Por Vladimir Soldatkin e Guy Faulconbridge
KAZAN, Rússia (Reuters) - O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, disse ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, na véspera da cúpula do Brics, que ele quer paz na Ucrânia e que Nova Délhi está pronta para ajudar a conseguir uma trégua para acabar com o conflito mais mortal da Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
Putin, que ordenou a entrada de dezenas de milhares de soldados na Ucrânia em fevereiro de 2022, quer que a cúpula do Brics mostre a crescente influência do mundo não ocidental depois que os Estados Unidos e seus aliados europeus e asiáticos tentaram isolar a Rússia por causa da guerra.
A Rússia está esperando 22 líderes, incluindo o presidente da China, Xi Jinping, que chegou na terça-feira, para participar da reunião de cúpula do Brics, que representa 45% da população mundial e 35% da economia global.
Putin, que é considerado pelo Ocidente como um criminoso de guerra, agradeceu Modi por ter aceitado o convite para visitar Kazan, uma cidade às margens do Volga, e disse que a Rússia e a Índia compartilhavam uma "parceria estratégica privilegiada".
Modi agradeceu a Putin por sua "forte amizade", elogiou a crescente cooperação e a evolução do Brics, mas também disse que a Índia acha que o conflito na Ucrânia deveria ser encerrado pacificamente.
"Temos mantido contato constante sobre o assunto do conflito em andamento entre a Rússia e a Ucrânia", disse Modi. "Acreditamos que os problemas devem ser resolvidos apenas por meios pacíficos."
"Apoiamos totalmente a rápida restauração da paz e da estabilidade. Todos os nossos esforços dão prioridade à humanidade. A Índia está pronta para fornecer todo o apoio possível nos tempos que virão", disse ele, acrescentando que discutiria essas questões com Putin.
A cúpula do Brics acontece no momento em que líderes financeiros globais se reúnem em Washington em meio à guerra no Oriente Médio e na Ucrânia, a uma economia chinesa em declínio e a preocupações de que a eleição presidencial dos Estados Unidos possa desencadear novas batalhas comerciais.
Com a expansão do Brics -- e uma lista de espera de possíveis membros -- há ansiedade entre alguns sobre se a expansão tornará o grupo difícil de manejar.
A China e a Índia, os principais compradores de petróleo russo, têm relações difíceis, enquanto há pouco amor entre as nações árabes e o Irã.
INTERESSES DE SEGURANÇA
Quando perguntado pelos repórteres que cobrem a reunião do Brics sobre as perspectivas de paz, Putin disse que Moscou não negociaria as quatro regiões do leste da Ucrânia que, segundo ele, agora fazem parte da Rússia, e que Moscou quer que seus interesses de segurança de longo prazo sejam levados em consideração na Europa.
Duas fontes russas disseram que, embora existam cada vez mais conversas em Moscou sobre um possível acordo de cessar-fogo, ainda não há nada de concreto -- e que o mundo estava aguardando o resultado da eleição presidencial de 5 de novembro nos Estados Unidos.
A Rússia, que está avançando, controla cerca de um quinto da Ucrânia, incluindo a Crimeia, que tomou e anexou unilateralmente em 2014, cerca de 80% de Donbas -- uma zona de carvão e aço que compreende as regiões de Donetsk e Luhansk -- e mais de 70% das regiões de Zaporizhzhia e Kherson.
Putin disse que o Ocidente já percebeu que a Rússia sairá vitoriosa, mas disse estar aberto a conversações com base em acordos preliminares de cessar-fogo alcançados em Istambul em abril de 2022.
Na véspera da cúpula do Brics, Putin se reuniu com o presidente dos Emirados Árabes Unidos, Sheikh Mohammed bin Zayed Al Nahyan, para conversas informais que se estenderam até a meia-noite em sua residência em Novo-Ogaryovo, nos arredores de Moscou.
Putin elogiou tanto o xeque Mohammed quanto o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman, que não participará da cúpula em Kazan, por seus esforços de mediação sobre a Ucrânia.
"Estamos prontos para fazer qualquer esforço para resolver crises e no interesse da paz, no interesse de ambos os lados", disse o xeque Mohammed a Putin.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cancelou sua viagem seguindo recomendações médicas para evitar temporariamente voos de longa distância após uma lesão na cabeça sofrida em casa.
(Reportagem de Guy Faulconbridge, Dmitry Antonov, Gleb Bryanski e Marina Bobrova, em Moscou, e Sudipto Ganguly, em Mumbai)