BC eleva Selic em 1 ponto a 14,25% e prevê alta menor em maio

Publicado 19.03.2025, 18:44
Atualizado 19.03.2025, 19:40
© Reuters. Edifício do Banco Central, em Brasílian17/12/2024nREUTERS/Adriano Machado

Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central decidiu nesta quarta-feira seguir o ritmo já previsto de aperto nos juros ao elevar a taxa Selic em 1 ponto percentual, a 14,25% ao ano, em decisão unânime de sua diretoria, e indicou um ajuste de menor magnitude na próxima reunião, em maio, se confirmado o cenário esperado.

Em comunicado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC enfatizou que para além da reunião de maio, a magnitude total do ciclo de aperto "será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta" e dependerá da evolução da evolução da dinâmica para os preços à frente.

Com a decisão desta quarta, os juros básicos vão ao maior nível em mais de oito anos, após cinco altas consecutivas da taxa. A Selic esteve em 14,25% pela última vez em 2016, quando permaneceu nesse patamar até outubro em meio a uma crise econômica e ao processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff.

De acordo com o documento do Copom, a previsão de um aumento menor na Selic em maio ocorre "diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, da elevada incerteza e das defasagens inerentes ao ciclo de aperto monetário em curso".

Para a diretoria do BC, o cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, projeções elevadas para os preços à frente, resiliência na atividade e pressões no mercado de trabalho, o que exige uma política monetária mais contracionista.

"O conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo, ainda que sinais sugiram uma incipiente moderação no crescimento", apontou o colegiado.

Em elemento considerado determinante para o recuo da inflação, alguns indicadores da economia brasileira deram sinais de arrefecimento, como serviços e indústria, mas o presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, tem pregado cautela na análise, pedindo tempo para que haja clareza sobre uma eventual tendência de desaceleração.

No documento, o Copom não fez alterações em seu balanço de riscos para a inflação, mantendo a avaliação de que há uma assimetria altista para o cenário à frente.

Ao avaliar que agora a "bola" do Copom estará com Galípolo, já que a reunião de maio será a primeira sem as amarras de um “guidance” definido antes que ele assumisse a presidência do BC, Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, disse esperar um Copom mais brando à frente.

“Muito provavelmente teremos um tom mais brando por parte do BC adiante, visto que o fator câmbio vem ajudando bastante dada a apreciação do real frente ao dólar nas últimas semanas”, afirmou.

Em dezembro, quando o BC ainda era presidido por Roberto Campos Neto, o Copom elevou a Selic em 1 ponto percentual e previu dois ajustes da mesma magnitude nas reuniões subsequentes.

Para Rodolfo Margato, economista da XP (BVMF:XPBR31), a decisão do Copom não traz mudança relevante de tom, em comunicado consistente com um cenário marcado por inflação corrente pressionada, desancoragem das expectativas e sinais incipientes de moderação na atividade.

BC REDUZ PROJEÇÃO DE INFLAÇÃO

Desde a última reunião do Copom, as expectativas de mercado para os preços à frente seguiram desancoradas, fator tratado com preocupação pela autarquia, com a previsão para o IPCA de 2025 no boletim Focus passando de 5,50% antes do Copom de janeiro para 5,66% nesta semana. Para 2026, foco do horizonte relevante de atuação do BC, as expectativas passaram de 4,22% para 4,48%.

O BC, no entanto, melhorou ligeiramente nesta quarta suas projeções de inflação em relação a janeiro, com estimativas passando de 5,2% para 5,1% em 2025, considerando o cenário de referência, que segue projeções de mercado para os juros. Para o terceiro trimestre de 2026, atual horizonte relevante, a projeção passou de 4,0% para 3,9%.

Para fazer as projeções do cenário de referência divulgadas nesta quarta, o Copom considerou uma taxa de câmbio que parte de 5,80 reais, abaixo dos 6,00 reais usados na reunião de janeiro.

O centro da meta contínua para a inflação neste e nos próximos anos é de 3%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

A decisão desta quarta veio em linha com a expectativa de mercado captada em pesquisa da Reuters, na qual todos os 37 economistas entrevistados projetavam que o BC elevaria a Selic em 1 ponto.

Mais cedo nesta quarta-feira, o banco central dos Estados Unidos manteve a taxa básica de juros inalterada na faixa de 4,25% a 4,50%, com suas autoridades indicando que ainda preveem uma redução de 0,50 ponto da taxa até o final do ano, embora citem maiores incertezas.

Em meio ao processo de alta em tarifas de importação pelo governo Donald Trump nos Estados Unidos e dúvidas sobre os próximos passos da guerra comercial e seus impactos, o BC afirmou no comunicado que o ambiente externo permanece desafiador, citando incerteza acerca da política comercial dos EUA.

Para o BC, esse contexto tem gerado ainda mais dúvidas sobre os ritmos da desaceleração e da desinflação nos Estados Unidos e, consequentemente, sobre a postura do Fed e sobre o ritmo de crescimento nos demais países.

Em relação às contas públicas, o BC disse que segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros.

"A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes", disse.

Medidas de contenção de gastos propostas pelo governo -- e consideradas insuficientes por analistas para estabilizar a dívida pública -- foram aprovadas parcialmente no fim de 2024 pelo Congresso, que também tem imposto dificuldades para a votação do Orçamento deste ano, até o momento não aprovado.

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