Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - Após dois dias de forte alta, o dólar à vista fechou a terça-feira em queda firme no Brasil, superior a 1%, retornando para abaixo de 5,50 reais, depois de a China anunciar uma série de medidas para impulsionar sua economia.
Em sintonia com a alta firme do petróleo e do minério de ferro -- produtos importantes da pauta exportadora brasileira -- o dólar à vista fechou o dia em baixa de 1,33%, aos 5,4614 reais. Em setembro, a moeda norte-americana acumula queda de 3,10%.
Às 17h04, na B3 (BVMF:B3SA3) o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 1,45%, a 5,4635 reais na venda.
Nas duas sessões anteriores o dólar havia acumulado alta de 2,10% ante o real, em meio às dúvidas do mercado sobre a capacidade do governo Lula em equilibrar as contas públicas. Nesta terça-feira, porém, as preocupações com a área fiscal ficaram em segundo plano no mercado de câmbio, após a China anunciar uma série de medidas.
O país asiático decidiu cortar a taxa do depósito compulsório dos bancos, reduzir algumas taxas de juros, baratear as taxas de hipotecas de moradias usadas e de compradores de segunda residência e financiar a compra de ações, entre outras medidas.
Em reação, commodities como petróleo e minério de ferro dispararam, favorecendo o real ante o dólar.
“O pacote da China surpreendeu todo o mercado. O país é um grande consumidor de commodities, e o Brasil tem, entre os principais produtos exportados, justamente as commodities, como minério de ferro e petróleo”, comentou Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.
Neste cenário, após registrar a cotação máxima de 5,5279 reais (-0,13%) às 9h16, ainda na primeira hora de negócios, o dólar despencou para a mínima de 5,4466 reais (-1,60%) às 11h13.
O movimento esteve em sintonia com o exterior, onde a moeda norte-americana também cedia ante quase todas as demais divisas. O real e o peso chileno eram as divisas mais fortes.
Às 17h06, o índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- caía 0,55%, a 100,370.
O pacote da China acabou por ofuscar o noticiário doméstico, pelo menos no mercado de câmbio. Pela manhã o Banco Central publicou a ata de seu último encontro de política monetária, quando elevou a taxa básica Selic em 25 pontos-base, para 10,75% ao ano.
No documento, o BC informou que a alta da Selic foi retomada com base em três pontos: um cenário que demanda política monetária mais contracionista, uma percepção de que o início do ajuste deveria ser gradual e uma discussão sobre ritmo, magnitude do ciclo e sua comunicação.
"Em virtude das incertezas envolvidas, o Comitê preferiu uma comunicação que reforça a importância do acompanhamento dos cenários ao longo do tempo, sem conferir indicação futura de seus próximos passos, insistindo, entretanto, no seu firme compromisso de convergência da inflação à meta", disse o BC no documento.
A mensagem da ata foi reforçada pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, durante evento em São Paulo. Segundo ele, o número mais recente de inflação foi "até melhor", mas ao se observar o quadro mais completo a "dinâmica de inflação ainda preocupa o Banco Central".
Profissionais ouvidos pela Reuters nos últimos dias têm avaliado que a perspectiva de uma Selic ainda mais alta no Brasil, com juros menores nos EUA, abriria espaço para o dólar buscar níveis abaixo dos 5,40 reais. No entanto, a preocupação do mercado com o equilíbrio fiscal -- que vem sustentando a curva de juros brasileira -- seria um obstáculo para isso.
Pela manhã, o BC vendeu todos os 12.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão para rolagem do vencimento de 1º de novembro de 2024.