Por Camila Moreira
SÃO PAULO (Reuters) -A atividade econômica do Brasil registrou crescimento acima do esperado em junho de acordo com dados do Banco Central e interrompeu dois meses seguidos de quedas, fechando o segundo trimestre com expansão, ainda que com perda de ritmo sobre o início do ano.
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) registrou em junho avanço de 0,69%, de acordo com o dado dessazonalizado do indicador que é um sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB).
A leitura informada pelo BC nesta segunda-feira ficou bem acima da expectativa em pesquisa da Reuters de ganho de 0,25%.
No entanto, o BC piorou o dado de maio para uma contração de 0,26%, depois de informar anteriormente queda de 0,11%. Em abril, o índice apresentou recuo de 0,52% na comparação mensal.
Ainda assim, o IBC-Br registrou no segundo trimestre expansão de 0,57% na comparação com os três meses anteriores, mas mostrou perda de força depois de ter avançado 1,12% de janeiro a março.
"O fechamento do segundo trimestre mostra avanço... comparado ao trimestre anterior, o quarto seguido de variação positiva, e coloca perspectiva positiva para a atividade no ano", disse em nota Felipe Sichel, sócio e economista-chefe do Banco Modal (BVMF:MODL11). "Em contrapartida, a desaceleração da atividade global, a queda recente dos preços das commodities e o impacto defasado da política monetária devem contribuir para desaceleração do ritmo de atividade no quarto trimestre."
O IBGE divulgará os dados oficiais do PIB no dia 1 de setembro, depois de informar que a economia teve no primeiro trimestre crescimento de 1,0%.
Na comparação com junho do ano anterior, o IBC-Br registrou alta de 3,09%, enquanto no acumulado em 12 meses passou a um avanço de 2,18%, de acordo com números observados.
"Cenário de incerteza à frente, mas a base está mais robusta, principalmente o mercado de trabalho", disse no Twitter Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter (BVMF:BIDI4).
SERVIÇOS EM DESTAQUE
Em junho, somente o setor de serviços teve desempenho positivo, com alta no volume de 0,7%.
Na contramão, indústria brasileira interrompeu quatro meses seguidos de ganhos com queda acima do esperado de 0,4%, enquanto as vendas no varejo recuaram 1,4%.
O Brasil vive um ambiente de inflação e juros elevados, mas ao mesmo tempo com uma política fiscal estimulativa que tende a dar sustentação à demanda no curto prazo.
O país ainda encara incertezas relacionadas à eleição presidencial de outubro e desafios provenientes do cenário internacional. Além de a guerra na Ucrânia ter impacto sobre os preços, o aumento de juros nas economias avançadas tende a retrair a atividade no mundo e afastar investimentos de países emergentes.
Por outro lado, tendem a mitigar as condições financeiras mais apertadas a melhora do mercado de trabalho e medidas de auxílio do governo, adiando os impactos mais significativos da política monetária apertada sobre a atividade.
Depois da liberação de saques extraordinários do FGTS, antecipação do 13º de aposentados e pensionistas e o Auxílio Brasil, são esperados os impactos da redução das alíquotas de ICMS sobre os setores de combustíveis, gás, energia, comunicações e transporte coletivo.
A PEC dos Benefícios, que tem por objetivo aumentar o valor ou criar novos benefícios sociais a menos, também pode ajudar a atividade econômica.
Buscando controlar a inflação crescente, o BC elevou a Selic neste mês a 13,75% e, embora tenha dito que avaliará a necessidade de ajuste residual nos juros, boa parte dos mercados parece acreditar que este ciclo de aperto monetário já chegou ao fim.
A pesquisa Focus realizada semanalmente pelo BC com uma centena de economistas aponta que a expectativa é de que o PIB cresça 2,0% neste ano, indo a uma expansão de 0,41% em 2023.
"No primeiro semestre de 2023 a economia deve sofrer o impacto defasado das condições monetária e financeira bastante restritivas de 2022 e o fim programado das medidas de estímulo fiscal", avaliou Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para a América Latina no Goldman Sachs (NYSE:GS). "No entanto, vemos risco significativo de que muitas das medidas de estímulo fiscal da segunda metade de 2022 sejam prorrogadas para 2023."
(Por Camila MoreiraEdição de Luana Maria Benedito)