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Foto e filme do cenário fiscal são bem diferentes, segundo economista

Publicado 03.01.2025, 10:21
© Rafaela Vitória
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Investing.com – Equilibrar as contas públicas segue como principal desafio para a equipe econômica do governo em 2025. No entanto, com comunicação problemática e sem um diagnóstico correto de que um ajuste fiscal mais amplo e crível precisa ocorrer pelo lado dos gastos, o clima de desconfiança continua.

Essa é a avaliação da economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, que concedeu entrevista ao Investing.com Brasil. A especialista detalhou por quais motivos considera que é necessário separar a análise da foto e do filme ao estudar o cenário fiscal e considera que, com estresse do mercado e uma economia americana forte, o câmbio deve continuar no patamar de R$6, com Selic atingindo um pico de 15% neste ano.

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A percepção é de que a foto representa o momento atual, sendo mais positiva, mas que o filme, que traz um cenário mais completo, com as perspectivas para as contas públicas no futuro, traz maiores preocupações, em meio ao aumento dos gastos do governo.

A economista argumenta que concorda com a correção da tabela do Imposto de Renda (IR) anunciada pelo governo, mas entende que o timing foi ruim e que ela deveria ocorrer todo ano, por lei. Como a defasagem é robusta, a arrecadação para 2026 deve ser impactada de forma mais evidente, tendo em vista as dificuldades que podem ser encontradas para aprovação, no Congresso, de medidas de compensação que viabilizem a neutralidade da medida.

No entendimento da economista, um ajuste fiscal crível passa pela desvinculação dos programas sociais ao salário mínimo. “A gente não pode ter previdência e outros programas sociais com ganhos reais. Nosso orçamento não comporta isso”.

Além disso, idealmente, uma revisão dos programas também seria um avanço, e o cenário com a menor taxa de desemprego da série histórica indicaria uma oportunidade. “O Brasil está em uma situação de baixo desemprego, mas com o auxílio-desemprego crescendo e batendo máximas. Claramente, uma política pró-cíclica, melhora a situação de emprego, mas cresce o gasto nesse sentido, quando a gente deveria ter políticas anticíclicas”.

Sobre a nova presidência do Banco Central, a economista não espera uma mudança de postura na condução da política sob Gabriel Galípolo, mas destaca que, como instituição independente, qualquer ruído de interferência seria avaliado pelo mercado de forma negativa - nem elogios são favoráveis nesse momento, porque passariam essa impressão. “O papel do Banco Central é prezar pela estabilidade da moeda e não ser um aliado do governo”, reforça.

Confira a entrevista com a economista:

Investing.com – Com nova presidência do Banco Central, o que esperar da atuação de Galípolo e da sua relação com o governo, tendo em vista a perspectiva de novos aumentos de juros? Quais vão ser seus principais desafios?

Rafaela Vitória – O Galípolo é um novo presidente com histórico de atuação no Copom desde meados do ano passado. Isso dá para a gente um indicativo de que não deve haver mudança na condução da política monetária.

Inclusive, a última alta de um ponto percentual na Selic em dezembro, que foi um voto unânime de todos os membros, com indicação de mais duas altas, é uma postura bastante hawkish do Banco Central como um todo. Não esperamos uma mudança nessa postura, que tem sido até mais hawkish, mas considerando o cenário de maior aversão a risco, em dezembro a gente viu uma saída forte de dólares com depreciação cambial, hoje, infelizmente, essa postura mais hawkish se faz necessária por parte do Banco Central. A gente não espera nenhuma mudança.

Agora, por outro lado, entendemos que o governo criticar ou elogiar o Banco Central não contribui para a política monetária. O Banco Central é uma instituição independente, com uma atuação independente. Então, o Banco Central, ser ou não ser aliado do governo, não é algo positivo.

O ideal é que a gente tenha um Banco Central independente, nem elogios são favoráveis nesse momento, porque eles acabam passando uma certa impressão de que pode haver interferência e o risco de interferência é bem negativo.

O ideal é que o governo deixe o Banco Central fazer o seu papel. O papel do Banco Central é prezar pela estabilidade da moeda e não ser um aliado do governo. Acho que a menor percepção de interferência pode também ajudar no trabalho do Galípolo em 2025.

Inv.com – Você citou em uma rede social ser importante separar a análise da foto e do filme no cenário fiscal. Qual sua visão para cada um deles? Essa é a principal preocupação para 2025?

Rafaela Vitória – A gente tem na foto hoje até um cenário positivo. O fiscal vai terminar o ano com um déficit, nossa expectativa é de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

O Haddad escreveu uma coluna dizendo que o déficit deve ser de 0,4%. Como a gente está pertinho do fechamento do ano, deve ser algo entre 0,4% e 0,5%, o que é um déficit baixo. A fotografia não é uma fotografia ruim do resultado fiscal.

Esse ano, de positivo, o governo conseguiu aumentar a arrecadação. Isso é importante, parte do ajuste fiscal vem sendo feito pelo lado da arrecadação, inclusive, foi a grande bandeira do governo.

Por outro lado, a gente vê um filme negativo, um filme ruim, quando a gente olha pelo lado do gasto. Se o governo conseguiu aumentar a arrecadação e reduzir o déficit esse ano, por outro lado, ele também cresce muito as despesas. Não só ele cresceu as despesas pontualmente, em 2023 e 2024, mas também a gente vê o crescimento de despesas para 2025 e para 2026.

Isso porque ocorre muita vinculação de despesas no nosso orçamento. Tem vinculação dos pisos da saúde, piso da educação e também o reajuste do salário mínimo. Entendo que todas essas contratações de crescimento de despesas para o futuro mostram um filme ruim, que o déficit não vai ser resolvido.

Esse ano contou com um aumento de arrecadação bem robusto. A gente não espera que isso se repita, até porque o governo chegou num momento em que não consegue, não deve conseguir, mais aprovação de mais impostos. O país já possui uma carga tributária muito alta, com um esgotamento também de aprovação de medidas de aumento de arrecadação por parte do Congresso.

Há, assim, uma preocupação sobre como será resolvido o déficit fiscal nos próximos anos. Existe um risco de o déficit ser maior em 2025 e um risco ainda maior de que ele continue crescendo em 2026 por conta até do anúncio da mudança da tabela de imposto de renda.

Inv.com – O governo anunciou que a mudança no IR deveria ser neutra, vocês enxergam isso de que forma? Acreditam que há dificuldades em ter essa neutralidade?

Rafaela Vitória – Sim, o governo vai ter muita dificuldade em neutralizar essa correção da tabela. A gente estima mais ou menos 50 bi de renúncia fiscal, que é justo, só para fazer um parêntese, eu concordo com essa correção. Nos últimos anos, houve um aumento gradual na tributação de renda sobre a classe média. Quando o governo não faz a correção, é como se estivesse aumentando a tributação sobre a renda do trabalhador, principalmente da classe média.

A correção da tabela deveria ocorrer. Ela deveria ocorrer por lei, inclusive, igual à do salário mínimo, que corrige a tabela todo ano pela inflação. Como o governo não faz isso há muitos anos, esse acúmulo pode gerar uma diferença significativa de arrecadação para 2026.

Num momento em que a inflação está alta, que a demanda está aquecida, que a gente não tem um risco fiscal elevado, o timing dessa correção é muito ruim e a magnitude dessa correção também, toda ela feita de uma vez. Para compensar, o governo precisa fazer uma boa reforma do imposto de renda, mas acho que com essa deterioração que a gente vê no cenário, câmbio, inflação, mais juros esse ano, a gente vai ter um cenário macro mais difícil. O governo vai ter dificuldade em aprovar no Congresso medidas de arrecadação.

Inv.co – Você disse ainda que o ajuste anunciado, e agora desidratado, não foi suficiente. E nem o choque de juros do BC é solução. O que seria um ajuste fiscal crível, na sua visão?

Rafaela Vitória – Hoje, o fundamental para um ajuste fiscal de longo prazo é acabar com a desvinculação. Acho que esse é um ponto fundamental na nossa visão, tanto dos pesos da saúde, da educação e também a desvinculação dos programas sociais ao salário mínimo.

O governo tem essa nova política de reajuste de salário mínimo, que ele agora limitou, foi positivo limitar o salário mínimo, poderia ter crescido mais esse ano e no próximo ano. Então, houve uma pequena limitação nesse sentido, no teto do arcabouço, mas ainda não é suficiente. A gente não pode ter previdência e outros programas sociais com ganhos reais. Nosso orçamento não comporta isso. A não ser que a gente fizesse uma revisão mais ampla dos programas sociais, com uma focalização maior. Isso foi feito lá atrás, até lembrando, em 2003.

Entre 2003 e 2004, nos primeiros anos do governo Lula, houve boa reformulação de programas sociais, quando foi criado o Bolsa Família, que na época também teve uma discussão grande. Existia uma discussão de que consolidar programas sociais era ruim. Então, foi polêmico.

Hoje, a gente olha o Bolsa Família como um programa muito importante, muito estudado, com benefícios já amplamente comprovados em vários estudos. Não esse novo Bolsa Família, depois da pandemia. Mas, até a pandemia, o Bolsa Família era um programa muito eficiente. Mas também houve essa controvérsia lá atrás, quando ele foi consolidado, o Bolsa Escola, o Vale Gás, o Vale Leite, tinha vários outros programas do Fernando Henrique que foram consolidados no Bolsa Família.

Acho que hoje, idealmente, caberia também uma revisão. O governo tem vários programas, o BPC, o Bolsa Família, o Segundo Defeso ainda existe, entre outros, o Vale Gás voltou. Então, uma consolidação e uma revisão de programas sociais podem ser muito bem-vindas no momento em que o Brasil está em uma situação de pleno emprego, com a menor taxa de desemprego da nossa série.

Entendo que esse é um cenário ideal, mas de execução politicamente difícil. Por outro lado, a desvinculação dos programas sociais ao ganho real de salário mínimo traria uma boa perspectiva de ajuste fiscal. A gente interrompe esse crescimento de gastos que se contrata hoje quando há esse tipo de vinculação.

Inv.com – O cenário atual é de desconfiança e de falta de credibilidade. O que poderia, além de um ajuste fiscal, reverter esse cenário? Alguma mudança na comunicação, também?

Rafaela Vitória – Esse é um ponto superimportante. Eu volto para a foto e o filme. Por que uma foto, mesmo uma foto positiva, não é suficiente para trazer uma certa tranquilidade?

Por que apesar de o filme ser ruim, mas você sai de um ponto de partida relativamente favorável – 0,5 de déficit comparado hoje com os pares, é relativamente favorável – existe uma desconfiança tão grande do mercado em relação ao governo?

Acho que a comunicação, sim, é um dos grandes problemas. O governo negar que a gente tem um fiscal problemático é um dos pontos.

Não ter esse diagnóstico correto de que é necessário fazer um ajuste fiscal pelo lado do gasto. Então, o governo não passa essa confiança para o mercado de que ele vai atacar, hoje, o grande problema fiscal, que é o crescimento de gastos.

O pacote foi tímido no volume, a gente achava que viria um corte de 50 bi, olhando só 2025, o que seria adequado, mas veio 30 bi. Na verdade, com os cortes do Congresso, vai dar algo mais próximo de 20 bi, 25 bi. A gente não está falando de cifras muito elevadas.

O governo, com um pente fino, provavelmente conseguiria fazer um ajuste administrativo no orçamento para que tivesse o déficit de zero em 2025. A falta de confiança do mercado ocorre porque a articulação política também não é favorável a esse tipo de ajuste. Um exemplo na discussão do pacote de medidas foi a exclusão de uma discussão mais ampla sobre o auxílio-desemprego, por exemplo.

O Brasil está em uma situação de baixo desemprego, mas com o auxílio-desemprego crescendo e batendo máximas. Claramente, uma política pró-cíclica, melhora a situação de emprego, mas cresce o gasto nesse sentido, quando a gente deveria ter políticas anticíclicas.

Nesse momento, deveria estar gastando menos, até porque quando a gente tiver lá na frente uma volta de algum desemprego, o governo precisa ter alguma folga no orçamento para ampliar esse tipo de auxílio. Então, nesse momento, a gente deveria estar vendo uma revisão mesmo do auxílio-desemprego.

Então, esse é um exemplo. Dentro do próprio governo, a gente não tem um consenso de que redução de gastos é importante para esse ajuste fiscal.

Inv.com – Qual o cenário do Inter para os principais indicadores macroeconômicos? Acredita que a Selic chega até qual pico? Qual a tendência deste ano para o dólar?

Rafaela Vitória – A gente hoje vê a Selic chegando a 15% no pico do ciclo em maio, com algum espaço para corte no final do ano, a depender da execução orçamentária.

A gente viu o pacote de medidas, a LDO foi aprovada, a gente ainda não tem a LOA final, mas existe uma chance, sim, de a gente ter algum, não dizer ajuste fiscal, mas a gente ter a ausência de impulso fiscal esse ano. E isso vai ajudar na demanda. E aí a inflação cairia mais rápido e poderia abrir espaço para a queda de juros no final do ano. Estimamos tem a Selic terminando o ano em 14%, que ainda é um patamar bem alto, mas algum espaço para corte.

E o câmbio, entendemos que o novo patamar de equilíbrio está mais próximo de R$6. A gente acha que também tem um cenário externo, além do risco fiscal, que vai permanecer, porque a discussão sobre 2026 vai estar no radar. O governo já trouxe ela para o radar de todo mundo.

A nova situação fiscal em 2026, junto com um cenário de economia americana mais robusta, com juros maiores por mais tempo por lá, o patamar de equilíbrio do câmbio está por volta de R$6. Entendemos ser difícil o câmbio abaixar disso, considerando esses riscos no cenário.

Temos cautela para falar de câmbio, como dizia o Edmar Bacha, o câmbio tem que dar humildade para os economistas. Mas hoje, com o cenário de risco fiscal, que deve permanecer no radar, e dólar forte, o patamar de equilíbrio do câmbio está mais próximo de R$6.

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