Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) - A demanda por milho do Brasil deve se manter firme neste ano, mesmo diante da possibilidade de retomada de embarques da Ucrânia, um dos principais fornecedores globais do cereal e concorrente dos brasileiros na exportação, na avaliação de integrantes do setor e analistas ouvidos pela Reuters.
Um primeiro navio com milho desde a invasão russa na Ucrânia deixou o porto de Odessa em direção ao Líbano nesta segunda-feira, como parte de um acordo para desbloquear os portos do Mar Negro.
O principal efeito do movimento ucraniano virá em forma de alívio para a inflação global dos alimentos, na avaliação dos especialistas.
"O nosso milho já deve estar bem negociado, porque estamos indo para o final da colheita da safrinha, não muda agora a perspectiva por demanda para a exportação", disse André Nassar, presidente da associação que representa tradings de grãos e processadores de soja, a Abiove.
Ele lembrou que o mercado vinha precificando nos últimos dias o fechamento de um acordo entre Rússia e Ucrânia, mediado pela Turquia e a Organização das Nações Unidas (ONU), que permitiria a retomada de embarques de grãos ucranianos, então os preços já foram se ajustando para baixo.
Nesta segunda-feira, a consultoria StoneX elevou a previsão de exportação de milho do Brasil em 2021/22 para 42 milhões de toneladas.
Agora, o retorno dos embarques também pode reduzir as instabilidades nas cotações.
"Acho que o mercado vai ficar aliviado. A Ucrânia ficar fora do mercado era ruim, porque gerava muita incerteza, muita volatilidade", acrescentou.
O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, afirmou que a retomada ucraniana ajuda também a reduzir as especulações acerca dos preços do milho.
Por outro lado, ele disse que o país europeu ainda enfrentará dificuldades para seguir com o fornecimento, o que faz com que o papel do Brasil enquanto provedor de oferta interna e externa do cereal continue sem grandes mudanças.
"Sabemos que a Ucrânia não vai conseguir fornecer o que fornecia (antes da guerra). Não se sabe quanto vai conseguir retirar do campo, tem a perda de mão de obra no país, logística interna, problemas nos portos", comentou.
Em relação aos custos de produção da indústria de carnes --uma das principais consumidoras de milho para ração animal-- Santin disse que eventuais alívios estarão mais relacionados à colheita da segunda safra brasileira do que ao movimento global envolvendo a Ucrânia.
"Teremos uma safra de milho abundante no Brasil", afirmou ele, ressaltando, porém, que não há espaço para grandes quedas nos preços das carnes devido aos demais custos de produção que seguem elevados.
No que se refere aos efeitos globais da retomada de embarques ucranianos, o diretor de Agronegócios do Itaú BBA, Pedro Fernandes, disse que, de maneira geral, haverá um alívio.
"Com o momento de insegurança alimentar que a gente vive e o alto preço de alimentos também gerando uma inflação muito alta, essa notícia vem para acalmar, indica que vamos para uma normalidade", afirmou.
"A avaliação que a gente pode ter é de que realmente a produção agrícola dessa safra, tanto de Ucrânia quanto de Rússia, elas vêm para mercado, com certeza é positivo do ponto de vista de maior disponibilidade de produto em um momento de muita escassez", acrescentou.