Escrever um texto sobre sustentabilidade perpassa necessariamente por elucidar alguns enganos do senso comum. Há a ideia do púlpito médio que aquele que se preocupa com sustentabilidade é visceral, exagerado, o estigma recria uma imagem completamente apartada do capitalismo.
A verdade é oposta: o princípio básico de um investimento é o lucro. Maximizar a riqueza, nesse contexto, trata-se de proteger-se contra riscos ambientais e sociais que podem ser perversos aos negócios e à sociedade. O preço justo regido pela demanda e pela oferta regulariam a utilidade dando força ao que melhor serve à sociedade. A falha nesse raciocínio não parece ser óbvia dado que as considerações podem ter diversos horizontes de tempos. O desejo momentâneo pode dar força utilitária a diversos produtos e serviços em longo prazo insustentáveis. O lucro no curto prazo pode não ser o melhor para uma empresa considerando seu princípio de perenidade, vezes, pode ser este, conflito de agência, e busca de resultados rápidos por parte do executivo. O que nem sempre se traduz em resultados duradouros ou consistentes, em outras palavras sustentáveis. Neste contexto, sustentabilidade não é mais para párias, mas para atentos que compreendem na interação social, retorno à sociedade, a real perenidade de uma empresa. Se parece bom como atalho matemático ao investidor ir direto ao lucro, a verdade tem se mostrado oposta.
Investimentos responsáveis, uma questão de coerência talvez, em que cada vez mais aprendemos que as preocupações em relação aos impactos sociais, de ambiente e de governança refletem diretamente no resultado da empresa e que empresas preocupadas com estas questões tendem, na realidade, a buscar maior eficiência e o estabelecimento de relações sólidas e duradouras com os stakeholders, o que está diretamente associado ao sucesso e rentabilidade.
Alguns exemplos diretos e recentes são a Petrobras (SA:PETR4) e a Vale do Rio Doce. A Petrobras teve alta rentabilidade ao inserir governança associada a two tier board, especialmente sem influência governamental, chegando a mais de 600% no 4º trimestre do que em trimestre anterior. Após a influência da presidência da república em troca de seu presidente, aparentemente em busca de satisfazer as necessidades do governo, avalanches de retiradas e vendas dão continuidade a um já conhecido show de horrores. No dia 23/02 de 2021, Petrobras tem sua segunda pior queda histórica, de 21,51% em um mesmo dia.
Antes da Petrobras e da COVID-19, a Vale do Rio Doce (SA:VALE3)) dá a maior aula de governança e ESG da bolsa brasileira. Apresentava a maior queda histórica da B3, de 24,5%, no dia 28/01 de 2019, após a queda da barragem de Brumadinho. Fatalidade ou negligência das questões ambientais, o principal é como seria barato se tivesse sido evitado. O prejuízo financeiro, sem contar a perda de vidas, poderia ser até 40 vezes maior que o investimento em sustentabilidade, de acordo com aproximação e estimativas baseadas em opinião. Fica claro que considerar os aspectos de ESG é principalmente respeito ao seu rico dinheiro. No efeito direto vidas seriam poupadas, assim como reputação da empresa e inclusive sua função social.
No mundo percebemos uma atenção cada vez maior ao ESG. Com a migração do capital entre as gerações é esperado a injeção de até 30 trilhões de dólares em investimentos da categoria. A maioria dos investidores profissionais no Canadá consideram o ESG como parte de suas práticas. A atenção é dada principalmente por investidores institucionais e com alto patrimônio, de acordo com o UnPRI( Principle of Responsible Investment).
Fim ou meio para a lucratividade o presidente dos EUA, Joe Biden, recentemente teve aprovado pelo congresso americano investimentos na casa de 1,9 trilhões de dólares na economia, estes incorporando os fundamentos ESG, dado as já declaradas intenções políticas. Essa injeção de liquidez é uma das maiores da história.
Há hoje infinitos argumentos basilares à tese. E investir em ESG não significa deixar de investir em um setor. Um tipo de investimento positive screening pode dar-se através do tipo best-in-class, que significa especificamente que dado a um determinado setor, entre aqueles que representam melhores possibilidades de retorno é dado preferência a aqueles com maiores rankeamentos ESG. O lucro, novamente, associado à competência e apoiado no intuito correto.
O raciocínio principal do ESG é de triple bottom line. Em outras palavras People, Planet and Profit. Não apenas considerar o lucro, também o planeta e as pessoas, traduzindo sustentabilidade. Além deste temos a lógica, empresas que atendem as qualidades necessárias para se manter no mercado e ainda possuem idoneidade, sistemas adequados de atuação junto a reguladores, aos funcionários e a demais stakeholders, possuem quantidade muito menor de turnover de funcionários, custos jurídicos e legais, entre outros. Este fato não se dá apenas pela busca e pelo foco em atender as necessidades globais, mas destaca a capacidade e eficiência das mesmas, cruciais ao lucro. Componentes das razões de geração de receita e redução das despesas.
A economia e o mercado já provaram o que acontece com as empresas que não se atualizam, e este será o fim das empresas que são predatórias. Sua eficiência será cada vez mais questionada. A exemplo das empresas que insistiram nas maquinas fotográficas analógicas, nós sabemos que o celular é uma realidade mundial. O foco no curto prazo pode prejudicar a avaliação.
Da urgência aos fatores climáticos, o aumento da temperatura global acima de 1,5 graus celsius pode ter consequências não apenas desastrosas mas permanentes. Não estamos tratando de um aumento de temperatura mas de um aumento cumulativo que primeiramente já aumentou drasticamente a temperatura dos oceanos e os danos serão irreparáveis. As funções de ecossistemas associadas à vida estão sendo comprometidas. Após o aumento da temperatura nos oceanos têm-se na atmosfera, este é o risco maior, desequilíbrios constantes com efeitos cada vez intensificados. A redução da emissão de CO2 na atmosfera é possível e hoje é popular engrenar em atividades sustentáveis, que têm relação direta à vontade e interesses econômicos, e não mais a lucro ou vantagem de eficiência. Estes assuntos não são mais secundários mas principais. Ilustram como estamos em um caminho apenas de ida.
ESG - Representado por Environmental, Social and Governance ou ASG - Ambiental, Social e Governança é hoje o que tem de mais moderno e eficiente, a consideração das ações, resultados e consequências. Sendo cada vez mais adotado nos países desenvolvidos, tem sido implementados no Brasil, e de forma inicial já está sendo parte das considerações das regulações Brasileiras do Mercado de Capitais através de ações pioneiras da CVM e Anbima. Sendo abraçado por diversas casas de gestão e entidades do mercado. Logo deixaram de ser mistificados para serem essenciais.
Espero que esteja claro que investimentos em ESG não são apenas Agro ou Energias Sustentáveis, mas si, em todos os diversos setores, geridos com a devida eficiência, considerando não apenas os shareholders mas os diversos stakeholders de seu ecossistema. A questão aqui não é como retirar o lucro, mas como o potencializar incluindo o social, a governança e o ambiental, em suma, responsáveis.
Um novo grau de maturidade, necessário para o lucro. Responsable Investment.