Uma semana que parece não ter existido para o açúcar tamanha foi a falta de entusiasmo verificada nos pregões do mercado futuro da commodity em NY. O contrato futuro com vencimento para julho/2019 encerrou a sessão de sexta-feira negociado a 12.22 centavos de dólar por libra-peso, uma expressiva queda de 53 pontos na semana, pouco mais de 11.50 dólares por tonelada. O volume de contratos negociados na semana também caiu 42% dando uma ideia do comportamento anêmico dos participantes.
O valor do fechamento do açúcar convertido em reais por tonelada pela taxa de câmbio publicada pelo BC apura R$ 1,073 por tonelada FOB uma queda de mais de 5% em relação ao valor em reais por tonelada da semana anterior. Esses níveis de preço na moeda brasileira afastam as usinas do desejo de fixarem seus açúcares e alimenta fortemente a vontade de rolar suas fixações com vencimento em julho para o mês de outubro aproveitando a taxa de carrego que está próxima de 8.50% ao ano.
Aparentemente só a Tailândia se atreveu a fixar seus compromissos de exportação chegando a oferecer quase 5,000 lotes para venda no pregão de sexta-feira que devem ter acionado os algoritmos e negociadores de alta frequência e ajudaram a derrubar o mercado, atingindo vendas stops (uma venda colocada abaixo do nível de mercado que, quando acionada, visa estancar/limitar/mitigar um prejuízo). O mercado deslizou e encerrou o pregão no ponto mais baixo em 11 pregões.
No físico, acreditamos que o mercado de NY, em especial o vencimento do contrato julho/2019, que expira na semana que vem, reflete a possibilidade de entrega física de açúcar não desejado, proveniente da América Central e, por consequência, traz instabilidade nas cotações. Ao nosso ver, o preço justo do açúcar para o final de junho seria 60 pontos melhor do que está negociando agora. No entanto, a distorção vem de duas frentes: a condução firme dos fundos, que ainda dão as cartas e interferem na trajetória de preços com sua admirável posição vendida de mais de 100,000 contratos; o volume de açúcar de origens não desejadas que deve ser entregue na expiração de sexta-feira próxima.
O consumo de combustíveis Ciclo Otto no primeiro quadrimestre de 2019, dados da ANP, foi de 17,405 bilhões de litros, um crescimento tímido de apenas 1.08% em relação ao mesmo período do ano anterior. No entanto, analisando a curva de 9 anos, de 2010 até hoje, o crescimento anual apresenta variação de 3.5%. Se por acaso o consumo crescesse nos próximos anos nesse ritmo de 3.5%, não há cana suficiente para atender à demanda de etanol para o consumidor direto (hidratado) e para a mistura com a gasolina (anidro). O setor precisa expandir, mas falta investimentos e segurança jurídica por parte do investidor estrangeiro. A aprovação da reforma da previdência pode melhorar essa percepção.
Segundo levantamento da Archer Consulting, o preço da gasolina na bomba está em linha com o preço do mercado internacional, com um ágio pequeno de 2.4%.
As exportações de açúcar nos últimos doze meses (de junho de 2018 até maio de 2019) alcançaram 19,768 milhões de toneladas uma queda expressiva de 26.5% em relação ao mesmo período do ano passado. O preço médio do açúcar exportado nesse período foi de 291,44 dólares por tonelada, uma média de 12,69 centavos de dólar por libra-peso. Esse valor envolve açúcar bruto e açúcar branco. A média de NY no mesmo período foi de 12,12 centavos de dólar por libra-peso.
As exportações de etanol no período de junho de 2018 até maio de 2019 atingiram 1,778 bilhão de litros, 26.7% superior ao mesmo período do ano passado. O preço médio do etanol exportado nesse período foi de 507.18 dólares por metro cúbico. Se o Brasil mantiver esse volume para a safra corrente, teremos etanol suficiente para atender ao Norte/Nordeste, assumindo que a importação de etanol de milho está proibitiva?
A semana passada iniciou com mais um Ethanol Summit, um dos principais eventos do mundo voltados para as energias renováveis, particularmente o etanol e os produtos derivados da cana-de-açúcar. A UNICA lançou o primeiro em 2007 e o evento ocorre a cada dois anos. O nível dos painéis, como sempre, foi de altíssimo nível e a coordenação do jornalista William Waack é absolutamente primorosa. Pena que o local escolhido este ano (Centro Fecomércio de Eventos) não tivesse a estrutura adequada para o enorme número de participantes e expositores.