O dólar registrou alta de 0,67% frente ao real fechando na sexta-feira em R$ 3,0408 sendo a justificativa mais aceita o aumento da probabilidade de aumento do juro americano no curto prazo.
Tal hipótese se funda no fato de que apurado o CPI, o núcleo dos preços, excluídos alimentos e energia, revelou elevação para 1,8%, o maior desde outubro, e este é um fator que poderá levar o FED a promover a alta do juro mais imediatamente.
Por outro lado, quando se observa que o dólar sucumbiu na sexta-feira ante o euro e o iene japonês, há o indicativo de que o fundamento é a baixa probabilidade de que a taxa de juro americana não deverá ocorrer de forma tão rápida.
Temos presente duas reações considerando o mesmo fato, portanto um contraditório entre as percepções nos países emergentes e dos países da União Europeia e Japão.
A União Europeia e o Japão seriam os grandes beneficiários de uma eventual alta do dólar, por isto o sentimento que emitiram nos parece mais coerente com a realidade. Temos reportado frequentemente nos posts que entendemos que aos Estados Unidos não interessa uma elevação do juro tão imediata, obviamente isto jogaria por terra o avanço da atividade econômica conquistada pois o país perderia competitividade nas exportações e aumentaria a tendência a importar. A União Europeia e o Japão que desenvolvem programas de intensa liquidez objetivam que suas moedas se desvalorizem, mas certamente sabem que os Estados Unidos tentará conter a elevação do dólar, por isso tem uma visão mais cética a respeito da mudança a ser promovida pelo FED.
Já os países emergentes, principalmente os mais frágeis como o Brasil, vivem em desassossego pois observam primeiro o impacto imediato que a mudança no trato do juro por parte do FED causaria em promover os deslocamentos dos capitais estrangeiros, em especial especulativos, afetando suas contas externas e capacidade de financiamentos de déficits em transações correntes. Não têm a mesma visão da União Europeia e nem do Japão e então se sujeitam a volatilidade do medo e não conseguem colocar suas moedas em preços equilibrados para viabilizar de forma eficiente o incremento dos seus negócios no mercado externo.
Desta forma fica difícil para as empresas alinharem seus esforços visando as exportações, o foco passa a ser o impacto sobre a inflação e sobre os preços da economia, provocando então a alta do juro, desestimulante ao investimento que é fundamental, já que precisam aumentar a produtividade.
Por isso, a formação do preço da moeda americana no Brasil não pode ousar seguir rigorosamente os movimentos induzidos por noticias americanas sem que tenha conseguido ainda estabelecer o seu preço de equilíbrio efetivo. Seja a alta pelos receios imediatos, seja a baixa porque estes receios se fazem menores.
Dada esta insegurança e não consideração do que efetivamente poderá acontecer, visto que não só números positivos que definirão a decisão do FED, ocorre a má formação do preço do dólar no nosso mercado local, com volatilidade inoportuna.
O que justifica a oscilação entre a quinta e a sexta, sendo que tentou buscar o preço de R$ 3,00 e no dia seguinte R$ 3,05. Mudou algo por aqui que justificasse isto, evidentemente que não, mas interpretamos os números americanos “com medo” e perdemos a percepção de que há um conjunto de fatores que devem coincidir para que o juro americano seja elevado, e que o principal de todos é a vontade, que neste momento é baixa pelos danos que causaria à economia americana.
Temos então o “status” do Brasil que sugere um preço em torno de R$ 3,10 como equilibrado neste momento ancorado na nossa realidade e nos riscos de curto prazo e temos fatores externos que não se resumem a um ou outro numero mas que devem ir além em suas considerações, para então ocorrer mutações fundamentadas.
A volatilidade só interessa a quem especula, a quem deseja fazer negócios interessa que tenhamos um preço fundamentado na realidade presente e que permita intensificar a atividade econômica só atrapalha e contrai a dinamização.
Quando o mercado se afasta dos fundamentos e entra no emocional está a serviço da especulação e por isto erra por indução atrapalhando a atividade produtiva.
Precisamos entender que o país está se reconstruindo, ajustando seus erros de gestão dos últimos anos, então precisamos fazer a lição de casa com rigor e não agirmos como um país em condições normais, e mesmo assim nunca fomos protagonistas no mercado internacional.
Temos problemas com as contas externas que mais uma vez neste ano não conseguirá ser financiada na sua totalidade tendo em vista a baixa atratividade de recursos externos e do desempenho liquido fraco da balança comercial.
A inflação objeto de discursos frequentes de que irá retroceder continua firme na tendência de alta. O IPCA-15 de abril foi elevado atingindo 1,07% e acumula em 12 meses 8,22%.
O governo ja sanciona projeção de inflação alta e um crescimento negativo do PIB, admitindo a visão geral que se tem sobre estes indicadores. Admite que o superávit primário, mas não será tarefa fácil.
Os efeitos consequentes do forte ajuste estão por vir de forma intensa acentuando a contração da atividade econômica. O emprego industrial cedeu 0,5% em fevereiro, mas este é só um inicio pois deve se propagar pelo comércio, setor de serviços, etc... Com isto ocorre a queda da renda, com as classes mais baixas devolvendo os benefícios que tiveram com a conduta irrealista antecedente da política econômica.
O Ministro Levy anunciou ontem que, finalmente, em maio o governo propagará um programa de concessões focando a infraestrutura. Este é no nosso entendimento o nicho que poderá atrair grande monta de investimentos para o país num momento em que desperta baixa atratividade, mas é imperativo que a tramitação dos processos sofra um choque de desburocratização e sugira remuneração adequada e atraente para os investidores.
O Brasil ainda precisa manter firme o foco na correção de rumos de sua economia, onde se inclui o preço da moeda americana, para depois voltar a se alinhar com as tendências mundiais.
Refletir movimentos de concorrência comercial através preço de moedas antes de ter ajustado adequadamente a sua, ou seja o real, é um erro de precipitação.
Portanto, idealmente o preço da moeda americana deveria situar-se em torno de R$ 3,10, com menor receio da mudança do juro nos Estados Unidos, visto que o mesmo tem todo interesse em protelar esta decisão em prol de seus próprios interesses.