O contrato futuro de açúcar em NY com vencimento em março 2018 encerrou a semana cotado a 13.67 centavos de dólar por libra-peso, uma pequena alta semanal de 4 pontos, após tentar sem sucesso negociar acima dos 14 centavos de dólar por libra-peso por algumas vezes. O tom baixista das conversas durante o Congresso de Açúcar de Dubai ocorrido na semana passada trouxe ainda mais desânimo e desespero, principalmente para aquelas usinas que ainda possuíam (ou possuem) fixações de preço pendentes para o vencimento março.
Ouviu-se praticamente de tudo durante o Congresso dos Ursos, como maldosamente o classificou um dos participantes sob sigilo; que o mercado pode ir para 11 centavos de dólar por libra-peso ou até mesmo 9 centavos, segundo confirmou um corretor de futuros. E alguns traders, naquelas paragens, disseram estimar que o custo de produção do açúcar no Brasil é de 11 centavos de dólar por libra-peso, sem custo financeiro !!! Uma história das Arábias. Talvez fosse o caso de evocar o grande escritor Malba Tahan, autor de “O Homem Que Calculava” para tentar nos explicar como se chega nesses 11 centavos de dólar por libra-peso de custo de produção.
O cenário macro mundial muda o pano de fundo para cores mais sombrias enquanto assiste à queda do mercado acionário em todo o globo alimentada pela possibilidade de um aumento dos juros americanos e, claro, pela consequente aversão aos ativos de risco. Não é por acaso que no acumulado da semana, as commodities apresentaram um desempenho extremamente negativo lideradas por gás natural (12.36%), diesel (10%) e açúcar (10%).
No açúcar, seguindo rigorosamente a linha do que comentamos aqui na semana passada, os fundos não têm pressa para liquidar suas posições vendidas até mesmo porque nas vezes que NY tentou romper a dramática barreiras dos 14 centavos de dólar por libra-peso, uma enxurrada de fixações da origem apareceu com apetite voraz. Esse vai ser um jogo que demandará muita paciência e determinação para aqueles que buscam fixações a níveis melhores do que os atuais.
Independentemente do cenário inquestionavelmente baixista, a pergunta que se impõe aos traders no momento é quão baixista ainda podemos ser a 13.50 centavos? Mercados fogem do racional e a tendência é que sejamos influenciados pelo ambiente de nuvens carregadas. Não é raro, portanto, que nos tornemos mais altistas num mercado em alta e mais baixistas num mercado em baixa, por isso a conversa em Dubai sobre 9 centavos soa natural para quem está vendo o mercado desabando desde o início do ano sob o mesmíssimo quadro fundamentalista.
Só para lembrar que no Sugar Dinner de NY, em maio de 2010, o mercado negociava a 13.00 centavos de dólar por libra-peso e alguns gurus de plantão, munidos do cajado que faz abrir os mares, determinavam que o Hades se aproximava e iríamos céleres e inexoravelmente para os 10 centavos e quiçá negociaríamos a um dígito. Seis meses depois NY estava acima de 32 centavos de dólar por libra-peso.
Da mesma forma que tem gente que compra bitcoin a 15,000 dólares porque acha que o céu é o limite e bate palma para o Sol, tem gente que vende açúcar a 13,50 centavos de dólar por libra-peso porque acha que não tem chão para parar essa sangria. Em ambos os exemplos ganha dinheiro quem retira o componente passional da análise para tomada de decisão.
580 milhões de toneladas de cana, número da safra de cana da Archer Consulting para o Centro-Sul para 2018/2019 é quase consensual no mercado. Assim como o mix em 41.4% para açúcar encontra mais simpatizantes, embora muitas usinas acreditam que a tendência desse mix é ainda menor. O fato preocupante é que o Brasil corre seriamente o risco de ter reduzida sua disponibilidade de açúcar em 6 milhões de toneladas em relação à safra anterior. Ah, mas em Dubai falou-se de superávits mundial entre 500 mil e 11 milhões de toneladas. Pois é.
Quanto o Brasil vai (ou pode) exportar de açúcar para 2018/2019? O acumulado no ano de 2017 chegou a 28.9 milhões de toneladas (desde setembro de 2016 que o acumulado de doze meses é superior a 28 milhões de toneladas). Para que a conta feche este ano, a redução terá que ser substancial uma vez que estamos estagnados em termos de produção de cana e produção de sacarose desde 2010/2011. Este é o primeiro ano em que o preço do petróleo entra como importante componente na formação de preço do etanol e seus efeitos no açúcar para fins de arbitragem e decisão de mix. Vai ser um ano de aprendizado
O crescimento previsto da economia brasileira para 2018, usando os números da MB Associados, de 3.5% deve elevar o consumo de combustíveis ciclo Otto em 6%. Ora, o consumo de combustíveis no período abril/dezembro de 2017, segundo a ANP, foi de 40.5 bilhões de litros o que nos leva a estimar que 2017/2018 (abril a março) fecha com 53.8 bilhões de litros. Se aplicarmos o crescimento potencial previsto acima, 2018/2019 pode demandar adicionais 3.2 bilhões de litros de combustíveis que – considerando que o etanol representa 40 % na matriz – significa 1.3 bilhão de litros de etanol equivalentes a dois milhões toneladas de açúcar. Vai somando….
O custo médio de produção de açúcar no Centro-Sul, não considerando depreciação nem custo financeiro está em torno de R$ 42.00 por saca posto Usina. Usando um frete médio até o porto de R$ 110 por tonelada, uma elevação de US$ 10.50 e a taxa de câmbio a R$ 3,3000 chegamos a 13.00 centavos de dólar por libra-peso.
Tomando por base nossa estimativa da curva de petróleo e do câmbio para os próximos seis meses e seus efeitos na formação de preço do hidratado, NY vai precisar negociar na média de 15.50 centavos de dólar por libra-peso para que o Centro-Sul comece a pensar em mudar o mix atual de 41.4% de açúcar. Ou seja, um aumento de mais de 13%. Vai ser uma ano interessante.
É com enorme tristeza que noticio o falecimento do amigo Paulo Leuzinger, sábado passado no Rio de Janeiro. Paulo era um gentleman na mais completa acepção da palavra. Foi durante muitos anos presidente da Tate & Lyle do Brasil, empresa para a qual dedicou 42 anos de sua exitosa vida profissional. Era um grande amigo, conhecedor do mercado de açúcar como poucos e dono de um humor absolutamente inteligente e delicioso. Lutava bravamente há alguns meses contra um câncer no peritônio. Na última vez que falamos ao telefone ele, aborrecido por ter que cancelar um jantar comigo devido ao tratamento a que se submetia, me confortou: “isso vai passar, meu amigo, você já está convidado para a minha festa de 100 anos”. Vai fazer muita falta.