Por enquanto, com tantas turbulências o dólar está subindo. O quanto o dólar vai cair ou subir nos próximos dias dependerá das tensões políticas, aprovação da reforma tributária (indigesta tributação de dividendos), da inflação aqui no Brasil, que será impactada pela crise hídrica, do ritmo de retirada dos estímulos das economias dos EUA e da zona do euro, além da vacinação e da variante delta. Fundamento mesmo deveria ser a alta da taxa de juros aqui em relação ao juros praticado nos EUA atraindo fluxo, mas...Vou explicar melhor.
Com relação às tensões políticas, elas elevam o risco-país e desestimulam os investidores a “apostar” numa relativa tranqiilidade por aqui para seguirmos apenas a alta da taxa de juros, que a meu ver é a única coisa realmente consistente e certa para que o real aprecie e o câmbio do dólar caia. O fluxo cambial deve continuar crescente e positivo com o ciclo de alta da Selic, o real se apreciando, só que pode faltar fôlego para que se aprecie ainda mais por esse tipo de problema. Mas não deve acontecer tão já uma reversão deste movimento. A queda do dólar em junho foi de 4,82%. Terceira queda mensal consecutiva. Então os movimentos de “alta” me parecem pontuais.
A inflação assusta e a alta de preços da energia elétrica vai impactar sim e não será pouco, tanto no IPCA quanto nas projeções de PIB que já devem estar sendo revisadas pelos economistas.
Agora, batendo mais uma vez na tecla da retirada de estímulos das economias americana e europeia, a questão é a seguinte: na Europa, parece que há um consenso em ainda deixar de lado isso até que haja realmente uma retomada mais consistente, mas nos EUA os membros do Fed. estão bem divididos. A cada discurso vemos vertentes diferentes, uns dizem que deve ser antecipada a retirada de estímulos, enquanto outros defendem a ideia de que isso seja feito somente quando os empregos retomarem um ritmo melhor. Mas cá entre nós, com esses auxílios “gordos” e o temor da variante delta, me parece que o trabalhador americano está relativamente confortável em não buscar emprego e viver com esse valor até quando o governo permitir.
Dólar Ptax
Para não deixar o leitor sem explicação sobre a Ptax de 30/6, quando me referi ao câmbio subir, isso ocorre sempre até o horário da divulgação da Ptax e se estende normalmente um pouco mais, mas a tarde cai e se adequa ao cenário de notícias e dados. Fato é que quem “puxa” mais forte o dólar em dia de Ptax do mês é a pressão dos comprados que fez o dólar chegar a bater R$ 5,022 na referida data.
Indicadores Econômicos
Ontem, saiu dados da balança comercial brasileira registrando o boom das commodities e o superávit mensal de US$ 10,372 bilhões em junho ante US$ 9,30 bilhões em maio, apesar de um pouco abaixo da projeção de 10,70 bilhões. No mês, as exportações somaram US$ 28,104 bilhões, enquanto as importações foram de US$ 17,732 bilhões. Nos dois casos, um aumento de 61% sobre os fluxos registrados em junho do ano passado, quando a balança foi superavitária em US$ 6,5 bilhões.
A taxa de desemprego estável no patamar de 14,7% é bem ruim mesmo, mas o Caged mostrou a criação de 280.666 vagas de trabalho com carteira assinada, e isso é o maior saldo para um mês de maio desde 2011. Vamos acreditar na recuperação da nossa economia, afinal a vacinação está acelerada aqui e o ritmo do contágio diminuindo.
Pelo lado da inflação, o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) teve alta de 0,64% em junho, depois de subir 0,81% em maio, com os preços de Habitação apresentando decréscimo na taxa de variação.
Ontem, saiu o número de pedidos novos de seguro-desemprego nos EUA, fortalecendo os sinais de que o mercado de trabalho americano continua em franca recuperação. O total de novos pedidos de seguro-desemprego foi de 364 mil na semana passada, encerrada em 26 de junho, numa queda de 51 mil solicitações em relação à semana imediatamente anterior. O resultado veio melhor do que o esperado, um dia antes da divulgação do “payroll” de junho que será hoje.
Na Alemanha, o PMI industrial subiu um junho com 65,1 pontos, enquanto o PMI da China caiu para 50,9 pontos. No Brasil, o PMI industrial subiu para 56,4 pontos. Este PMI brasileiro merece alguns comentários: o resultado positivo de junho se deve a um aumento mais intenso nas vendas, sustentando expansões mais rápidas na produção, compra de insumos e índice de emprego.
A confiança nos negócios também se fortaleceu no decorrer do ano. Com o fortalecimento da demanda, a entrada de novos negócios aumentou pelo segundo mês consecutivo, sobretudo no segmento de exportação. As vendas internacionais aumentaram pelo quinto mês consecutivo, em ritmo acelerado, em razão da retomada da atividade normal no exterior e da oferta escassa em outros lugares. Ressalve-se que a recuperação do setor de serviços continua ocorrendo de forma heterogênea, com os segmentos de serviços prestados às famílias avançando mais lentamente e sob influência ainda preponderante das expectativas.
Enquanto o governo dos Estados Unidos e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) anunciaram ontem um acordo com 130 países por uma alíquota mínima para um imposto global corporativo.
Reforma tributária e dólar ontem
Ontem, tensão no mercado financeiro por causa de tudo que falei anteriormente aqui e pela fala novamente de Paulo Guedes sobre a proposta de tributar os dividendos distribuídos aos acionistas em 20%: o ministro disse que o governo tem certeza de que está no caminho certo. Segundo Guedes, com a não tributação dos rendimentos de capital, apenas 20 mil pessoas receberam 280 bilhões de reais em isenções, o que ele disse considerar inaceitável em um país desigual como o Brasil.
Também colocaram como condição desta reforma que a definição do valor médio do novo Bolsa Família dependerá dos rumos da reforma. O governo adotou como estratégia usar o ganho de arrecadação de medidas como a tributação de lucros e dividendos para servir de fonte de financiamento permanente para a ampliação do programa social. Por isso, uma eventual redução na alíquota proposta, de 20% para 15% como querem empresários e congressistas, poderia afetar o valor médio a ser pago aos beneficiários.
Na máxima, a cotação do dólar chegou a R$ 5,0515, mostrando o mau humor do mercado. Na mínima de manhã estava R$ 4,9475. Muita volatilidade mesmo.
Agenda
E o calendário de hoje nos mostrará no Brasil IPC-FIPE de junho e a produção industrial de maio, nos EUA o payroll (relatório de emprego não agrícola) e taxa de desemprego de junho. Dados estes bastante esperados pelo mercado para tentar saber o ritmo da retirada de estímulos da economia americana.