BBAS3: Por que as ações do Banco do Brasil subiram hoje?
Investing.com - Após a divulgação na véspera de um lucro trimestral 60% menor entre abril e junho deste ano e do corte nas projeções de lucro e dividendos para o restante de 2025, as ações do Banco do Brasil (BVMF:BBAS3) fecharam hoje na contramão da expectativa inicial do mercado. Apesar da forte queda no início do pregão, as ações do Banco do Brasil se recuperaram e encerraram o pregão com avanço de quase de 4%, rompendo os R$ 20,00.
Os papéis do banco fecharam em alta de 3,98% a R$ 20,65, com um volume financeiro de R$ 2,64 bilhões. As ações do Banco do Brasil abriram a R$ 19,03, com a mínima em R$ 19,02. Após a reversão do sentimento negativo para positivo, os papéis chegaram a ser cotados na máxima de R$ 20,80, com preço médio do dia a R$ 19,99.
Conforme o WarrenAI - consultor de investimentos de inteligência artificial (IA) do Investing.com – antecipou, havia a possibilidade do papel do Banco do Brasil atrair apostadores em valuation. “O banco segue com P/L baixo (4,0x) e um dividend yield ainda robusto (11,3% em 2024), o que pode atrair caçadores de barganhas”, avaliou o consultor de IA antes da abertura do mercado, embora a sua perspectiva fosse de cautela em meio à deterioração do lucro e a redução de dividendos.
O lado comprador se sobrepôs com a teleconferência de resultados realizada na manhã de hoje. Segundo a CEO, Tarciana Medeiros, o banco enfrenta níveis recordes de inadimplência no agronegócio — principalmente soja, milho e gado — em regiões-chave do país. Além disso, Medeiros afirmou que 2025 é um “ano atípico” e que vê recuperação a partir do quarto trimestre. A gestão aposta em clima mais favorável e preços de commodities melhores na safra 25/26 para baixar provisões.
“Quem tem, mantenha; quem não tem, compre”, disse ela. A declaração deu suporte técnico ao papel, ajudando a conter vendas de curto prazo.
Por que as ações do Banco do Brasil sobem com notícias ruins?
Perguntamos novamente ao WarrenAI o motivo da subida das ações do Banco do Brasil hoje em meio a notícias ruins. O ChatGPT de investimento do Investing.com respondeu que o mercado já havia precificado parte da “tempestade perfeita”.
Os papéis do banco acumulam queda de -22,8% em 12 meses e -31,2% em 3 meses. Com o resultado finalmente divulgado e parte das incertezas esclarecidas, investidores aproveitaram para recompor posições, apostando que o pior já tenha ficado para trás. Além disso, a expectativa de melhora a partir do 4º trimestre, sinalizada pela CEO, pode ter animado quem busca antecipar uma eventual recuperação.
Como foi o balanço do 2º trimestre de 2025 do Banco do Brasil
O banco reportou lucro líquido ajustado de R$ 3,8 bilhões, queda de 60% em relação ao mesmo período do ano passado e cerca de 25% abaixo do consenso de mercado. O retorno sobre o patrimônio (ROE) recuou para 8,4%, de 16,7% nos primeiros meses do ano e de 21,6% um ano antes. Este ROE é um dos mais baixos dos últimos anos, refletindo provisões elevadas — especialmente no crédito para o agronegócio e para pequenas e médias empresas. Para efeito de comparação, o Itaú Unibanco (BVMF:ITUB4) teve ROE de 23,3%, enquanto o Santander Brasil (BVMF:SANB11) registrou 16,4% e o Bradesco (BVMF:BBDC4) marcou 14,6%.
O guidance de lucro para 2025 foi revisado para baixo, cortando o intervalo projetado para R$ 21 a 25 bilhões — redução de quase R$ 14 bilhões no ponto médio em relação à previsão anterior (entre R$ 37 bilhões e R$ 41 bilhões), que havia sido suspensa em maio. Mesmo no teto da faixa, a nova projeção ficou abaixo da média das expectativas compiladas pela LSEG, de R$ 26,757 bilhões.
Além disso, o payout de dividendos foi reduzido de 40%-45% para 30%, diminuindo o apelo para investidores com perfil voltado à renda. O BB explicou a decisão citando os resultados, a necessidade de caixa, projeções de capital, perspectivas dos mercados de atuação, além da manutenção e expansão da capacidade operacional.
Na avaliação de Renato A. F. Reis, analista fundamentalista na Blue3 Research, em postagem no X, o resultado do Banco do Brasil pode ser dividido em três partes:
- DRE: Provisionou o necessário, mas reduziu drasticamente o lucro e pagou alíquota de imposto de renda (IR) de apenas 2%, inflando o resultado líquido acima da realidade, que teria sido por volta de R$ 2 bilhões se tivesse pago o IR na alíquota original de 34%.
- Spreads e crédito: Mantém crédito agressivo e spreads maiores, mas provisões elevadas derrubaram o spread ajustado, ampliando o risco de forma desproporcional.
- NPL (inadimplência): No agro, o NPL caiu após forte provisão, mas em PF e PJ a alta da inadimplência, sem provisões proporcionais, pode gerar problemas futuros e exigir freio no crédito.
“A situação está bem feia, o banco está saindo de um problema e se enfiando em outro. Se o BB continuar assim, dos 21 bi de guidance de lucro, metade vai ser só de IR diferido. Um baita gol de mão. Tenho medo do que pode ser o balanço do próximo trimestre”, conclui Reis, da Blue3 Research, no X.
*Com contribuição de Reuters