Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - A inflação no Brasil ficará ainda mais alta que o esperado e bem acima do centro da meta neste ano, com as expectativas para 2022 já sob risco, e esse cenário pede uma ação mais efetiva do Banco Central, cuja avaliação atual sobre a alta dos preços ainda parece "leve", disse a economista-chefe do Credit Suisse Brasil (SIX:CSGN (SA:C1SU34), Solange Srour.
Segundo a economista, com o aumento dos custos se intensificando, o BC deveria começar um processo de normalização da política monetária no próximo mês e com uma elevação de 0,50 ponto percentual da taxa Selic. O juro chegaria ao fim do ano em 4,5% (ante os atuais 2%) e iria para 6% ao término de 2022.
O nível "extraordinariamente baixo" dos juros é um dos fatores por trás da volatilidade cambial, mas Srour ponderou que o vaivém no dólar não diminuirá caso um aperto monetário seja acompanhado de deterioração de perspectivas fiscais. Ela projeta que o dólar fechará o ano em 5,20 reais, ante os 5,44 reais desta quinta-feira.
"Esperamos que simplesmente mantenha-se a regra do teto de gastos. Não é nada extraordinário. O dólar baixaria mais em caso de aprovação de reformas que estruturalmente levam o país a crescer mais e a ter uma dívida mais sustentável... Mas evitar piorar já é um caminho", afirmou em entrevista à Reuters.
A economista chama atenção para o período até o fim da semana que vem, quando, em sua expectativa, poderá haver algum consenso sobre a PEC Emergencial, que estabelece gatilhos para conter as despesas públicas. Na tarde desta quinta, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmou que a chamada PEC Emergencial será pautada no plenário da Casa na próxima semana.
Srour vê uma reedição do auxílio emergencial com custo máximo de cerca de 30 bilhões de reais. "Se passar disso, for a 50 bilhões (de reais), aí temos risco de ir mais alto... de alguém falar em 70 bilhões de reais... Isso ainda é um problema, pois é um gasto que terá de ser pago com dívida... e isso vai pressionar a curva de juros", afirmou, lembrando que já existe uma pressão vinda de fora para abertura de taxas de juros.
INFLAÇÃO
A profissional demonstrou preocupação mais visível com relação ao cenário inflacionário. Por ora, a projeção oficial do Credit Suisse é que o IPCA suba 4,2% neste ano, mas o viés é de alta. O centro da meta de inflação para este ano é de 3,75%.
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Segundo ela, o risco de inflação ascendente ganhou força com a decisão da Petrobras (SA:PETR4) de elevar os preços de combustíveis, em meio à percepção de que o dólar seguirá pressionado e aos ganhos das commodities.
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"Fora isso ainda temos outro componente. A comunicação hoje (do BC) ainda não está muito dura no sentido de alta dos juros", disse. "O BC tem bastante credibilidade, mas se a comunicação não for enfática de que realmente a gente vai precisar controlar a situação e (se) ficar só na questão do (aumento de preço) temporário, isso vai acabar impactando mais a inflação... É hora de o BC agir."
Para a economista, por ora a comunicação ainda parece "leve" em termos de tons de preocupação sobre o rumo dos preços. "A questão não é a comunicação, mas a avaliação do cenário inflacionário, do balanço de riscos, que para mim é muito mais desfavorável do que na avaliação do BC", disse.
A alta do IPCA se comunica com a preocupação fiscal via câmbio, que dificilmente voltará a ter grande suporte de taxas de retorno (o chamado "carry"), ainda que a Selic suba, disse a economista.
Isso ocorre num momento de "reflation trade" no exterior, do qual o Brasil pode não se beneficiar desta vez por causa do risco relacionado às contas públicas. Normalmente, períodos de "reflation trade" --que se refere a altas nas taxas de crescimento e de custos na sequência de forte contração econômica-- são positivos para setores cíclicos e ativos de maior risco, uma vez que se relacionam com normalização econômica e maior demanda por matérias-primas.
"Se a gente consegue sinalizar ao mercado uma despesa mais controlada nos próximos anos, mesmo gastando mais agora, com essa credibilidade as curvas de juros desinclinam, atraímos fluxo de capital relevante e vamos participar da 'festa' da liquidez", afirmou Srour.
Do contrário, em caso de aumento de gastos sem âncora fiscal, a economista acredita que o Brasil possa reviver algo parecido com o que aconteceu no fim do primeiro mandato da Dilma (Rousseff, ex-presidente), quando, de acordo com Srour, o cenário externo era "brilhante", o mundo crescia e o Brasil mostrava estagnação.
"Tudo vai depender de como o Congresso e o governo vão conduzir a questão de aumentar gastos e manter a credibilidade. Vamos monitorar o desenrolar nos próximos dias."