Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) -O governo brasileiro aguarda a publicação, pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, dos dados por mesa de votação da eleição realizada no domingo no país vizinho, disse nesta segunda-feira o Ministério das Relações Exteriores, em uma nota em que cobrou transparência na apuração e sem cumprimentar Nicolás Maduro pela reeleição declarada por ele.
Apesar de saudar o "caráter pacífico" do pleito venezuelano, o governo brasileiro diz no texto que "acompanha com atenção o processo de apuração" e "reafirma ainda o princípio fundamental da soberania popular, a ser observado por meio da verificação imparcial dos resultados".
A chancelaria brasileira disse ainda que a publicação de dados desagregados por mesa de votação pelo CNE é um "passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito".
A autoridade eleitoral venezuelana disse que o atual presidente Maduro conquistou um terceiro mandato com 51% dos votos, mas pesquisas de boca de urna independentes apontavam para uma grande vitória da oposição.
Tanto Maduro quanto o candidato de oposição, Edmundo González, reivindicaram vitória, enquanto os governos dos Estados Unidos e de outros países lançaram dúvidas sobre os resultados oficiais.
De acordo com uma fonte diplomática, o governo brasileiro considerou insuficiente a publicação do resultado pelo CNE e avalia como essencial a publicação das atas -- o que até agora o Conselho não fez -- para que o resultado possa ser crível.
Até o domingo da eleição, as informações que o Itamaraty recebia era de que a situação de Maduro era difícil e a oposição possivelmente venceria o pleito, o que leva a um ceticismo em relação à vitória declarada de Maduro sem a transparência da publicação das atas das mesas eleitorais, segundo a fonte.
Ainda de acordo com a fonte, a nota publicada pelo Itamaraty teve a aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes de ser publicada, mas ele pessoalmente não deve se manifestar diretamente por enquanto.
Apesar de ter tido uma relação próxima com o presidente venezuelano, Lula vem mostrando irritação e incômodo com a postura adotada por Maduro nos últimos tempos. Na semana passada, em entrevista a agências internacionais de notícias, Lula se disse "assustado" com a retórica do venezuelano, que chegou a falar de "banho de sangue" caso não fosse eleito.
Lula revelou ainda que conversou por duas vezes com Maduro e que disse a ele que a única chance de a Venezuela voltar a crescer era não haver dúvidas sobre a lisura e o resultado das eleição.
O Brasil enviou o embaixador Celso Amorim, assessor especial da Presidência, para acompanhar o pleito. Em declaração enviada a jornalistas, Amorim disse que o governo brasileiro continua acompanhando os acontecimentos para "poder chegar a uma avaliação baseada em fatos."
"Como em toda eleição, tem que haver transparência, o CNE ficou de fornecer as atas que embasam o resultado anunciado. Também não vou endossar nenhuma narrativa de que houve fraude. É uma situação complexa e nós queremos apoiar a normalização do processo político venezuelano", afirmou.
Amorim deve ter encontros nesta segunda com Maduro e com González para ouvir as posições dos dois lados, e também com observadores internacionais.
(Reportagem de Lisandra ParaguassuEdição de Pedro Fonseca)