Por Jessica Bahia Melo
Investing.com – Com efeitos da elevação da taxa de juros, a economia brasileira deve frear em relação aos trimestres anteriores, mas o ano passado deve ser de crescimento, puxado principalmente pela retomada dos serviços, na visão de economistas consultados pelo Investing.com Brasil. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga os dados do Produto Interno Bruto (PIB) nessa quinta-feira, 2. As projeções consensuais compiladas pelo portal indicam uma retração de 0,2% nos últimos três meses do ano, na comparação trimestral. Na base anual, a estimativa é de alta de 2,2%.
Em relatório macroeconômico, o Itaú (BVMF:ITUB4) detalhou que prevê que o crescimento brasileiro no quarto trimestre tenha apresentado estabilidade na margem, com ajuste sazonal, desacelerando frente ao crescimento de 0,4% do trimestre anterior. Na comparação anual, a projeção é de avanço de 2,2%. Caso a estimativa do Itaú de 0% seja confirmada, o crescimento para 2022 seria de 3,0%, puxado principalmente pelo setor de serviços, mas com altas também em indústria e agropecuária.
Claudio Considera, coordenador de Contas Nacionais do FGV/Ibre, concorda com a projeção consensual de retração trimestral de 0,2%, com estimativa de alta de 2,9% no ano de 2022 como um todo. Na visão do especialista, a injeção de recursos via Auxílio Emergencial possibilitou o retorno da aquisição de mais serviços.
“No ano, o crescimento se deve ao setor de serviços, principalmente, com recuperação muito forte após o isolamento social durante a pandemia. Os serviços sofreram uma queda muito grande e as pessoas usaram seus recursos para adquirir alguns bens duráveis. Depois, passaram a comprar serviços e reduziram a compra de duráveis. Isso fez com que a economia crescesse, sendo que o setor de serviços possui a maior representação dentro do PIB”, detalha Considera.
Já a desaceleração trimestral estaria relacionada aos efeitos da elevação da taxa de juros, com a necessidade de frear a inflação. Nesse cenário, a compra de bens duráveis, que geralmente ocorre em prestações, como geladeiras, fogões, carros, perderam espaço, com juros mais robustos, inadimplência em alta e perda no poder de compra diante dos aumentos nos preços.
O Banco Original projeta uma contração de 0,1% do PIB no quarto trimestre e alta de 2,9% no acumulado do ano. Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, afirma que os últimos indicadores mostram perda de fôlego. “Tanto agricultura quanto indústria e varejo se posicionaram como âncoras negativas para o PIB, absorvendo choques da La Niña sobre a produtividade nas safras, sobretudo soja e milho, na região sul do país, e parte dos efeitos negativos da taxa de juros, respectivamente. Apenas o setor de serviços se mostrou mais robusto em dezembro, evidenciando um maior consumo de serviços presenciais diante de eventos extraordinários como a Copa e, em menor grau, descontos da Black Friday sobre alojamento e alimentação”, completa Caruso.
Paralelamente, os dados mais recentes do mercado de trabalho indicam diminuição na taxa de desemprego, que atingiu 7,9% no trimestre encerrado em dezembro. “Embora o resultado seja positivo à primeira vista, tanto a contingência da população ocupada quanto a força de trabalho desaceleraram no período, confirmando as expectativas de desaceleração das contratações”, pondera o economista do Banco Original.
Já Claudia Moreno, economista do C6 Bank, também acredita em uma retração de 0,2% nos últimos três meses do ano. “Olhando para a composição dessa leve retração, o que puxa para baixo seria a indústria. Para serviços, projetamos estabilidade e agropecuária com resultado positivo”, indica Moreno, que também enxerga que ao longo do ano a economia apresentou recuperação puxada pelo setor de serviços com a reabertura pós-covid.
O que esperar de 2023
As taxas de juros mais altas em países como Estados Unidos, além da Selic em 13,75% no Brasil trazem cautela para este ano. Enquanto o governo trava uma briga com o Banco Central para que os juros caiam, economistas apontam que esse deve ser um dos principais fatores para a economia desacelerar no ritmo de crescimento deste ano, em meio a receios de uma recessão global. Economistas consultados pelo Banco Central esperam que o PIB fique em 0,84% em 2023, de acordo com o Boletim Focus divulgado na segunda-feira, 27 de fevereiro.
A inflação segue como ponto de atenção e o Banco Central utiliza o mecanismo de política monetária contracionista, a alta dos juros, para frear a alta nos preços. “Isso faz com que o empresário tire o pé do acelerador, não invista, o que consequentemente afeta o PIB. Mas, com a inflação em patamar alto, o Banco Central tem que continuar com a taxa de juros elevada, por isso está tendo essa briga forte”, avalia Luiz Carlos Corrêa, sócio da Nexgen Capital.
A FGV estima um crescimento de 0,3% da economia brasileira neste ano, com a continuidade da inflação e do processo de perda de poder de compra. Na visão de Considera, a taxa de juros vai continuar elevada para segurar inflação. “A bagunça das contas fiscais vai ficar e o governo vai ter que cuidar dessa parte”, completa o coordenador de Contas Nacionais do FGV/Ibre.
A recuperação dos serviços passou por um esgotamento, no entendimento da especialista do C6. Aliada à elevação nos juros, a tendência é de que o próximo ano seja mais desafiador. “A taxa de juros deve seguir elevada por bastante tempo, com inflação caindo, mas a passos lentos. Inflação de serviços deve demorar a ceder pela inércia inflacionária, que é forte no brasil, além de um mercado de trabalho mais apertado”, conclui Moreno.
O C6 estima para 2023 um crescimento de 1%, com alta mais robusta na agropecuária, com safra recorde, além de estímulos fiscais aumentando a demanda no curto prazo, ainda que o processo não seja duradouro.
No vídeo abaixo do canal do Youtube do Investing.com Brasil, economistas detalharam como a desaceleração global poderia influenciar no crescimento brasileiro. Confira - e aproveite para seguir o canal!