À Moda da Casa?

Publicado 23.05.2017, 09:36
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O governo vai ganhando sobrevida, após a decisão da defesa do presidente de recuar no pedido de suspensão do inquérito na esteira do anúncio do Supremo Tribunal Federal (STF) de adiar o julgamento até receber a perícia da gravação feita pela JBS (SA:JBSS3). Com isso, Temer se esforça para estancar a crise e a base aliada tenta tocar a pauta de reformas no Congresso, como se não tivesse estourado uma bomba em Brasília na semana passada.

O presidente Michel Temer passará o dia reunido na capital federal em uma tentativa de mostrar que a vida segue na política brasileira. Ontem à noite, ele se reuniu com líderes de partidos aliados na casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e a agenda de encontros deve se manter hoje.

Enquanto isso, o Congresso tentará retomar as votações de matérias econômicas importantes, tendo ainda na fila 16 medidas provisórias (MPs) que podem expirar se não forem votadas até a semana que vem. Entre elas, está uma que trata do saque de contas inativas do FGTS e outra que criou a Secretaria-Geral da Presidência e garantiu a Moreira Franco, investigado na Lava Jato, o cargo de ministro, com foro privilegiado.

A estratégia é sinalizar à sociedade e ao mercado financeiro que, apesar da crise política, o governo ainda consegue aprovar as reformas. Hoje, o relator do projeto da pauta trabalhista no Senado deve apresentar o parecer sobre o assunto. Na Câmara, Maia deve apresentar o calendário de votação sobre as mudanças na aposentadoria.

Mas ainda é cedo para dizer como o mais recente drama político brasileiro vai se desenrolar, pois existem muitos cenários possíveis. Já nem se sabe mais se os dias do presidente Michel Temer estão mesmo contados nem como será a saída dele. Afinal, o presidente vai com tudo em busca da aprovação das reformas e, se conseguir passar as matérias, pode ser mais difícil tirá-lo do cargo.

Tudo indica que a crise deve se estender ao menos até o próximo dia 6 de junho. Nesta data, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) retoma o julgamento sobre a chapa Dilma-Temer, eleita em 2014, e a cassação pode ser uma solução “menos dolorosa” ao país. Em contrapartida, um novo processo de impeachment, em meio aos 14 pedidos já entregues, seria o “mais danoso”, mantendo a falta de clareza aos investidores.

De qualquer forma, a probabilidade de Temer não encerrar o mandato subiu para expressivos 70%, segundo uma consultoria internacional. Mas o momento exato sobre quando isso deve acontecer é a grande incógnita e a última coisa que o país precisa agora é de mais um período prolongado de incerteza política.

Há, ainda, outras questões importantes. E se o presidente Temer sair, quem o substitui? Os investigados Rodrigo Maia e Eunício Oliveira ou a presidente do STF Cármen Lúcia? Existe uma transição ordenada, via eleição indireta ou direta? E o que acontece com a atual equipe econômica? Na outra ponta, e se Temer ficar, haverá apoio político do Congresso para avançar com a agenda de reformas?

Dependendo de como tais eventos se desenvolveram, a temperatura dos negócios locais pode subir ou descer nos próximos dias. Por ora, a volatilidade tende a prevalecer e os investidores devem redobrar a cautela, à espera de respostas. Porém, para nenhuma das questões, há um consenso.

A expectativa era de que algum desfecho fosse dado pelo STF, mas o plenário não vai mais se reunir amanhã, prolongando o já inesgotável imbróglio político e mantendo o mercado em compasso de espera. É bom lembrar que, na conversa entre o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado com o senador Romero Jucá, a Corte faria parte de um "grande acordo nacional", a fim de "estancar a sangria".

Fora desse pacto, a Standard & Poor's afirmou hoje que pode reduzir a nota de risco de crédito do Brasil, devido à instabilidade política e à capacidade de Temer em permanecer no cargo, governando de forma suficiente e sustentável. A agência de classificação de risco alterou a perspectiva do rating soberano do país para negativa, o que significa a possibilidade de redução nos próximos meses.

Desse modo, parece bastante claro que, embora haja indicadores econômicos importantes no front doméstico e no ambiente internacional hoje, a atenção dos mercados continuará centrada na esfera política e nos desdobramentos da delação feita pelos executivos da JBS. Ainda assim, o grande destaque da agenda desta terça-feira é a prévia da inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA-15), às 9h.

A expectativa é de que o índice repita em maio a alta de 0,21% apurada em abril, mas registre o menor avanço para o mês desde o ano 2000. Já a inflação acumulada em 12 meses deve recuar a 3,73%, o que seria a menor taxa para o período desde julho de 2007, situando a inflação em níveis bem abaixo da meta de 4,5% estipulada para o ano.

Tal comportamento reforça a aposta de continuidade do processo de queda da taxa básica de juros na reunião deste mês do Banco Central. Mas após a eclosão da mais grave crise política, o mercado tem dúvidas quanto ao próximo passo a ser adotado em relação à Selic – se de manutenção do ritmo adotado em abril, de um ponto porcentual, ou se de diminuição da dose, para uma magnitude mais conservador, entre 0,75 e meio.

Ainda na agenda doméstica, às 10h30, sai a nota do setor externo em abril, que deve mostrar que o ajuste das contas externas prossegue, com a balança comercial desempenhando papel crucial. No exterior, destaque para os indicadores de atividade na Europa e nos Estados Unidos, além de número do setor imobiliário norte-americano.

Lá fora, o sinal positivo prevalece entre as bolsas europeias e entre os índices futuros em Nova York, após uma sessão indefinida na Ásia. Ainda assim, os investidores mostram menor propensão ao risco após o ataque terrorista que matou mais de 20 pessoas durante um show musical no Reino Unido. A libra esterlina perdia terreno para o dólar. Entre as divisas emergentes, o peso mexicano é abalado pela notícia da S&P sobre o Brasil.

Mas a moeda norte-americana é enfraquecida pelas notícias envolvendo o governo Trump, o que não dá fôlego às commodities. Relatos publicados no jornal Washington Post de que o presidente Donald Trump teria pedido a chefes dos serviços de inteligência nos Estados Unidos para negar publicamente qualquer relação entre a campanha dele e a Rússia elevam a expectativa pelo depoimento do ex-diretor do FBI James Comey, amanhã, no Congresso.

A dúvida é se tanto no Brasil quanto nos EUA as coisas vão mesmo acabar em pizza. A conferir.

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