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Cenários 2023: Veja 5 fatores geopolíticos que podem afetar a economia neste ano

Publicado 27.01.2023, 11:35
© Reuters.
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Por Jessica Bahia Melo

Investing.com – Não é mais possível separar a economia da geopolítica, com um mundo menos integrado em relação ao período anterior à Guerra da Ucrânia. As sanções contra a Rússia e a desarticulação de cadeias produtivas são marco desse cenário, com a definição de blocos, segundo especialistas consultados pelo Investing.com Brasil.

Empresas definem suas estratégias de alocação de insumos, serviços e processos produtivos com base não somente em indicadores econômicos, mas também conforme a situação política e de relações sociais. E o mundo estaria nas profundezas de uma recessão geopolítica, segundo a consultoria de risco global Eurasia Group.  

Em seu relatório “Principais riscos para 2023”, a companhia afirma que os pontos de cautela deste ano são os mais perigosos desde que foi criada, há 25 anos. Na visão da Eurasia, uma Rússia “humilhada” poderia se transformar no estado mais perigoso e desonesto, trazendo forte ameaça à segurança global. Além disso, o aumento do poder de Xi Jinping, trazido à tona durante o 20º Congresso do Partido da China em outubro de 2022 representaria “um controle do poder sem igual desde Mao Tsé-Tung”, na visão da consultoria. Acrescentando os problemas, o programa nuclear do Irã teria avançado cada vez mais desde a chegada de Joe Biden à presidência americana, com monitoramento mais frouxo desse tipo de política.

Ainda, um esforço dos governos para retomar a produção em setores estratégicos em seus territórios, ou em países próximos na questão geográfica, cultural e política, como em microeletrônicos, também entra na pauta da Eurasia. Com Rússia “banida” do mundo ocidental e China apontada como problema futuro, se o Brasil souber aproveitar essa nova conjuntura, pode obter benefícios, na visão de especialistas. Cadeias globais de valor sempre foram orientadas por preço, mas a resiliência na oferta, em contraposição a conflitos e incertezas de outros mercados, pode ser um diferencial.

Nesse cenário, o Investing.com Brasil conversou com professores de Relações Internacionais que apontaram os principais fatores geopolíticos que podem afetar a economia mundial e brasileira em 2023.

Confira o resumo no vídeo:

  1. Tensão EUA/China

Relatório também chamado “Principais riscos para 2023”, elaborado pela consultora mundial Control Risks aponta a tensão entre Estados Unidos e China como principal ponto de cautela no cenário geopolítico neste ano. As tensões começaram a aumentar diante da visita da então porta-voz da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan no ano passado. A situação desagradou fortemente o gigante asiático, que considera Taiwan parte de seu território.

Segundo a Control Risks, um confronto direto entre a China e os EUA é improvável, mas competição e confronto no cenário econômico trazem implicações em relações comerciais e tecnológicas. Com a temperatura mais elevada, a tendência é de que os Estados Unidos definam mudanças nas estratégias para indústrias de setores como de semicondutores, baterias de veículos elétricos e minerais essenciais, podendo restringir acesso chinês a tecnologias. “A menos que haja um conflito ativo, as empresas em 2023 devem monitorar esforços conjuntos para desacoplar cadeias de suprimentos críticas”, detalha a Control Risks.

Gunther Rudzit, professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), lembra que o governo de Taiwan se democratizou a partir dos anos 80. Ainda que funcione como um país, a China pressiona a região, que pode sofrer sanções econômicas e bélicas caso queira desmanchar os laços por completo. Para o Partido Comunista Chinês, Taiwan é parte da China. “Até a chegada do partido, o período é conhecido como o século de humilhação. Para a cultura chinesa, unidade territorial é fundamental. Enquanto o partido não conseguir retomar Taiwan, sofre com um fantasma de uma possível rebelião da população. A população reconhece esse mandato divino do Partido Comunista enquanto ele der estabilidade, prosperidade e unidade territorial”. Na visão do especialista, o partido iria à guerra por causa de Taiwan, se achar necessário.

O fenômeno do reshoring, que consiste na retomada dos processos industriais em caráter nacional, ganha destaque em meio às faíscas.

  1. Guerra da Rússia e Ucrânia

O ano de 2022 foi marcado por políticas monetárias contracionistas de países mundo afora, visando controlar a inflação após um salto em commodities de energia e agrícolas. Após um boom inicial, os preços deram um fôlego, mas o conflito entre os dois países segue como ponto de atenção para os mercados globais. O relatório da Control Risks aponta ainda que o ano deve ser marcado pelo risco de escalada ou até transbordamento da guerra da Rússia e Ucrânia. Enquanto segue o conflito, estariam mantidos riscos comerciais, operacionais, para a cadeia de suprimentos e de sanções. Na visão da Eurasia, a Rússia de Vladimir Putin está extremamente isolada, enquanto a OTAN nunca pareceu mais forte.

Na avaliação de Rudzit, dependendo da dinâmica da guerra, pode haver novamente um aumento nos preços do petróleo, levando a repercussões nas relações entre Ocidente, Rússia e China. “Estamos entrando em um novo paradigma no mundo em que a lógica de um mundo único, global, economicamente e politicamente falando, passou. Os dois blocos buscam se fortalecer e formar aliados, o que deve se caracterizar daqui para frente”.

O cientista político Leonardo Paz Neves, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), reforça que o ano de 2023 será importante para definir se a guerra deve ser de curto prazo ou se será duradoura. Caso não haja previsão de término, soluções temporárias podem se tornar permanentes. As economias mundiais vão começar a olhar com mais atenção ainda para outros mercados de grãos e energia, buscando firmar parcerias, organizando as cadeias de produção global. “Esse ano vai ser importante para saber o quanto a Europa vai conseguir se descolar, de certa maneira, da Rússia em termos de recursos energéticos. Quanto mais a guerra durar, mais força os europeus terão para esse descolamento. Se acabar amanhã, não precisaria ser tão rápido, não seria necessário comprar energia mais cara”, contrapõe.

O Brasil poderia se beneficiar se conseguir suprir a demanda de grãos e energia de outros países, principalmente europeus. “O Brasil também poderia aproveitar o momento para reorganizar parte de sua cadeia produtiva que ficou muito dependente e internalizá-la. Fertilizantes é a palavra do dia”, completa Neves.

  1. Avanço nuclear do Irã

Outras situações de tensão podem culminar em guerras, afetando cadeias de produção e commodities. Além da situação no Báltico, um dos pontos críticos é a relação de Israel e Irã e Índia e Paquistão. “O avanço do programa nuclear do Irã está alimentando uma guerra paralela regional de ataques terroristas, ataques aéreos e apreensões de embarcações que ameaçam o comércio global e a segurança energética. A Coreia do Norte provavelmente também voltará às manchetes no próximo ano com um sétimo teste nuclear”, afirma o Control Risks.

A Eurasia aponta o Irã como o aliado militar mais importante da Rússia no momento, sendo que o país enfrenta a agitação doméstica mais intensa desde a revolução de 1979, que trouxe ao poder a República Islâmica. Antes desta data, o país era forte aliado dos Estados Unidos, que fornecia equipamentos militares. Após se transformar em uma teocracia, o Irã se tornou uma ameaça para os EUA, Israel e outros países, na visão de Rudzit. Com o desenvolvimento de um potencial atômico, o governo de Barack Obama firmou acordo para minimizar os riscos, mas as tensões subiram desde a era Trump.  “Se o Irã chegar perto de ter uma bomba atômica, Israel vai atacar”, acredita o professor. Se isso de fato ocorrer, os preços do petróleo iriam disparar diante de um conflito.  Como o acordo foi rompido e o Irã vem fornecendo equipamentos militares para a Rússia na Guerra com a Ucrânia, uma nova tratativa parece improvável.

Tanguy Baghdadi, professor de Relações Internacionais na Universidade Veiga de Almeida é mais cético sobre esse o cenário. Ainda que a situação seja delicada internamente, ele avalia que não deve haver grandes mudanças no regime nem um conflito direto. “A tendência é de que as coisas continuem como estão. Acho improvável que algum país ataque o Irã, pois ele é muito poderoso militarmente. Israel não quer fazer nada contra o Irã, nem o contrário, porque seria uma guerra muito longa e destrutiva”. Dado os problemas internos, no entanto, pode haver disrupção na produção de petróleo.

  1. Futuro da China incerto

Na visão da Eurasia, a China esteve completamente despreparada para os problemas enfrentados com a pandemia de covid-19. Para frear as contaminações, a China adotou uma política rígida com medidas restritivas, incluindo lockdowns em grandes cidades. Para este ano, a tendência é de reversão nesse cenário, conforme as últimas flexibilizações anunciadas pelo governo.

Além disso, a Eurasia aponta que o gigante asiático passa por desafios econômicos, ainda que haja uma esperança de que sua economia possa ultrapassar a americana em 2030.

Com o relaxamento da política de Covid-zero, ainda há preocupação com a alta nos casos, mas a situação parecia inevitável após manifestações contra os lockdowns, diante da abertura dos outros países anteriormente, que buscaram retomar a economia. Ainda que a prioridade fosse a saúde pública, as medidas restritivas pressionaram os indicadores chineses, que devem se recuperar neste ano, na visão de consenso dos economistas.

A economia chinesa, que enfrenta problemas no setor de incorporação imobiliário, conta com outros desafios. A população, pela primeira vez, não está crescendo. “A mão-de-obra já está ficando mais cara. Se ela conseguir um padrão de consumo cada vez mais alto, como vem conseguindo, vai consumir mais. Também é uma oportunidade para o Brasil”, completa Neves.

Baghdadi pondera que a diminuição do bônus demográfico pode trazer impactos no crescimento econômico chinês, que foi o grande destaque dos últimos anos, o que também pode afetar o Brasil, com quem possui fortes relações comerciais.

  1. Aproximação do Brasil com países do Mercosul

A nível local, na visão dos especialistas, era mais do que esperado que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) visitasse a Argentina em sua primeira agenda internacional do início de mandato, retomando uma tradição do Itamaraty, que sempre deu atenção especial aos países do Sul desde a criação do Mercosul nos anos 90. O distanciamento do governo de Jair Bolsonaro foi exceção.

Rudzit lembra que a proposta da criação de uma moeda comum não é novidade e não deve ser confundida com o que ocorre com o euro, por exemplo. O objetivo seria facilitar as transações comerciais sem depender das oscilações do dólar.

Neves concorda que a retomada da aproximação com os "hermanos" era óbvia e o país “não tinha que fazer diferente”. Em relação às tratativas de integração regional, Neves disse que não é fã da criação da moeda comum. O primeiro passo seria deixar o mercado mais livre, para depois pensar em medidas sofisticadas. Valeria até utilizar o real, moeda do maior país do Mercosul, na sua visão.

O Mercosul é o grande projeto de política externa do Brasil dos últimos 30 anos e marca a liderança brasileira e abertura com outros países da região, afirma Baghdadi. O Mercosul estaria diante de uma encruzilhada e os países participantes teriam que definir se vão estabelecer mudanças e reformas que permitam acordos bilaterais, como é pleiteado pelo Uruguai, que pretende estabelecer esse tipo de tratado com a China – o que não foi bem visto pelo governo brasileiro.

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