O atual conflito entre Israel e Hamas envolve uma disputa territorial de séculos. Palestinos e judeus reivindicam a região com base em marcos históricos e religiosos.
O sionismo é um dos precedentes que explicam a ocupação judaica da Palestina. O movimento político, criado por Theodor Herzl, começou no fim do século 19 por meio da comunidade de judeus na Europa.
Ele defende a criação e a manutenção de um Estado nacional judaico. O território palestino foi o escolhido por ser o local onde os judeus haviam habitado e teriam direito a Terra Prometida. Por isso, eles reivindicam um vínculo histórico com a região. Lá também é onde está localizada Jerusalém, cidade sagrada para muçulmanos, judeus e cristãos.
Em 1917, o governo britânico manifestou em carta seu apoio em “estabelecer, na Palestina, um lar nacional para o povo judeu”. O ato ficou conhecido como Declaração Balfour, em referência a Arthur Balfour, então ministro das Relações Exteriores britânico responsável por escrever a carta e enviá-la a Lionel Walter Rothschild, líder da comunidade judaica no Reino Unido.
Na época, a Palestina fazia parte do Império Otomano, que foi desintegrado com o fim da 1ª Guerra Mundial em 1918.
Depois do conflito, a Liga das Nações, antecessora da ONU (Organização das Nações Unidas), determinou formalmente um mandato britânico para a região, que entrou em vigor em 1923 e terminou em 1948. Na administração, o governo britânico incorporou os princípios da Declaração Balfour.
Milhares de judeus, impulsionados pelo sionismo, migraram para a região nesse período. O fenômeno foi intensificado pelo antissemitismo propagado pelo nazismo, durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945).
No entanto, o local era composto por uma maioria árabe e o choque entre as etnias, junto com a expulsão de palestinos de suas casas, na região resultou em revoltas e levou à repressão por parte das forças britânicas e grupos paramilitares judaicos.
Os britânicos transferiram a questão territorial para a ONU. A organização, criada em 1945, propôs em 1947 a partilha da Palestina para a criação de um Estado árabe e um Estado judeu (Israel).
Também foi sugerido um regime especial para Jerusalém, que seria designada como uma cidade internacional sob a administração das Nações Unidas. Os judeus aceitaram, mas os árabes recusaram a divisão, alegando terem ficado com terras com menos recursos.
No entanto, em 1948, Israel declarou independência. O ato deu início à 1ª Guerra Árabe-Israelense, na qual Egito, Síria, Líbano, Jordânia, Iraque e grupos palestinos entraram em confronto com as forças israelenses.
Durante o conflito, Israel acabou conquistando territórios da Palestina (77%, segundo a ONU), o que resultou em uma diminuição das áreas palestinas estabelecidas pela proposta das Nações Unidas. A Cisjordânia e Faixa de Gaza foram as exceções. Os territórios passaram a ser controlados, respectivamente, pela Jordânia e pelo Egito.
A 1ª Guerra Árabe-Israelense também causou o que os palestinos chamam até hoje de Nakba, palavra em árabe que significa “catástrofe” ou “desastre”. O termo se refere a expulsão de mais de 700 mil palestinos de suas terras. Eles se abrigaram em países vizinhos e em campos de refugiados na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, que existem até os dias atuais.
O fim do conflito se deu em 1949. Com ele, houve uma divisão da cidade de Jerusalém em Jerusalém Ocidental, que ficou sob controle israelense, e Jerusalém Oriental, sob comando da Jordânia.
Em 1967, houve outro embate entre Israel e nações árabes (Egito, Síria e Jordânia). No conflito conhecido como Guerra dos 6 Dias, os israelenses tomaram o controle da Faixa de Gaza, da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental. Também passaram a comandar as Colinas de Golã, território da Síria. A guerra provocou um 2º êxodo de palestinos. Cerca de 500 mil pessoas deixaram a região, segundo a ONU.
Foi a partir da Guerra de 6 dias que Israel começou a construir pequenas comunidades judaicas na Cisjordânia. Os chamados assentamentos israelenses existem até os dias atuais. A ONU se manifestou contra a ocupação israelense e decretou a ilegalidade desses assentamentos. Também classificou a Cisjordânia e a Faixa de Gaza como territórios palestinos ocupados.
Em 1974, a ONU reafirmou os direitos inalienáveis do povo palestino à autodeterminação, à independência nacional, à soberania e ao regresso de sua população aos territórios ocupados.
No mesmo ano, a Assembleia Geral das Nações Unidas reconheceu a OLP (Organização para a Libertação da Palestina) como o único representante legítimo dos palestinos. A organização é considerada um 1º passo para a criação de um Estado palestino, que seria composto pela Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental.
Em 1987, iniciou-se a 1ª Intifada, na qual palestinos se revoltaram contra a tomada israelense de seus territórios. Os conflitos duraram cerca de 6 anos, sendo encerrados a partir da assinatura dos Acordos de Oslo, em 1993, pelo então primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin, e o líder da PLO, Yasser Arafat.
A iniciativa foi mediada pelo então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton. O processo durou até 1995. Nos acordos, os palestinos reconheceram o Estado de Israel.
Eles também estabeleceram a criação da ANP (Autoridade Nacional Palestina) para governar os territórios palestinos. Ela também seria responsável pela construção das instituições políticas para viabilizar a criação do Estado da Palestina.
Os acordos resultaram ainda na divisão da Cisjordânia em 3 partes. São elas:
- Área A: território que compreende a 18% da cidade sob controle da ANP;
- Área B: território que equivale a 22% da cidade sob controle conjunto israel-palestino;
- Área C: território que compreende 60% da cidade sob controle israelense.
Negociações entre Israel e Palestina continuaram a ser realizadas, mas falharam em resolver outros problemas. Alguns deles foram a manutenção da ocupação israelense nas regiões palestinas e a ampliação dos assentamentos israelenses. A falta de um consenso resultou na 2ª Intifada palestina em 2000.
Com o fim do conflito em 2005, Israel retirou tropas e assentamentos da Faixa de Gaza. A região passou a ser controlada pelo Hamas em 2007 depois de o grupo vencer a 1ª eleição palestina em 2006. Com isso, o governo israelense estabeleceu um bloqueio à Gaza, controlando o espaço aéreo e os recursos hídricos da região. Segundo a ONU, a medida causou uma crise humanitária “profunda”.
SITUAÇÃO ATUAL
Os palestinos continuam a não ter um Estado independente. Desde 2007, os territórios podem ser divididos em 2 tipos de administração.
A 1ª engloba a Faixa de Gaza sob comando do Hamas. O grupo defende atos extremistas como forma de defender os palestinos e a extinção do Estado israelense. Os conflitos recentes envolvem ofensivas entre Israel e o Hamas, com registros de ataques em 2008, 2009, 2012, 2014, 2018 e 2019. Gaza é o centro da guerra atual iniciada em 7 de outubro de 2023.
A outra abrange a Cisjordânia, cidade parcialmente administrada pela ANP. A Autoridade Nacional Palestina comanda a Área A do território, com seu centro administrativo localizado na cidade de Ramallah.
A representação palestina é liderada pelo Fatah, grupo político que se apresenta como nacionalista e laico, sendo considerado mais moderado que o Hamas. Mahmoud Abbas é o atual presidente.
No entanto, Israel continua a ocupar a Cisjordânia, com a expansão de assentamentos judaicos na Área C e o controle militar da Área B.
A situação de Jerusalém ainda é indefinida. A cidade continua a ser majoritariamente controlada por israelenses. Israel considera a região como uma capital indivisível e estabeleceu sedes governamentais na cidade, como a Suprema Corte israelense, o Knesset (Parlamento do país) e o Beit HaNassi –residência oficial do Presidente de Israel.
Jerusalém Oriental, tomada por israelenses depois da Guerra dos 6 Dias em 1967, é considerada pela ONU como um território palestino ocupado.