Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) -A semana da decisão de política monetária do Banco Central brasileiro começa com mais instituições financeiras prevendo aceleração no ritmo de aumento dos juros, à medida que investidores veem desancoragem das perspectivas inflacionárias em meio à desvalorização cambial e ao cenário geral de incerteza.
A pesquisa Focus divulgada pelo Bacen nesta manhã mostrou que economistas e outros respondentes agora esperam alta de 1,25 ponto percentual da Selic tanto nesta semana quanto em dezembro, pela mediana das estimativas.
Mas a XP se juntou ao time que enxerga aperto monetário ainda mais agressivo, de 1,50 ponto percentual. Ao fim do ciclo, a casa estima que a Selic estará em 11% ao ano, ante taxa de 6,25% atualmente.
"Em nossa opinião, estamos observando uma mudança de regime na condução da política fiscal, e não 'apenas' uma piora na margem", afirmou em nota Caio Megale, economista-chefe da XP, que prevê outra alta de 1,50 ponto no encontro do Copom de dezembro.
"Apesar de não projetarmos convergência da inflação à meta no horizonte relevante, o aperto mais intenso da política monetária será importante para evitar uma desancoragem maior das expectativas", disse.
"Além disso, destacamos que a deterioração do quadro fiscal levará a aumento expressivo do juro neutro na economia brasileira (para além dos 3% estimados atualmente pelo Banco Central)."
Também na sexta, a equipe de pesquisa macro do BTG Pactual (SA:BPAC11) digital passou a enxergar alta de 1,50 ponto percentual dos juros nesta semana, com aumento de 1,25 ponto em dezembro.
"O que nos leva a acreditar que o Copom deve elevar a Selic em 1,5 p.p. na próxima reunião é a deterioração do quadro fiscal brasileiro a partir de gastos com benefícios sociais que não estavam no cenário base do Orçamento da União de 2022", disse o time em relatório.
"Esta nova perspectiva para as contas públicas nos faz acreditar que o quadro inflacionário tende a ser mais desafiador caso o Copom não tome direção 'hawkish' (mais dura na política monetária) nos próximo encontros", finalizou.
O Barclays (LON:BARC) também passou a ver elevação dos juros de 1,50 ponto percentual. Seria a maior alta da taxa desde 14 de outubro de 2002, quando o Bacen promoveu um choque de 3 pontos percentuais na taxa básica (de 18% para 21%) pouco mais de uma semana depois do primeiro turno das eleições daquele ano, que sagraram Luiz Inácio Lula da Silva como presidente da República.
O Barclays fala em "incerteza em espiral" para justificar a mudança de prognóstico. "Além disso (mais gasto para Auxílio Brasil e ruído sobre precatórios), uma possível extensão do auxílio emergencial que expira neste mês e crescentes pressões por subsídios aos combustíveis para caminhoneiros em meio a ameaças de greves nacionais podem aumentar o nervosismo do mercado", disse o banco em relatório.
O UBS BB (SA:BBAS3) também espera mais 1,50 ponto percentual de juros nesta semana e também em dezembro, com mais aperto contratado para o começo de 2022. Com isso, a taxa básica concluiria o ano que vem em 10,25% nominal, maior patamar desde julho de 2017 e 825 pontos-base acima da mínima histórica de 2% que vigorou entre agosto de 2020 e março de 2021.
Já o Bradesco (SA:BBDC4) enxerga aumento de 1,25 ponto percentual da Selic na quarta-feira, para 7,50% ao ano.
"O Banco Central vai se deparar com diversos desafios, vindos da piora do debate fiscal, do cenário externo mais desafiador e das pressões altistas sobre a inflação. Nesse cenário, o Copom deve alterar o ritmo de alta da Selic da próxima semana", disse em nota o departamento econômico do banco privado.
Na noite de sexta-feira, o Goldman Sachs (NYSE:GS) divulgou relatório no qual previu que o Bacen elevará os juros em "pelo menos" 1,25 ponto percentual, dados os recentes desenvolvimentos macrofinanceiros "muito significativos", levando a Selic a um patamar "modestamente acima do neutro".
"Além disso, avaliamos uma probabilidade de 33% de uma alta maior da Selic, de 150 pontos-base. A divulgação do IPCA-15 de outubro na véspera da decisão e condições de mercado no início da semana devem ter repercussão na magnitude da resposta de política monetária do Copom", disse Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para a América Latina do banco.
Ainda na quinta, o Morgan Stanley (NYSE:MS) elevou a 125 pontos-base o prognóstico de aperto monetário na próxima reunião do Copom. Para a instituição financeira, "125 pontos-base agora são os novos 100 pontos-base" --referindo-se à indicação do BC de não antecipar aumentos de forma agressiva.
A magnitude de aumento de 125 pontos-base para a próxima semana agora é prevista também pelo Credit Suisse (SIX:CSGN), que calcula ainda outra elevação de 125 pontos-base em dezembro e mais duas altas adicionais no começo de 2022 --a primeira de 100 pontos-base e a segunda de 75 pontos-base, levando a Selic a 10,5% ao fim do ano que vem.
A mudança de cenário pelo JPMorgan foi a primeira a fazer preço no mercado. O banco elevou na quinta-feira a 125 pontos-base sua projeção de adição da taxa Selic pelo Banco Central em cada uma das próximas duas reuniões do Copom, com o BC forçado a acelerar o ritmo de aperto monetário devido à deterioração do balanço de riscos para os preços.