Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - Após três sessões consecutivas em alta, as taxas dos DIs fecharam a sexta-feira em baixa firme no Brasil, superior a 15 pontos-base entre os contratos mais longos, acompanhando o recuo dos rendimentos dos Treasuries no exterior após a divulgação de novos dados de inflação nos Estados Unidos.
A crescente avaliação de que o Banco Central do Brasil pode ser levado a subir juros nos próximos meses também contribuiu, tecnicamente, para a queda mais intensa das taxas na ponta longa da curva nesta sexta-feira.
No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 -- que reflete a política monetária no curtíssimo prazo -- estava em 10,765%, ante 10,778% do ajuste anterior. Já a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,695%, ante 11,758% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,935%, ante 12,022%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 12,14%, ante 12,294%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 12,12%, ante 12,285%.
O principal condutor dos preços no dia foi o índice de preços PCE dos EUA -- indicador bastante observado pelo Federal Reserve na formulação da política monetária. O índice subiu 0,1% em junho, depois de ficar estável em maio, informou o Departamento de Comércio. Excluindo os componentes voláteis de alimentos e energia, o PCE teve alta de 0,2% no mês passado, de 0,1% em maio.
Economistas consultados pela Reuters previam que tanto o índice cheio quanto o núcleo subiriam 0,1% em junho.
No período de 12 meses até junho, o índice de preços avançou 2,5%, de 2,6% em maio.
Os números reforçaram a avaliação de que o Fed caminha para iniciar o ciclo de cortes de juros em setembro, o que manteve os rendimentos dos Treasuries em baixa. No Brasil, as taxas dos DIs acompanharam.
“O mundo inteiro está na expectativa de quando os Estados Unidos vão começar a cortar os juros. E o PCE veio benigno, mostrando que a inflação está convergindo para a meta de 2%”, pontuou Paula Zogbi, gerente de Research da Nomad, ao justificar o fechamento da curva de juros tanto nos EUA quanto no Brasil.
Internamente, porém, a perspectiva para a inflação acabou intensificando nesta sexta-feira o fechamento mais intenso da ponta longa da curva, na visão da analista Lais Costa, da Empiricus Research.
Na quinta-feira a divulgação da alta de 0,30% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA) em julho, acima do esperado pelo mercado, havia elevado a percepção de que o BC pode ter que subir a Selic no curto prazo.
“Tem esquentado a conversa de que o BC pode ter que subir juros ainda este ano ou no início do próximo ano. Há instituições indicando que mais uma ou duas leituras fortes de inflação pode levar a revisões (para cima) da Selic”, comentou Costa.
Assim, a percepção de que a Selic pode subir no curto prazo mantém as taxas futuras curtas em patamares mais elevados, o que na ponta longa favorece a retirada de prêmios.
Neste cenário, a taxa do DI para janeiro de 2031 -- um dos mais líquidos na ponta longa -- fechou em queda de 15 pontos-base ante o ajuste da véspera.
Com o movimento desta sexta-feira a curva a termo brasileira precificava perto do fechamento 80% de chances de manutenção da taxa básica Selic em 10,50% ao ano na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC na próxima semana. A probabilidade de alta de 25 pontos-base está em 20% -- próximo dos 20% vistos na véspera. No entanto, a curva precifica chances majoritárias de pelo menos uma alta da Selic ainda em 2024, em novembro.
Pela manhã, o Tesouro informou que o governo central acumulou um déficit primário de 68,698 bilhões de reais no primeiro semestre, com rombo de 38,836 bilhões de reais apenas em junho. O déficit no mês ficou acima do esperado por analistas em pesquisa da Reuters, de 37,4 bilhões de reais.
Os dados do governo central, no entanto, tiveram influência menor sobre os negócios nesta sexta-feira.
No exterior, os yields dos Treasuries seguiam em baixa no fim da tarde. Às 16h40, o rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- caía 6 pontos-base, a 4,192%.