Investing.com - Um dos piores cenários para o presidente Michel Temer vai se impondo neste dia seguinte à bomba política que a delação premiada dos executivos da JBS (SA:JBSS3) armaram para o governo. Temer passou a ser investigado oficialmente no STF, aliados começam a desembarcar do governo e a pressão na rua e na imprensa parece ter se avolumado.
O PSDB, abalado internamente pela operação que atacou diretamente Aécio Neves, limado da presidência do partido, já prepara terreno para deixar o governo. Os tucanos têm sido os principais aliados de Temer - às vezes até mais que o próprio PMDB - do presidente na campanha de reformas e recuperação da economia, de olho nas eleições de 2018.
O ministro das Cidades, o tucano Bruno Araújo, anunciou sua demissão e deverá puxar a fila do primeiro escalão. O deputado federal deu o voto definitivo pela aprovação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e foi delatado pela Odebrecht por ter recebido dinheiro não declarado.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que "os implicados terão o dever moral de facilitar a solução, ainda que com gestos de renúncia" em meio a informação de que deputados do partido já falam em saída do governo, se o áudio for verdadeiro. O deputado tucano João Gualberto, de Pernambuco, já pediu o impeachment de Temer.
O PSB, partido que Temer conseguiu avanço nas últimas semanas em relação à reforma da Previdência, convocou reunião da executiva e discutirá apoio a uma saída do presidente. O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, deverá entregar o cargo.
O pequeno PTN, com 13 deputados, também informou o rompimento com o governo.
A tendência de perda da base aliada é um dos principais problemas de Michel Temer, pois inviabiliza ações do governo no Congresso, como as reformas, e possibilita o andamento de um processo de impeachment. Há, ao menos, quatro pedidos para o afastamento do presidente na Câmara dos Deputados.
Temer deverá fazer um pronunciamento à tarde e a expectativa é que ele rebata as acusações. O Globo informa que o presidente já considera a renúncia como a melhor opção.
Investigação autorizada
Por se tratar de um fato ocorrido durante o mandato atual, o ministro do STF Edson Fachin autorizou a abertura de inquérito contra o presidente.
Apesar de que o andamento não seja tão ágil como a votação da cassação da chapa Dilma-Temer no TSE ou um impeachment no Congresso, a investigação coloca pressão e tira força política do presidente.
Hoje são aguardados novos fatos, já que o STF deverá divulgar para a imprensa o conteúdo da delação dos executivos da JBS. O áudio com a voz do presidente apoiando a obstrução da Lava Jato poderá selar o destino de Temer.
Além de incentivar o pagamento pelo silêncio de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, Temer aparece em denúncia de passar informações privilegiadas como a dimensão do corte da Selic aos executivos da JBS.
Pressão nas ruas
Ontem, em movimento semelhante, ainda que com menor força, ao ocorrido quando as gravações de Lula e Dilma foram divulgadas pelo juiz Sergio Moro, houve protestos espontâneos na rua após a divulgação da delação da JBS.
Os protestos, no ano passado, foram decisivos para determinar o fim do governo Dilma e as novas manifestações marcadas para hoje podem ter efeito semelhante para Temer.