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Selic: Em decisão unânime, Copom interrompe cortes e mantém taxa em 10,5%

Publicado 19.06.2024, 18:38
© Jessica Bahia Melo
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Investing.com - O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu nesta quarta-feira (19) a interrupção do ciclo de cortes da taxa Selic, mantendo os juros básicos em 10,5% ao ano. Foi a primeira manutenção de taxa de juros desde agosto do ano passado, quando o colegiado iniciou o atual ciclo de cortes.

A decisão da taxa foi em linha com o consenso de mercado, que estava dividido em relação ao placar da decisão entre os membros do colegiado. Diferentemente da última reunião, quando o Copom não seguiu o forward guidance de continuar a redução da taxa Selic em meio ponto percentual e decidiu por diminuir o ritmo de cortes para 0,25 ponto percentual em um colegiado dividido, a decisão do encontro de hoje foi unânime.

"Mostra que a decisão técnica prevaleceu", avalia Fernando Bresciani, analista de investimentos do AndBank. "A unanimidade foi muito importante para reforçar que as decisões foram tomadas de forma técnica, sem interferência política, e assim eliminar qualquer dúvida sobre a credibilidade da política monetária", aponta Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital.

A próxima reunião do Copom será realizada daqui a 45 dias, em 31 de julho.

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O que diz o comunicado

A decisão de manutenção da taxa Selic em 10,5% se baseou em uma leitura de cenário que observa "o cenário global incerto e um cenário doméstico marcado pela resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas". Com isso, o colegiado entende que a conjuntura atual exige maior cautela na condução da política monetária.

"O Comitê se manterá vigilante e relembra, como usual, que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta", informa o comunicado, que ressalta a exigência de uma "política monetária [...] contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas".

O tom mais hawkish foi referenciado por um cenário prospectivo com uma cotação do dólar maior do que na última reunião. Em maio, o cenário de referência do Copom previa um dólar a R$ 5,15, enquanto o comunicado atual aponta um dólar a R$ 5,30. Além disso, houve uma deterioração em relação à expectativa de inflação pelo Copom para 2024 e 2025. A projeção desse ano subiu de 3,7% para 4%, enquanto do ano que vem avançou de 3,3% para 3,4%.

"O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional seguem mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária", diz o comunicado ao se referir ao balanço de risco, no qual "permanecem fatores de risco em ambas as direções".

"Se de um lado o fato de ter se encerrado o ciclo de corte de juros pode ser lida como uma vitória da ala mais “de mercado”, por outro o não corte deve ter efeito de queda dos juros mais longos, justamente o que se queria parte da diretoria na reunião passada", avalia o economista André Perfeito, que considera a decisão um "empate técnico".

"Primeira leitura de neutralidade na maior parte dos pontos, sem indicar a possibilidade de subida de juros e indicando manutenção do patamar elevado por mais tempo", diz Leonardo Costa, economista do ASA.

"As muito poucas, novidades no comunicado foram desde a referência explícita aos impactos dos 'desenvolvimentos recentes da política fiscal... sobre os ativos financeiros', até a atenção para a 'ampliação da desancoragem das expectativas' e a 'elevação das projeções de inflação' desde a reunião anterior", aponta José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. "Horizonte relevante sugere que a Selic fica onde está até depois do fim de 2024, pois a Focus fecha o ano com a Selic em 10,50%, mas a reduz já na primeira reunião do Copom em 2025", prossegue o economista do Fator, relembrando que o realinhamento das expectativas de inflação à meta em 2025 dependerá da adoção de juros mais altos.

Leia o comunicado completo no fim da matéria.

Incertezas no Copom trouxe instabilidades ao mercado

A incerteza em relação ao consenso do Copom adicionou instabilidade para o mercado brasileiro nas últimas semanas, especialmente na queda do Ibovespa para o patamar mínimo de 118.600 pontos, no estresse da cotação do dólar acima de R$ 5,40 e o disparo das taxas de juros futuros (DIs). As dúvidas do mercado em relação ao colegiado se somava a uma deterioração da expectativa de inflação para 2025 e 2026 e aumento do risco fiscal sob a especulação de o governo federal não cumprir as regras do novo arcabouço fiscal, além do anúncio da queda da meta primária para 2025 de um superávit de 0,6% para 0% do PIB.

A aversão a risco se intensificou hoje, após a entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à rádio CBN ontem pela manhã, quando o presidente fez críticas ao atual presidente do Banco Central do Brasil (Bacen), Roberto Campos Neto, se antecipando à interrupção do ciclo de cortes que manteve hoje a taxa Selic acima de 10%. Além disso, os investidores viam uma pressão de Lula ao diretor de Política Monetária do Bacen, Gabriel Galípolo, indicado pelo atual governo e cotado para ser o próximo presidente da autoridade monetária a partir do ano que vem, o que intensificou temores no mercado de um novo placar dividido do Copom de 5 a 4, respectivamente entre membros indicados pelo governo de Jair Bolsonaro e os que foram indicados por Lula.

Na avaliação que preponderou nas negociações hoje, que levaram o dólar a ser cotado próximo a R$ 5,48, um eventual voto de Galípolo contrário a de Campos Neto, especialmente para um corte de juros, seria um indicativo de que a próxima composição do Copom seria leniente com a inflação. Isso levaria a uma intensificação na deterioração da inflação de 2025 e 2026 acima da meta de 3%, o que exigiria uma taxa Selic maior no futuro. No curto prazo, poderia levar a uma maior desvalorização do real e maior inclinação na curva de juros.

A informação de que o Palácio do Planalto recebeu o aviso de que o placar do Copom teria sido de 9 a 0, divulgado pela jornalista Ana Flor na GloboNews próximo ao fechamento do mercado, desestressou o mercado, levando o dólar a fechar em baixa de 0,23% a R$ 5,4237. Vale ressaltar que o mercado hoje teve pouca liquidez, com as bolsas em Wall Street fechadas devido a feriado nos EUA. A ausência de investidores estrangeiros hoje nas negociações pode favorecer a tendência de queda do dólar, a redução das taxas de juros futuros nesta quinta-feira e alta no Ibovespa.

"Vejo com bons olhos o que está escrito [no comunicado] e isto deve retirar parte da volatilidade do mercado, o que por sua vez diminui os prêmios de risco", diz Perfeito, que relembra o potencial de melhora nos indicadores financeiros caso o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) comece o ciclo de cortes no segundo semestre.

"O mercado vai receber bem a decisão e o comunicado. Amanhã devemos observar queda no dólar e nos juros futuros, enquanto que a bolsa deve abrir em alta refletindo maior otimismo com a política monetária", afirma Bolzan.

Comunicado do Copom

Confira abaixo o comunicado completo da decisão:

O ambiente externo mantém-se adverso, em função da incerteza elevada e persistente sobre a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e quanto à velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo maior do que o esperado. A inflação cheia ao consumidor tem apresentado trajetória de desinflação, enquanto medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.

As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,0% e 3,8%, respectivamente.

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 4,0% em 2024 e 3,4% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 4,4% em 2024 e 4,0% em 2025. Em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo do horizonte relevante, as projeções de inflação situam-se em 4,0% para 2024 e 3,1% para 2025.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado. O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional seguem mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária.

O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.

Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 10,50% a.a. e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, ampliação da desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.

O Comitê, unanimemente, optou por interromper o ciclo de queda de juros, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam maior cautela. Ressalta, ademais, que a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê se manterá vigilante e relembra, como usual, que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.

* No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de R$5,30/US$, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária "verde" em dezembro de 2024 e de 2025. O valor para o câmbio foi obtido pelo procedimento, que passou a ser adotado na 258ª reunião, de arredondar a cotação média da taxa de câmbio observada nos dez dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.

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