Por Rodrigo Viga Gaier e Fabio Teixeira
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Sob a gestão da nova presidente da Petrobras (BVMF:PETR4), Madga Chambriard, a companhia deverá cumprir seu plano de investimentos sem surpresas ao investidor, mas também terá a missão de impulsionar a economia do Brasil, com iniciativas para a ampliação da oferta de gás a custo mais baixo, defendeu o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, nesta terça-feira.
Em evento no Rio de Janeiro, após o anúncio da mudança no comando da Petrobras na semana passada que despertou temores de investidores sobre maior intervenção do governo na companhia, Silveira afirmou que no curto prazo pode se esperar que Chambriard cumprirá o atual plano de investimentos da Petrobras "sem nenhuma surpresa para o investidor".
Segundo Silveira, a Petrobras é uma empresa "extremamente lucrativa e vai continuar responsável com seus investimentos".
Mas a empresa precisa "fazer o outro lado previsto na Constituição e na Lei das Estatais, que é servir também como mola propulsora do desenvolvimento nacional", destacou o ministro.
Ele ressaltou que o planejamento estratégico que soma mais de 100 bilhões de dólares em cinco anos já prevê que a Petrobras retorne para projetos em fertilizantes ou gás, mas é preciso aprofundá-los.
"O plano de investimentos prevê esses investimentos com a maior celeridade possível para a gente conseguir devolver aos brasileiros suas potencialidades energéticas de forma adequada. Temos que estudar como aumentar a oferta de gás no Brasil e diminuir o preço", destacou ele a jornalistas, na base aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, em evento para o envio de doações ao Rio Grande do Sul.
Conforme o ministro, é "inadmissível que tenhamos o gás saindo do gasoduto a mais de 10 dólares e chegando ao consumidor final a mais de 14 dólares".
"Isso não faz com que nossa indústria química, que está com 30 por cento de ociosidade, volte a crescer...", comentou.
Silveira se envolveu em várias polêmicas em torno do tema com o CEO anterior, Jean Paul Prates, argumentando que a Petrobras deveria investir mais em gás. O ex-CEO considera que o ministro é um dos que esteve por trás de sua saída.
"O plano prevê investimentos em gás, fertilizantes, segurança alimentar e energética no Brasil, que se tornou mais claro após Rússia e Ucrânia...", mencionou, em referência à dependência brasileira de fertilizantes importados, notadamente da Rússia.
Para o ministro, "Magda chega com muito gás, muita energia e com a força da mulher brasileira para fazer o Brasil crescer e nos orgulhar, combater as desigualdades...".
No entanto, há fatores muito além de força de vontade da nova CEO que podem limitar os projetos do governo, se eles não cumprirem os ritos de governança fortalecidos nos últimos anos, segundo especialistas ouvidos pela Reuters.
Depois de um grande escândalo de corrupção revelado em 2014 pela investigação da Operação Lava Jato, novas regras de controle sobre as decisões de negócios na Petrobras foram estabelecidas.
Ao ser questionado, o ministro viu como inadequadas as falas daqueles que acusam o governo de intervenção no processo de mudança no comando da Petrobras.
"Vamos esclarecer, a Petrobras tem capital aberto, é listada em Nova York, é a maior empresa do país e de economia mista; na sua natureza, é controlada pelo governo e a maior parte dos seus investidores... me desculpa, mas a palavra intervenção é completamente inadequada."
MARGEM EQUATORIAL
Sobre a polêmica exploração da Margem Equatorial, onde está situada a Bacia da Foz do Amazonas, Silveira disse que ele e Magda têm o mesmo pensamento, em prol de se descobrir as potencialidades e depois explorá-las.
"Os brasileiros têm o direito conhecer suas potencialidades energéticas e uma delas, que inclusive está sendo explorada na Guiana, tem que ser conhecida pelo Brasil..."
A Petrobras aguarda autorização do Ibama para iniciar a exploração da Foz do Amazonas, em processo que já recebeu negativas do Ibama devido a questões ambientais e indígenas na região.
Mais cedo, em entrevista à GloboNews, Silveira afirmou que o nome de Chambriard está sendo analisado pela governança interna da Petrobras e que o "caminho natural" é que ela seja aprovada pelo conselho de administração, tomando posse em seguida do cargo.
O ministro não comentou, porém, se a aprovação de Chambriard poderá ocorrer em reunião de conselho já nesta sexta-feira.
"O que depender do presidente Lula, do conselho de administração, do ministro de Minas e Energia do Brasil (BVMF:ENBR3), é sem barulho, com serenidade, cumprir aquilo que foi estabelecido, o plano de investimento", afirmou Silveira.
(Com reportagem adicional de Letícia Fucuchima)