O último final de semana embutiu noticiário internacional positivo para os mercados de risco em todo o mundo, e as aberturas do mercado em dezembro não deixaram a desejar. Isso depois de o mercado americano ter subido na semana passada 5,16% no Dow Jones e 5,65% no Nasdaq. No Brasil, na semana de 26 a 30 de novembro, a Bovespa observou alta de 3,80% e o dólar alta de 1,05%.
Dois motivos básicos para explicar o otimismo dos investidores: de um lado, o encontro de Donald Trump com Xi Jinping, presidente da China, e de outro, notícias sobre o petróleo. No que tange ao petróleo, Putin concordou com postura da OPEP de acordar redução da oferta de óleo no mercado internacional, no que deve ser acompanhado pela Arábia Saudita. O Canadá está cortando a produção de uma de suas áreas em mais de 8%. Com isso, oferta e demanda devem se equilibrar e reduzir a volatilidade de preços que anda enorme nos últimos tempos e com forte queda.
No jantar entre Trump e Xi Jinping, ficou acordado que haverá uma trégua de aplicação de tarifas pelo prazo de 90 dias, enquanto comitivas dos dois países discutem os termos do acordo. Segundo ambos os presidentes, o encontro foi muito positivo, mas as discussões de técnicos deve ser muito dura. De imediato, Xi se mostrou propenso à abertura de sua economia e a comprar produtos agrícolas dos EUA, ao mesmo tempo em que deixaria de tributar automóveis provenientes do país (EUA).
Convém lembrar que a China tem feito superávits mensais contra os EUA da ordem de US$ 30 bilhões, sendo esse o grande problema de Trump: o desequilíbrio comercial. Porém, não é só isso que move o presidente americano que acusa historicamente a China de roubo de propriedade intelectual, dentro de um problema maior que seria a hegemonia tecnológica. Que a China tem conseguido encurtar o gap.
Portanto, diante disso, 90 dias de prazo parece ser exíguo para formatar um acordo que seja bom para os dois lados. Mas não importa, no curto prazo os mercados reagiram muito bem ao fato, apesar de em nossa avaliação não retirar a volatilidade. No que tange ao Brasil, de imediato poderíamos sofrer com compras de produtos agrícolas produzidos nos EUA, em especial a soja e carnes. Certamente, os países emergentes fornecedores de insumos irão sentir o impacto da China comprando mais dos EUA.
Claro que isso acaba tendo efeito sobre o equilíbrio entre as moedas e a tendência é de fortalecimento do dólar no mercado internacional, em detrimento de outras moedas, especialmente de emergentes e desequilibrados em suas finanças públicas e empresas endividadas em moedas fortes.
A conversa de Trump e Xi Jinping, junto com a declaração do G-20 sobre protecionismo, tem que ser comemorada, mas há que se ter prudência na avaliação dos efeitos sobre as diferentes economias. O mundo globalizado agradece a distensão comercial que poderá advir, mas lembramos que o mundo tem outros problemas igualmente importantes para serem resolvido, como o Brexit, o orçamento deficitário e fragilidade do sistema financeiro italiano. Além do estreitamento da liquidez internacional por elevação de juros e redução do tamanho dos balanços dos bancos centrais.
Internamente, a equipe de Bolsonaro ainda terá que demonstrar quais serão as prioridades de reformas do governo, que celeridade pretendem imprimir, qual a base de apoio que contarão no Congresso e como a sociedade absorverá o choque liberal da nova equipe econômica. Assim, podemos sim colocar as velas ao vento, mas com bom grau de prudência.