O conselheiro econômico chefe da Allianz (DE:ALVG), Mohamed A. El-Erian, disse ter ficado surpreso com o que não aconteceu no Brasil face ao comportamento do juro e do câmbio recentemente, lembrando ter sido um grande investidor do País, enquanto gestor do fundo Pimco, no início dos anos 2000 e que, recorrentemente ouvia que o juro nunca cairia abaixo de dois dígitos.
"As duas grandes surpresas para mim no Brasil foi o que não aconteceu: quando a taxa de juro caiu não houve colapso total da intermediação financeira. O segundo, seria inimaginável para o Brasil ver sua moeda chegar perto de R$ 6,00 e não haver uma crise em qualquer lugar", comentou durante o Congresso de Mercado de Capitais da Anbima e B3 (SA:B3SA3).
El-Erian afirmou ainda que a habilidade do País de sobreviver a esta "incrível" flutuação dos últimos 12 meses, de abaixo de R$ 4,00 para perto de R$ 6,00, sem nada haver sido rompido é muito significante. "Acho que o Brasil se beneficiou das condições globais, mesmo que os investidores não estivessem aqui", disse.
Segundo ele, o Brasil não sabe se vender e se comunicar, o que é importante. "O Brasil surpreende em termos de desempenho econômico, mas o quanto ouvimos sobre isso? Zero", afirmou.
Benefícios das políticas emergenciais estão indo aos mercados
El-Erian afirmou que as políticas adotadas para injetar recursos nas economias, notadamente pelos bancos centrais, estão beneficiando os mercados e impulsionando preços artificialmente, que não refletem os fundamentos das economias.
"Todos os benefícios estão indo para os mercados e os custos e riscos estão se acumulando. O único jeito de diminuir essa diferença seria fazer com que os fundamentos se aproximem do valor do mercado, mas não acredito que essa diferença será revertida tão rapidamente", afirmou.
Ele também disse que os instrumentos de política monetária não são eficientes para o combate à desigualdade, ao contrário, "somente deixam os ricos mais ricos". "A política monetária aumenta a desigualdade", afirmou. Para ele, o único impacto vem da potencial geração de emprego, mas que passa primeiro por um aumento de consumo dos ricos, provocando necessidade de mais investimento pelas empresas.
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Nos próximos 6 a 9 meses, economia global não terá uma força propulsora
El-Erian apontou para dificuldades nas economias globais nos próximos meses e destacou haver certa negação ao impacto que a desigualdade social e de oportunidades, que ficou aparente na pandemia, terá sobre a atividade econômica mais à frente. "Nos próximos seis a nove meses, a economia global não terá força propulsora, mas o vento virá da frente", afirmou.
O economista destacou que a economia real não está respondendo aos incentivos da mesma forma que os mercados, que, para ele, têm uma resposta exagerada ao ambiente desafiador econômico que o mundo está vivendo, indicando haver sérios riscos neste comportamento. Ele acrescentou ser preciso dar atenção ao fato de que a covid-19 estará presente pelo menos nos próximos nove meses e que os países terão de aprender a lidar e se estruturar para isso. "Temos de proteger os mais vulneráveis e aprender a conviver com a covid-19. Asseguro que nos próximos nove meses vamos conviver com a doença", afirmou.
Para ele, a globalização está passando por mudanças relevantes em função do novo momento trazido pela pandemia, citando por exemplo o fato de que as companhias estão se preparando para ganhar eficiência em sua cadeia de suprimentos. "Estamos em uma fase diferente da globalização, para uma direção mais localizada", disse. "A China vai perder muitas coisas, mas isso não significa que as multinacionais abandonarão os mercados", disse.