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Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - A diminuição das tensões do Brasil com os Estados Unidos, o roteiro claro do Banco Central sobre a Selic e o congelamento da divulgação de indicadores norte-americanos levaram o mercado a voltar a operar, nos últimos dias, com o foco mais direcionado à questão fiscal.
Na quinta-feira as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) chegaram a subir mais de 20 pontos-base em alguns vértices, em meio a especulações de que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderia lançar um programa para zerar a tarifa de ônibus urbanos em todo o país -- uma política com óbvias implicações fiscais.
O receio é de que esta seria apenas a "ponta do iceberg", nas palavras de uma analista ouvida pela Reuters, e que o governo poderia multiplicar os gastos públicos para garantir a reeleição de Lula em 2026.
Na sexta-feira as taxas seguiram em alta, ainda que no exterior os rendimentos dos Treasuries mostrassem acomodação durante praticamente todo o dia.
Profissionais ouvidos pela Reuters tinham diferentes interpretações sobre como a questão do transporte gratuito ganhou força a ponto de afetar a curva brasileira, uma vez que não houve anúncio ou discussão pública sobre o tema no governo federal.
Um dos pontos citados foi que a Câmara dos Vereadores de Belo Horizonte havia marcado para votar em primeiro turno, na tarde de sexta-feira, o projeto de lei nº 60/2025, conhecido como "PL do Busão 0800", que estabelece a gratuidade no transporte público da capital mineira.
O projeto mineiro não tinha, em tese, impacto fiscal, já que o custo seria bancado por uma nova taxa paga por empresas que empregam mais de nove funcionários -- um tema polêmico por natureza, por envolver o custo empresarial. Mas a proximidade da votação do PL em Belo Horizonte -- que foi na sexta-feira rejeitado na votação de primeiro turno e, com isso, arquivado -- acabou funcionando como gatilho para o mercado operar na quinta-feira.
O movimento foi reforçado por uma nota publicada no Diário do Grande ABC na quarta-feira, mas que circulou largamente pelas mesas de operação na quinta. Conforme a nota, o deputado federal Jilmar Tatto (PT-SP) afirmou que Lula determinou a preparação de estudos para o lançamento da proposta de transporte gratuito ainda este ano.
À Reuters, o Ministério das Cidades disse que não existem estudos sobre o assunto na Pasta. O Ministério da Fazenda não comentou.
"Isso (a possível gratuidade do transporte público) não é algo novo, já foi discutido no governo Dilma Rousseff. É uma notícia que vira e mexe volta", comentou Ian Lima, gestor de renda fixa da Inter Asset. "E ontem (quinta-feira) foi uma notícia infeliz, em um momento infeliz."
De acordo com Lima, as curvas de juros de vários países emergentes -- como Colômbia, Hungria e México -- estavam abrindo na quinta-feira, em um aparente movimento de liquidação global. Isso também ocorreu no Brasil, só que com maior intensidade justamente por conta da notícia sobre as tarifas de ônibus.
Todos os profissionais de mercado ouvidos pela Reuters concordaram que lançar, no curto prazo, uma política para zerar as tarifas de ônibus seria uma tarefa monumental para o governo federal, quase inconcebível.
Mas o economista-chefe do Bmg, Flavio Serrano, ponderou que, diante das potenciais implicações de um projeto dessa envergadura, é natural que o mercado reaja às especulações.
"Se imaginarmos que algo assim teria um impacto de R$60 bilhões, mas apenas 10% de chances de acontecer, o mercado já tem que subir a curva. Por mais difícil que seja, por mais baixa que seja a possibilidade, isso pega na curva", afirmou.
Entre os profissionais do mercado, também foi comum encontrar desde quinta-feira a avaliação de que o burburinho sobre as tarifas de ônibus seria, na verdade, um "balão de ensaio" do próprio governo Lula.
Uma das visões é de que, após a Câmara aprovar na quarta-feira a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$5 mil por mês -- algo que tende a ser capitalizado por Lula na campanha presidencial de 2026 --, o governo busca novas iniciativas para reforçar a popularidade do presidente.
(Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu)