Investing.com - Com os investidores se preparando para a última reunião de política monetária de 2016 do Banco Central Europeu nesta quinta-feira, em meio a expectativas de uma ampliação do programa de compra de títulos da dívida para além do término original, previsto para março de 2017, as dúvidas passam a ser sobre o possível tamanho da ampliação e se a autoridade monetária europeia ajustará a dimensão das compras, que atualmente é de € 80 bilhões (US$ 85,9 bilhões) por mês.
52 de 60 economistas que participaram de uma enquete recente da Reuters, divulgada na semana passada, disseram acreditar que o BCE decidirá por ampliar o programa.
Desses que acreditam em uma extensão, as opiniões quanto ao prazo diferiram de três meses a "tempo indeterminado", mas a maioria apostou em uma prorrogação de seis meses, até setembro de 2017.
Contudo, cinco desses especialistas não vislumbraram mudança na política e os outros três afirmaram sentir que ocorrerá uma "redução", ou escalonamento, do valor.
Uma questão de redução
O estrategista de mercado da IG acredita que o BCE ampliará o programa, mas ele faz parte do grupo que acredita que os decisores reduzirão o tamanho de suas compras para evitar pressionar a bolha do mercado de títulos da dívida.
A Goldman Sachs indicou que as duas principais perguntas sobre a reunião desta quinta-feira são se haveria uma decisão de redução gradual formal e, se não, se o presidente da instituição, Mario Draghi, daria indícios de uma futura redução.
Esses especialistas se mostraram céticos com a possibilidade de um cenário em que o BCE reduza as compras a um ritmo mensal de € 40 a 50 milhões e amplie simultaneamente o programa até o primeiro trimestre de 2018.
"Acreditamos que essas propostas não estão levando em conta o grande ceticismo dos mercados quando se trata da atuação do BCE", afirmaram em uma nota aos clientes.
"Afinal, a reunião de dezembro de 2015 e a falha em março deste ano ensinaram os mercados a serem extremamente céticos quanto à disposição e capacidade do BCE de aliviar as políticas monetárias", explicaram.
"Os mercados acreditam em uma ampliação completa do programa", destacaram ao The Wall Street Journal estrategistas da BlackRock. "Achamos que há uma boa chance de o BCE decepcionar os mercados", alertaram.
Analistas da Nomura vislumbraram que a autoridade monetária da Europa ampliará o programa em seis meses, sem reduzir a quantia aplicada, o que, em contrapartida, provavelmente "colocaria pressão de baixa nos rendimentos dos títulos da dívida e nos spreads de títulos secundários na área do euro, enquanto que a análise de risco também deve manter alguma força."
No entanto, eles também alertaram que "uma decisão de redução imediata ou um passo em direção à redução poderia desacelerar os investimentos em títulos da dívida estrangeiros dos investidores da zona do euro", com uma pressão de baixa correspondente no euro.
"O anúncio de uma redução provavelmente aumentaria os spreads de títulos secundários e prejudicaria a análise de risco", afirmaram os especialistas.
Projeções econômicas do BCE fundamentais para decisões de política futuras
Embora o Danske Bank e o UBS acreditem que o BCE ampliará o programa em seis meses aos níveis atuais, sinalizaram que as projeções econômicas atualizadas do banco central são uma peça fundamental do quebra-cabeças.
Os dados da última semana mostraram que a inflação na zona do euro atingiu a máxima de 31 meses em novembro, mas o núcleo da inflação, o principal indicador acompanhado pelo BCE, marcou apenas 0,8% pelo quarto mês consecutivo, valor muito abaixo da meta de 2% da inflação.
Após ficar abaixo da meta por mais de três anos, Draghi afirmou, na última semana, que acredita em uma estabilização em 2% para 2018 ou 2019.
"Recentemente, tivemos muita especulação sobre a redução do QE mas, na nossa opinião, é muito cedo para esperar o anúncio de encerramento do programa", ponderaram analistas do Danske Bank.
"Membros muito influentes do BCE, incluindo o presidente Draghi, enfatizaram veementemente que a falta de pressão de alta nos preços referidos, somada à expectativa de revisão de baixa considerável à projeção para o núcleo da inflação do BCE, deve convencer membros suficientes do banco de que é muito cedo para se considerar a paralisação do programa", justificaram.
"Embora as novas projeções macroeconômicas da equipe para 2017–2019 formem uma importante base para a decisão, achamos que os membros do Conselho de Administração do BCE terão que adotar um ponto de vista ainda mais abrangente, avaliar o equilíbrio dos riscos mais amplamente e perguntar a si mesmos se este é o melhor momento para uma redução no estímulo monetário", avaliaram analistas do UBS.
Esses especialistas não esperam uma redução por parte do BCE até "depois de setembro de 2017, talvez ao longo do curso de um ano."
Para o médio prazo, embora não acreditem que as taxas de juros do BCE serão ainda mais reduzidas, também descartam aumentos até 2019.
Principal problema do BCE é a falta de iniciativa fiscal do governo
Com essa perspectiva de longo prazo em mente, o principal problema do BCE continua sendo a falta de dedicação dos governos nacionais na implementação de políticas fiscais que apoiem o crescimento e extingam a necessidade de uma política monetária permissiva.
Como em muitas ocasiões, Draghi reiterou este problema na semana passada enquanto alegava que uma política monetária superacomodativa deu aos governos da região tempo para as reformas. "Esses esforços tem que ser reforçados", afirmou.
"Como Draghi recentemente nos lembrou, 'o QE não dura para sempre'", constatou o Barclays em uma nota a clientes no fim de novembro, citando o risco moral e a complacência com as reformas como pontos negativos para a dívida governamental ao alertar sobre o fim da política de alívio monetário.
"Os problemas de sustentabilidade da dívida ressurgirão não apenas por causa de maiores pagamentos de juros, mas também, fundamentalmente, porque as possibilidades de crescimento no longo prazo são ínfimas sem as reformas", declararam os analistas. "Isso pode, como consequência, exigir um 'QE permanente' para ser possível evitar uma crise fiscal", alertaram.