Passada a euforia após as medidas econômicas tomadas ao longo do mês de setembro, especialmente pelos governos da Europa e EUA, parece que o mercado não se animou tanto quanto se esperava e o que se viu na sequencia foi novamente um mercado marcado pelo ‘marasmo‘, como se continuassem em compasso de espera por algum evento maior.
As análises econômicas e perspectivas continuam ancoradas em quatro pilares: Europa, EUA, China e, obviamente, Brasil. A Europa e a crise na zona do Euro continuam sendo o principal gargalo para o crescimento das demais economias do mundo.
Apesar de não se acreditar mais em uma ruptura, com a possível saída de algum dos países, parece que o cenário de baixo crescimento por um longo período de tempo ainda não estimulou os investidores a tomarem mais risco em suas operações.
Nos EUA, após o QE3, que injetou dinheiro na economia através da compra de títulos imobiliários, o receio agora é com o fiscal Cliff (ou abismo fiscal em tradução literal).
O termo vem sendo utilizado para descrever dois eventos que serão discutidos no fim de 2012: o vencimento de uma série de incentivos fiscais em vigor desde 2001 e uma elevada redução de gastos do governo. Como todas as vezes que decisões econômicas ficam nas mãos de políticos, o evento promete muita volatilidade e incerteza aos mercados.
A notícia boa em relação aos mercados internacionais fica por conta da China. De acordo com Ezra M. Safra, gestor da M. Safra, parece que a redução do crescimento encontrou o piso, ou ‘botton’ como se costuma dizer no mercado e, a partir de agora, deve se voltar mais para o consumo interno, o que vai lhe permitir manter taxas de crescimento por volta de 7,5% ao ano.
Além disso, por lá, teremos em breve a mudança de governo e, como cita Luiz Carlos Mendonça de Barros, da Quest Investimentos, ao fim de um mandato costuma-se tomar todas as medidas, amigáveis ou não, para arrumar a casa para o próximo mandato.
No Brasil, parece que o governo continua fortemente comprometido com medidas de estímulo a economia, especialmente com vistas a estimular o investimento privado.
Conforme observado por Guilherme Figueiredo, gestor da M. Safra, as medidas são extremamente positivas e oportunas mas, caso não haja um efetivo investimento em infraestrutura, isto pode se transformar em um ‘voo de galinha’, utilizando uma expressão do mercado que caracteriza uma arrancada sem fundamentos que não se perpetua.
Em relação aos investimentos, encontramos a maior certeza: cada vez mais se consolida o cenário de juros baixos em que a obtenção de ganhos reais vai exigir conhecimento e assunção de riscos. Como os investidores estrangeiros ainda não se animaram (ou seja, não trouxeram liquidez), o mercado de bolsa continua sem oferecer grandes oportunidades.
Ainda vemos um grande potencial para este mercado mas, em geral, os riscos inerentes ainda não compensam os possíveis retornos. Desta forma continuamos acreditando fortemente nos fundos de investimento com estratégia multimercado, especialmente os que buscam retorno absoluto, independente dos índices de mercado.
Deve-se chamar atenção para os investimentos em fundos imobiliários que, com este novo cenário, viraram a nova febre do mercado.
Primeiramente deve-se ter muito cuidado com a valorização passada das cotas, argumento fortemente utilizado pelos agentes de venda. Em boa parte esta valorização foi decorrente do balizamento dos dividendos pagos à taxa SELIC.
Outro ponto importante é que os fundos pagam dividendos mensais, portanto se torna um produto adequado para quem precisa de renda, não para quem quer acumular patrimônio.
E por último e mais importante, como chama atenção Adalbero Cavalcantti, da RB Capital, comprando um fundo você está comprando uma parcela de um imóvel, portanto, da mesma forma que se faz ao comprar um imóvel você deve conhecer muito bem o que está comprando e, especialmente, julgar se aquele empreendimento lhe interessa.
Alexandre Amorim é Consultor de Valores Mobiliários Autorizado pela CVM, Analista de Investimentos com certificação CNPI-T e sócio da Par Mais Planejamento Financeiro.