Investing.com – Economistas divergem sobre quando a taxa de juros brasileira pode cair, mas a expectativa consensual é de que a Selic deve terminar o ano mais baixa. A perspectiva de uma flexibilização monetária já vem impulsionando o Ibovespa nos últimos meses, mas alguns papéis podem ser mais beneficiados com o afrouxamento monetário. Veja a seguir as perspectivas para os ativos segundo analistas ouvidos pelo Investing.com Brasil sobre o tema:
Cristiane Fensterseifer, analista da Investe10, detalha que um benefício da diminuição da taxa de juros estaria relacionado ao valuation das companhias. “Quando a gente tem a queda da taxa Selic, a queda do custo de capital ponderado, que a gente usa pra fazer o desconto de fluxo de caixa das empresas quando a gente faz um valuation dessa forma, ela é muito positiva para basicamente todas as ações, que tendem a se favorecer”. Além disso, empresas mais endividadas são beneficiadas, tendo em vista que, quando os juros caem, as despesas da dívida tendem a cair.
Fensterseifer acredita que as varejistas e construtoras estão entre as principais favorecidas com a diminuição nos juros. “Com a queda da Selic, naturalmente é mais fácil para as pessoas terem crédito e, com mais crédito, elas compram mais, aumentando a capacidade de compra das pessoas”.
Entre as impulsionadas, a analista destaca a varejista C&A (BVMF:CEAB3), que se beneficia de um crédito mais facilitado para a compra dos clientes. “A companhia também tem um certo nível de alavancagem que não é excessiva, porque também não adianta, na minha opinião, pegar um risco muito alto de investir em uma ação muito alavancada. Teoricamente, muito alavancada se beneficia da queda da Selic, mas continua sangrando na despesa financeira que está muito alta”, pondera.
Outra empresa elencada pela analista é a Ambipar (BVMF:AMBP3). “Ela possui quase metade da receita no exterior, mas boa parte ligada ao Brasil e ela também vai se beneficiar porque tem um endividamento um pouco mais alto, é uma empresa que cresce em aquisições e se endividou para adquirir empresas. Isso fez efeito, e a companhia cresceu, mas agora está um pouco endividada”.
Ivan Barboza, sócio-gestor do Ártica, concorda que dois setores bastante sensíveis à curva de juros são o de incorporação imobiliária e o varejo. “Ambos têm parte de sua demanda dependente de financiamentos para o consumo. Assim, à medida que a Selic cair, esse financiamento se torna mais barato e estimula maior volume de compras”, aponta.
As empresas que se beneficiam com a queda dos juros, em geral, são empresas endividadas e aquelas com receita mais estável, indexada à inflação, como concessões, acredita Fernando Siqueira, Head de Research da Guide Investimentos. “Com dividendos altos, muitas vezes acabam tendo uma correlação maior porque esse dividendo fica mais atrativo quando o juro está mais baixo”, afirma Siqueira.
Nesse momento, a Guide aposta em ações como Ecorodovias (BVMF:ECOR3) e Simpar (BVMF:SIMH3), que estão endividadas e são bem sensíveis a juros. Ecorodovias também entraria na lista de empresas com contratos mais indexados à inflação. Além disso, as small caps são sensíveis ao ciclo de captação da indústria de fundos local. “Normalmente, quando a indústria está indo bem, essas ações tentam uma performance melhor e vice-versa. Como os fundos sofreram bastantes resgates com esse aumento dos juros nos últimos dois anos, a gente acha que a inflexão está perto, a virada está começando já com a expectativa de queda da Selic”, completa o especialista da Guide.
Entre os destaques, estariam, além do varejo, companhias se setores como locação de veículos, shoppings e algumas companhias do setor elétrico, segundo Heitor De Nicola, especialista de renda variável e sócio da Acqua Vero.
“No caso de do setor de locação de veículos de varejo, boa parte da dívida que essas empresas têm são atreladas a taxa Selic. Normalmente elas, são pós-fixadas, então, uma queda de juros acaba diminuindo a taxa dessa dívida. Ou seja, diminui o valor da dívida que essas empresas têm, além de liberar um pouco de espaço para que elas consigam manter os seus níveis de alavancagem”.
No varejo e shoppings, além da questão da dívida, a queda nos juros envolve o consumo, pois acaba estimulando a economia. “A gente vem de um período longo onde o endividamento das famílias está em patamares altos. Então, é claro que isso não vai acontecer de uma vez e a melhora tende a ser gradativa”, conclui o especialista.