provavelmente a economia precisará de um preço mais elevado para o dólar a persistir o estado de inanição nos negócios com o exterior, para que a motivação do setor produtivo de manufaturas ganhe competitividade. A rigor consideramos que a taxa de equilíbrio esteja no momento entre R$ 3,05 a R$ 3,10, mas com este patamar de preço não houve movimentação do empresariado buscando rever direcionamento de negócios para o exterior.

Os volumes de capitais especulativos que adentrarem o país serão sempre voláteis e de permanência curta para evitar riscos de perdas. Observe-se na atualidade que a variação positiva em reais da bolsa brasileira se revela negativa quando analisada em dólares. Mesmos cuidados devem ser observados pelos investidores em renda fixa.

O país ainda tem inúmeras incertezas em suas perspectivas e continua frágil e sem condições imediatas de dinamizar-se em linha de crescimento, sendo imperativo primeiro que se reorganize, portanto deverá piorar para depois melhorar e esta é a projeção mais sensata.

A tendência do dólar é ter o seu preço entre R$ 3,05 a R$ 3,10, com a possibilidade de uma alta maior pontual e ao final do ano em torno de R$ 3,20.

Haverá problemas e ruídos em torno dos Estados Unidos, Europa, Japão, China, etc... mas o problema do Brasil é efetivamente o Brasil, e este deve ser o foco.

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