Por Marc Jones
LONDRES (Reuters) - Os criptomercados não foram eliminados pela turbulência do ano passado, enquanto a nova onda de moedas digitais de bancos centrais (CBDCs, na sigla em inglês) enfrentará limites geopolíticos, previu a nova chefe de inovação do Banco de Compensações Internacionais (BIS).
Apelidado de "banco central dos bancos centrais globais", o BIS há muito tempo critica as criptomoedas, chegando a comparar o bitcoin a um esquema fraudulento Ponzi e a uma bolha de mercado no passado.
O colapso do império FTX de Sam Bankman-Fried no ano passado, bem como Celcius, Three Arrows Capital e uma série de "stablecoins", mostrou que muitos dos avisos do BIS se tornarem realidade, já que mais de 2 trilhões de dólares foram eliminados do valor do setor.
Desde o início de 2023, no entanto, houve uma espécie de recuperação, incluindo uma alta de 40% no preço do bitcoin.
"Suponho que a indústria aprenderá com essas falhas e apresentará coisas novas", disse Cecilia Skingsley, a nova chefe do "Hub de Inovação" do BIS, à Reuters, em sua primeira entrevista aprofundada desde que assumiu o cargo.
A ex-autoridade do banco central sueco também disse que os problemas não parecem ter afetado os planos dos bancos centrais para o que poderiam ser várias de moedas digitais de banco central (CBDCs, na sigla em inglês) emitidas nacionalmente nos próximos anos.
O BIS tem coordenado muitos dos experimentos internacionais em torno de CBDCs, que podem ser construídos para uso público ou apenas para os bancos usarem nos bastidores dos mercados monetários de "atacado".
Onze países já lançaram CBDCs, enquanto mais de 100 outros, representando mais de 95% do PIB global, agora as estão explorando, com este ano devendo ter alguns marcos significativos.
Esse impulso global ocorre conforme o uso de dinheiro físico cai globalmente e as autoridades procuram afastar a ameaça aos seus poderes de impressão de dinheiro representada por empresas de bitcoin e gigantes da tecnologia.
As sanções impostas a países como Rússia e Venezuela nos últimos anos foram outro fator, inclusive para aliados de longa data dos EUA, como a Europa, que querem garantir uma alternativa às redes Visa, Mastercard e Swift.
"Você precisa ser resiliente o suficiente quando se trata de defesa, quando se trata de abastecimento de alimentos, mas também se torna importante quando se trata de sistemas de pagamento", disse Skingsley.
Embora as CBDCs devam tornar as moedas de mais alta tecnologia e mais fáceis e baratas de enviar para outros países, é provável que se formem "placas tectônicas" com as novas formas de dinheiro eletrônico, totalmente interoperáveis apenas entre países alinhados geopoliticamente, disse Skingsley.
“Nunca teremos interconexão total”, disse Skingsley, acrescentando que o trabalho do BIS visa tornar as CBDCs o mais versáteis possível.
(Reportagem de Marc Jones)