Dólar encerra pregão abaixo de R$ 5,50 de olho em PEC dos Precatórios

Publicado 09.11.2021, 15:33
Atualizado 09.11.2021, 19:10
© Reuters.  Dólar encerra pregão abaixo de R$ 5,50 de olho em PEC dos Precatórios
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O otimismo em torno da aprovação da PEC dos Precatórios em segundo turno na Câmara dos Deputados - ponto fundamental para dar alguma visibilidade sobre o Orçamento de 2022 - pautou os negócios no mercado no mercado doméstico de câmbio nesta terça-feira, 9. Afora uma pequena alta na abertura, quando atingiu a máxima a R$ 5,5493, o dólar operou em queda ao longo de toda sessão, quase sempre abaixo do limiar dos R$ 5,50 - tido por muitos profissionais do mercado como piso informal da taxa de câmbio, cujo teto estaria em R$ 5,70.

A senha para a queda da moeda americana ainda pela manhã foi a decisão da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), de negar pedidos de partidos da oposição para suspender a tramitação da PEC. Ao longo da tarde, com a vitória do governo em votação de alguns destaques à PEC por boa margem (um prenúncio da a aprovação final da proposta na Câmara), a moeda americana chegou a tocar o patamar de R$ 5,45, ao descer até a mínima de R$ 5,4568 (-1,52%).

Já com o pregão praticamente encerrado veio a notícia de que o STF formou maioria para barrar os repasses do "orçamento secreto", mantendo, por placar parcial de 6 votos a 0, liminar concedida na sexta-feira por Rosa Weber. As chamadas emendas do relator são vistas como a principal moeda de troca do Palácio do Planalto no Congresso. Um pouco antes, o governo havia perdido a votação do destaque à PEC que previa uma mudança na "regra de ouro", um dos pilares do regime fiscal brasileiro.

Com isso, o dólar fechou a sessão a R$ 5,4948, em baixa de 0,83%, o que leva a uma queda acumulada de 2,68% neste mês. Uma vez mais, o giro com o contrato futuro para dezembro (principal termômetro do apetite por negócios) foi reduzido, na casa de US$ 12 bilhões. Isso sugere pouca disposição dos investidores para montar posições mais contundentes.

Após o fechamento do mercado, o governo colheu uma vitória ao manter na PEC dos Precatórios o trecho que traz a alteração da regra de cálculo do teto de gastos, com um placar de 316 votos a favor e 174 contrários. Em resposta, o dólar futuro para dezembro experimentou uma queda adicional para encerrar o pregão a R$ 5,49900, baixa de 1,31%.

O economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, classifica a queda do dólar hoje como uma "devolução tímida" dos prêmios de risco embutidos na taxa de câmbio após o anúncio da mudança da regra do teto no mês passado. "O real havia se descolado muito dos outros emergentes e agora está devolvendo um pouco da alta recente. Uma aprovação da PEC traz certo alívio, mas o mercado continua nervoso e muito volátil", afirma Velloni, ressaltando que, não fosse o "fator político", o dólar estaria abaixo do patamar de R$ 5,25.

Para Velloni, a aceleração do ritmo de aperto monetário para 1,5 ponto porcentual pelo Banco Central e a perspectiva de que a taxa Selic atinja dois dígitos aumentam, em tese, a atratividade da renda fixa, mas não são suficientes para trazer um grande fluxo de investimentos estrangeiro para o Brasil. "Não basta aprovar a PEC e ter juro mais alto. O governo tem que gerar expectativas melhores e mostrar que sua base no Congresso é forte para aprovar outras medidas", diz o economista-chefe da Frente Corretora.

O head de câmbio da Acqua-Vero Investimentos, Alexandre Netto, também não vê espaço para uma rodada de apreciação do real. A aprovação da PEC, diz Netto, dá "uma cara mais bonita" para o furo do teto de gastos e evita que o governo tenha que recorrer a créditos extraordinários para pôr o Auxílio Brasil de pé. "Houve um overshooting muito forte do dólar e agora vemos um retorno com ajuste de posições. A percepção de risco do estrangeiro com a questão fiscal amenizou um pouco. Mas não vamos ver o dólar muito mais para baixo, mesmo coma postura mais dura do BC", diz Netto, que estima taxa de câmbio ao redor de R$ 5,50 no fim deste ano.

Lá fora, a moeda americana teve desempenho misto em relação a divisas de países emergentes e de exportadores de commodities, com fortalecimento frente ao rand sul-africano e queda na comparação o peso mexicano, ambos considerados pares do real. Já o índice DXY - que mede o desempenho frente a seis divisas fortes - operava em queda, abaixo da linha dos 94,000 pontos.

Entre os indicadores, destaque para o índice de preços ao Produto nos EUA, que subiu 0,6 em outubro, em linha com o esperado, enquanto o núcleo subiu 0,4%, levemente abaixo das projeções, de 0,5%. As expectativas se voltam para a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI) nos EUA amanhã, diante do debate sobre a transitoriedade da inflação, tese defendida pelo Federal Reserve. A medida das expectativas de Projeções Broadcast é de alta de 0,6% do CPI em outubro, o que representaria uma aceleração ante setembro (0,4%). O núcleo do CPI (exclui alimentos e energia), deve acelerar de 0,2% para 0,4%).

O presidente do BC americano, Jerome Powell, disse hoje que a instituição está atenta não apenas à taxa de desemprego e à criação mensal de postos de trabalho para avaliar se o país atingiu o "pleno emprego" - umas das metas do Fed e requisito para aperto da política monetária.

Na linha "dovish" de Powell, a presidente da distrital de São Francisco do BC, Mary Daly, disse que subir os juros de forma prematura, para responder "efeitos transitórios na inflação, pode frear a expansão do emprego sem conseguir conter o avanço dos preços. Da ala mais dura da instituição, o presidente do Fed de St. Louis, espera que a instituição eleve a taxa de juros duas vezes em 2022.

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