Chegamos à “super quarta-feira” e a postura é de cautela. Duas decisões são deliberadas hoje pelos bancos centrais brasileiro e americano, ambas refletindo momentos distintos.
No Brasil, a preocupação maior, além do atraso da vacinação e do açodamento político excessivo, é com o comportamento da inflação, o IPCA já acima de 8,0%, com riscos de “espalhamento” e inércia mais à frente. Nos EUA, é saber quando o Fed deve começar a sinalizar o início do “tapering”, qual seja, do processo de desmonte na política de compra de ativos.
No Banco Central brasileiro, objetivo agora é “fazer a maldade logo de uma vez”, com a puxada da Selic nestas reuniões do Copom de hoje, agosto e talvez setembro, para tentar trazer o IPCA ao centro da meta no ano que vem. Isso, inclusive, se reflete no comportamento do mercado de juro futuro, com as taxas curtas inclinadas e as longas estáveis ou em queda.
Achamos que o BACEN hoje, visando “ancorar as expectativas”, deve sancionar um ajuste de 0,75 ponto percentual na taxa Selic, a 4,25%, depois mais um, em agosto, a 5,0%, e mais um ou dois nas reuniões do Copom, dependendo do momento da economia, de como o ritmo de crescimento estará acontecendo no segundo semestre, do comportamento da inflação, etc. É objetivo da autoridade monetária trazer o IPCA para o centro da meta no ano que vem (3,5%).
Uma preocupação será a crise hídrica, ainda mais com a possível revisão das faixas de reajuste da tarifa de energia “na bandeira 2”, com previsões acima de 20%, o que deve gerar um choque nos preços administrativos neste ano. Isso deve levar alguma inércia nos índices de preço em 2022, principal objetivo do BACEN neste momento, dada que a inflação de 2021 já parece dada, devendo ficar acima de 5,5%. O mercado espera que os diretores do BACEN retirem do comunicado de hoje o termo “ajustamento parcial” para “completo”.
Nos EUA, a expectativa recai sobre se o Fed deve sinalizar o início do “tapering”, do processo de redução na compra de ativos, a ser anunciada agora ou no encontro anual de Jackson Holle em agosto ou na reunião do Fomc de setembro. Tudo dependerá do comportamento da inflação, em sintonia com o ritmo da economia. Em maio o PPI veio mais elevado, 0,8%, o que pode ser uma sinalização de que a pressão dos preços está mais disseminada.
Enquanto isso não se define, o real segue valorizado, já havendo os que apostam numa cotação abaixo do piso de R$ 5,00, em torno de R$ 4,60 a R$ 4,80.
Isso acontece por causa do “carry trade”, com os investidores retirando recursos dos mercados onde a taxa de juros é zerada para aplicar no Brasil. Acontece também por causa das captações externas de empresas nacionais, como a Light (SA:LIGT3), aproveitando este diferencial de juro, e também pelo bom desempenho da balança comercial, prevista acima de US$ 80 bilhões neste ano, puxada pela alta das commodities agrícolas e minerais.
Segundo o IIF, o “preço justo” do real frente ao dólar estaria em torno de R$ 4,50, levando em consideração os fundamentos das contas externas, considerando a moeda brasileira entre as melhores da América Latina, caso comparada com o peso mexicano e o chileno.
Nos mercados, ontem o dólar oscilou ao longo do dia para fechar ao fim em torno de R$ 5,0428, desvalorização de 0,55%, e a bolsa de valores cedeu 0,09%, fechando a 130.091 pontos, mesmo valorizando mais de 10% ao ano. Em NY, as bolsas americanas fecharam o dia em queda, DJ recuando 0,27%, S&P 500 -0,2% e Nasdaq 0,71%, todas de olho nas movimentações do Fed.
AGENDA – Atenção para mais novidades sobre a MP da Eletrobras (SA:ELET3) e o julgamento pela autonomia do BACEN na 6ª feira, além destas reuniões do Copom e do Fed nesta 4ª feira. A Comissão Especial da reforma administrativa discute nesta 4ª feira o cronograma de trabalho do relator, Arthur Maia. A CPI da Covid ouve o ex-governador do RJ Wilson Witzel (4ª feira), o empresário Carlos Wizard (5ª feira) e o representante da White Martins Paulo Baraúna (6ª feira). Do lado da inflação, saem o IGP-10 de junho (4ª feira) e as prévias do IPC-S (4ª feira), IPC-Fipe (5ª feira) e IGP-M (6ª feira).
Boa semana e bons negócios!