Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar subia frente ao real nesta quinta-feira, em linha com a força em mercados emergentes, à medida que investidores avaliavam novas notícias vindas da China que decepcionaram os mercados globais e analisavam novos dados econômicos dos Estados Unidos.
Às 9h47, o dólar à vista subia 0,32%, a 5,6816 reais na venda. Na B3 (BVMF:B3SA3), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha alta de 0,18%, a 5,688 reais na venda.
Os mercados renovavam seu pessimismo diante das perspectivas para a China, após uma entrevista coletiva do governo sobre medidas para o setor imobiliário, cuja crise é uma das principais causas para a desaceleração da segunda maior economia do mundo, não impressionar investidores.
A China anunciou que ampliará uma lista de projetos habitacionais elegíveis a financiamento e aumentará os empréstimos bancários para esses empreendimentos para 4 trilhões de iuanes (562 bilhões de dólares) até o final do ano.
Analistas viram o anúncio como apenas uma complementação de medidas de estímulo ao setor já apresentadas anteriormente, concluindo que, na prática, não houve nenhuma novidade no briefing.
A decepção dos investidores com a China, maior importador de matérias-primas do planeta, voltava a pressionar os preços de commodities, com quedas em produtos importantes para a pauta exportadora de países emergentes, como o minério de ferro.
"A China frustrou novamente o mercado, o que impacta commodities. Se é um dia mais fraco de commodities, você tem uma consequente desvalorização de moedas de países cuja pauta exportadora é muito associada a elas, que é o caso do Brasil", disse Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
Com isso, o dólar se fortalecia frente a moedas emergentes, com ganhos contra o peso mexicano, o rand sul-africano e o peso chileno.
Outro fator para a força do dólar no exterior, os EUA voltaram a apresentar dados fortes para a economia nesta quinta, o que fez agentes financeiros reduzirem ainda mais a expectativa por um afrouxamento monetário agressivo no Federal Reserve.
Números do governo mostraram que as vendas no varejo subiram 0,4% em setembro na base mensal, acima da alta de 0,3% esperada por analistas consultados pela Reuters e uma melhora ante o avanço de 0,1% no mês anterior.
O resultado mostrou que o mercado consumidor dos EUA continua resiliente, o que afasta ainda mais temores de uma desaceleração econômica agressiva e reduz o espaço para cortes de juros. Como consequência, os rendimentos dos Treasuries subiam.
Operadores colocavam 11% de chance de o Fed manter os juros inalterados em sua reunião de novembro, de 5% antes dos dados. A probabilidade de um corte de 25 pontos está em 89%.
O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 0,10%, a 103,640.
Também estava no radar a decisão de política monetária do Banco Central Europeu, que decidiu reduzir os juros em 25 pontos-base pelo segundo encontro consecutivo. O banco, no entanto, não forneceu sinais sobre seus movimentos futuros.
No cenário doméstico, o mercado ainda demonstra preocupações com a questão fiscal, à medida que o governo vem prometendo anunciar medidas de contenção de gastos a fim de cumprir a meta de déficit primário zero para este ano.
"Continua o ceticismo por parte do mercado em relação às medidas de contenção de gastos prometidas pelo governo... Promessas não pagam dívidas, a gente precisa de uma materialização. Então, no curto prazo, ainda haverá essa incerteza contínua", completou Spiess.
A incerteza fiscal continuava tendo efeito na curva de juros brasileira, com os juros futuros apresentando altas sólidas nesta sessão.