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CHARGE: Café e açúcar em perigo após fortes geadas no Centro-Sul do Brasil

Publicado 03.08.2021, 15:01
Atualizado 03.08.2021, 15:36
© Investing.com
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Por Leandro Manzoni

Investing.com - O preço do seu cafezinho diário está subindo, mas não está ligado com a pandemia.

A região centro-sul do Brasil foi atingida por uma massa de ar polar com origem na Antártida semana passada, o que fez a temperatura desabar para até -6ºC, levando inclusive neve no extremo sul de um país sempre lembrado pelo clima tropical.

Os brasileiros sentiram a onda do frio, que acabou esquentando as operações de contratos futuros das chamadas “soft commodities” em Chicago, com a alta dos preços do café, do açúcar e do suco de laranja. Porque as regiões produtoras no país sofreram com fortes geadas, a terceira somente em julho, uma contraposição ao verão com temperaturas elevadas no Hemisfério Norte.

A oscilação dos preços dessas commodities neste período do ano não é novidade para os investidores. Julho é conhecido como “weather market”, quando os preços são influenciados pelas baixas temperaturas do inverno brasileiro. O Brasil é de longe o maior produtor de café e de suco de laranja concentrado, e o maior exportador internacional de açúcar.

No entanto, o frio desse ano foi mais intenso, especialmente na madrugada de 20 de julho, que surpreendeu os produtores brasileiros e os operadores em Chicago. O impacto das geadas foi maior para a produção de café, relembrando as perdas de 1994, ano do último evento climático congelante para o café brasileiro, segundo a Reuters. A Conab, a agência brasileira de fornecimento de alimentos, estima que mais de 10% da safra de café do próximo ano tenha sido afetada. Além disso, a colheita do açúcar foi revisada para baixo, queda de aproximadamente de 10% para 520 milhões toneladas.

Os preços do café atingiram, com isso, a máxima de 7 anos com um avanço acumulado de 12,68% e pico em US$ 215,20. Embora tenham apagado as altas dos últimos dias, o café ainda está 13% mais caro do que antes do início das geadas. Os preços do suco de laranja, apesar de atingir máxima de dois anos, estão de volta ao nível pré-geadas. Já os preços do açúcar não conseguiram atingir as máximas do ano, mas continua em uma tendência de alta e ainda está duas vezes maior que a mínima pandêmica de um ano atrás.

É importante ressaltar, no entanto, que a escalada dos preços não está relacionada com o volume da safra desse ano, pois a colheita dela já foi boa parte realizada. A especulação é com a safra do ano que vem, o que “mantém os contratos instáveis” na avaliação de Silas Brasileiro, presidente-executivo do Conselho Nacional do Café (CNC) e colunista do Investing.com Brasil. Ainda não há projeção das perdas totais, que deverá ser conhecida em até um mês.

Mas é provável que o frio intensifique a baixa produtividade do café, que também sofreu este ano com a forte seca no país, com risco de ter um volume baixo na safra de 2022 e até 2023 se os cafezais já podados após a safra de 2021 estiverem suscetíveis a uma poda mais radical chamada “recepa”, segundo a Reuters.

Apesar de o açúcar e o café terem sido o quarto e o nono produto mais exportado pelo Brasil no primeiro semestre de 2021, um recuo na produção e exportação não deve ter impacto relevante no Produto Interno Bruto (PIB), que foi de US$ 1,4 trilhão em 2020 – a não ser logicamente para a economia das regiões produtoras. O valor das exportações do café foi de US$ 3,5 bilhões e o do açúcar de US$ 2,7 bilhões, cuja somatória ficou bem abaixo do TOP 3 dos itens exportados: soja (US$ 24,8 bilhões), minério de ferro (US$ 19,8 bilhões) e petróleo bruto (US$ 14,7 bilhões).

Na verdade, a onda de frio é mais um fator negativo para a ascendente inflação brasileira, que já sofre com a crise de abastecimento de energia, alta do preço dos combustíveis e dos alimentos agrícolas devido à seca e à reabertura do setor de serviços após a vacinação contra a Covid-19. Relatório da XP Investimentos, maior corretora do Brasil, estima acréscimo de 0,1 ponto percentual para a inflação oficial do país (IPCA), com a projeção em 6,7% no fim do ano, acima do centro da meta de 3,75%.

O cenário desafiador de elevação de preços deve levar o Banco Central a apertar ainda mais a política monetária nesta quarta-feira, após três altas de 0,75 ponto percentual na taxa de juros. A expectativa é de alta de 1 ponto percentual na taxa de juros, com o mercado projetando uma taxa de 7% no fim de 2021, segundo o último Boletim Focus.

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