SÃO PAULO (Reuters) - Construtoras voltadas ao segmento residencial estão vendo terreno propício para pressionar produtores de aços longos no Brasil a baixarem preços ou manterem os valores em níveis atuais, apesar da desvalorização do dólar contra o real que ajuda a conter importações de produtos siderúrgicos.
Anúncios de aumentos de preços feitos no final do primeiro trimestre não chegaram a ser implementados entre grandes construtoras e cooperativas de construtoras organizadas, com estes grupos enxergando espaço para até mesmo cobrarem reduções de preços de aços longos num momento em que o mercado é disputado a tapas por novos e tradicionais rivais.
"O (preço do) aço não vai subir não, as vendas estão caindo bastante, o mercado imobiliário está andando para trás em muitos lugares e as grandes obras acabaram. Não tem como absorver novos aumentos", disse Dionyzio Klavdianos, presidente da Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade (Comat) da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic).
"Teve um reajuste nos preços de aço longo de pelo menos 8 por cento em março (...) Só que para as construtoras maiores e cooperativas a gente conseguiu segurar e não teve aumento em março", disse Dionyzio Klavdianos, presidente da Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade (Comat) da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic).
Além de Klavdianos, um alto executivo de uma das maiores construtoras do país afirmou à Reuters que a empresa conseguiu reduções de gastos ao longo do primeiro semestre com material, incluindo aço longo, e não descartou eventuais novas diminuições de preços mais para o final do ano.
"Tivemos importantes reduções de custos com material no começo do ano (...) Elas (siderúrgicas) ainda têm gordura para queimar", disse o executivo, pedindo para não ser identificado diante da sensibilidade das negociações.
A produção de aços longos do país de janeiro a maio acumulou queda de 10 por cento sobre o mesmo período do ano passado, a 4,22 milhões de toneladas. As vendas, enquanto isso, caíram 11,4 por cento, a 3,59 milhões de toneladas, segundos dados do Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas.
Segundo Klavdianos, que preside também a Coopercon Brasil, entidade que reúne cooperativas de construtoras em 11 Estados do país, incluindo Rio Grande do Sul e das regiões Nordeste e Centro-Oeste, parte do poder maior de barganha das construtoras está na entrada de novos fornecedores de aços longos no mercado.
Ele citou o caso da CSN (SA:CSNA3), que começou a vender o insumo no ano passado e tem capacidade para produção de 500 mil toneladas anuais, e a Sideúrgica Latino-Americana (Silat), do grupo espanhol Hierros Añon, instalada no Porto de Pecém, no Ceará.
Procurada, a Gerdau (SA:GGBR4), uma das maiores fornecedoras de aços longos do país, afirmou que não faz comentários sobre sua política comercial.
O momento diverge do ano passado, em que foi "difícil segurar os reajustes" nos preços de aços longos, disse Klavdianos.
"Até agora tinha só Gerdau, Arcelor, Votorantim e Aço Cearense, mas chegou a CSN e a Silat. Com a concorrência, os preços, no mínimo, não aumentam", afirmou. "Tem espaço para discutir desconto de preços no segundo semestre", acrescentou.
(Por Alberto Alerigi Jr.)