SÃO PAULO (Reuters) -O dólar retomou nesta quarta-feira a trajetória mais recente de baixa ante o real no Brasil, na esteira da percepção positiva em relação ao novo arcabouço fiscal do governo e da divulgação de dados fracos sobre a atividade econômica nos EUA, que reforçam a avaliação de que os juros norte-americanos podem não continuar subindo.
Neste contexto, profissionais ouvidos pela Reuters afirmaram que o diferencial de juros entre Brasil e EUA segue favorável à entrada de dólares no país, o que pesa sobre as cotações do dólar.
O dólar à vista fechou o dia cotado a 5,0501 reais na venda, em baixa de 0,65%.
Na B3 (BVMF:B3SA3), às 17:12 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,47%, a 5,0690 reais.
O dólar recuou ante o real durante toda a sessão. No início do dia, a participação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em evento do Bradesco BBI em São Paulo foi bem recebida nas mesas. Embora os comentários tenham reforçado falas anteriores, a percepção foi de que a relação do BC com o governo está melhor do que há algumas semanas.
Campos Neto falou para uma plateia do mercado financeiro que é preciso reconhecer o esforço do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para reduzir os riscos fiscais do país com a apresentação do novo arcabouço fiscal.
“Eu acho que o que foi anunciado até agora elimina o risco de cauda para aqueles que achavam que a dívida poderia ter uma trajetória mais explosiva”, afirmou Campos Neto.
Mais do que às notícias domésticas, o câmbio reagiu à divulgação de dados fracos da economia norte-americana.
Às 9h15 (horário de Brasília), o relatório de Emprego Nacional da ADP mostrou que foram abertos 145.000 postos de trabalho no setor privado no mês passado. Economistas consultados pela Reuters previam abertura de 200.000 vagas.
Às 11h, o Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM, na sigla em inglês) informou que seu PMI não manufatureiro caiu para 51,2 no mês passado, de 55,1 em fevereiro. Economistas consultados pela Reuters previam que o PMI não manufatureiro cairia para 54,5.
Os números reforçaram a percepção de fraqueza da economia norte-americana, o que em tese diminui o espaço para que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) continue a elevar sua taxa de juros.
Logo após a divulgação dos dados do ISM, o dólar à vista registrou a cotação mínima do dia, de 5,0166 reais (-1,31%). Na sequência, desacelerou as perdas, com investidores realizando lucros e outros agentes, como importadores, aproveitando as cotações mais baixas para comprar moeda.
“Os dados lá fora sugerem desaceleração da atividade, da inflação, e aí temos dois impactos que reverberam: o risco latente de haver uma recessão da economia americana, o que penaliza ativos como o dólar, e o que será feito na próxima reunião do Fed”, comentou Fernando Bergallo, diretor da assessoria de câmbio FB Capital.
“Existe muita gente avaliando a possibilidade de haver a manutenção da taxa de juros nos EUA. Isso traz um impacto direto no diferencial de juros entre Brasil e EUA e gera fluxo financeiro”, disse.
Um operador ouvido pela Reuters acrescentou que, nos últimos dias, não há motivos para que o dólar suba ante o real. Segundo ele, os ruídos políticos no Brasil diminuíram e a agenda está relativamente esvaziada.
No exterior, o dólar tinha movimentos mistos em relação a outras moedas de países emergentes no fim da tarde. A divisa dos EUA caía ante a lira turca e o peso colombiano, mas subia ante o peso mexicano e o peso chileno.
Às 17:12 (de Brasília), o índice do dólar --que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas-- subia 0,40%, a 101,930.
Na manhã desta quarta-feira, o Banco Central vendeu todos os 16.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados na rolagem dos vencimentos de maio.
(Por Fabrício de Castro; edição de Isabel Versiani)