Por Geoffrey Smith
Investing.com – O Alibaba Group Holdings (NYSE:BABA) iniciou uma nova era – e um novo ciclo de euforia.
O que o gigante chinês da internet quer é que você acredite que a realidade, desta vez, fará jus a toda essa euforia. A narrativa que está sendo criada é que o desmembramento do grupo está sendo feito em nome da eficiência, na expectativa de que sua base global de investidores ignore sua castração pelo Partido Comunista, que acabou com seus sonhos de dominar todos os setores, desde o e-commerce até supermercados e gestão de patrimônio.
Para usar de eufemismo, o ônus da prova recai sobre Jack Ma e seu sucessor indicado, Daniel Zhang.
O Alibaba tinha a vantagem de ser pioneiro em um mercado de consumo que tende a se tornar o maior do mundo no próximo século, mas acabou jogando tudo para o alto, muito em razão da megalomania do seu proprietário, que levou a companhia a bater de frente com Pequim.
As ações repressivas dos órgãos reguladores, intensificadas pelos efeitos da pandemia e pelo abrupto aperto da política monetária do Federal Reserve, varreram todos os ganhos que a empresa conseguiu no mercado acionário desde que abriu seu capital em 2014. Apesar da recuperação nas últimas semanas, após as autoridades declararem que a campanha regulatória havia “basicamente acabado”, em uma perspectiva de nove anos, podemos dizer que a empresa não conseguiu aproveitar plenamente sua oportunidade inicial e não deve encontrar outra melhor no futuro próximo.
Isso não quer dizer que as medidas anunciadas por Zhang nesta semana sejam uma má ideia, pelo contrário. A companhia foi negociada abaixo da soma de suas partes nos últimos anos, e a intenção de criar empresas com operação independente, foco mais claro e maior responsabilidade é uma estratégia clássica recomendada pelas escolas de negócios. O Alibaba já começou a reverter o famigerado “desconto de conglomerado”, ganhando mais de US$ 32 bilhões em valor de mercado desde que as mudanças regulatórias foram anunciadas.
As medidas foram uma admissão de uma realidade que as grandes empresas de tecnologia dos EUA também estão enfrentando: a desaceleração do crescimento global tornou mais difícil financiar grandes apostas para um futuro distante. De fato, ao anunciar planos de se separar em seis novas empresas independentes via ofertas públicas, o grupo chinês avança em relação a expoentes como Amazon (NASDAQ:AMZN) e Alphabet (NASDAQ:GOOGL), onde apostas de “longa duração” seguem queimando caixa e recebendo subsídios internos, pelo menos por enquanto.
A relativa transparência do Alibaba deixa claro por que esses passos são necessários: apenas sua unidade China Commerce, que abriga a potência do marketplace Taobao, e sua divisão de nuvem são rentáveis. Aliás, tanto na nuvem como no e-commerce, o Alibaba exerceu papel de liderança na China. Nos setores onde tentou acompanhar outros players, acabou não tendo tanto sucesso, se considerarmos o lucro, e não a receita, como uma medida de êxito neste caso.
De acordo com a nova narrativa de Zhang, as novas empresas serão mais ágeis e responsáveis. Isso é verdade. Mas não vão desfrutar do privilégio de ser monopolistas virtuais, como o Alibaba no passado. O bonde já passou.
Tampouco haverá mais desafios à influência do Partido Comunista, como foi o caso de Jack Ma antes do IPO do Ant Group, cujo plano foi abortado às pressas por causa do governo, que se sentiu ofendido e resolveu mostrar aos barões da internet do país qual era o seu lugar. A foto cuidadosamente encenada desta semana, que mostrou Ma conversando em um ambiente descontraído com pesquisadores de Hangzhou sobre o futuro da IA, emitiu uma mensagem clara de que as intenções de Pequim foram internalizadas.
O futuro do Alibaba agora é meio “General Electric”, meio “Lukoil”. É possível que as empresas separadas gerem melhores retornos caminhando por conta própria. E aquelas que não conseguirem, inevitavelmente acabarão sucumbindo à concorrência.
Como parte do acordo de paz que permitiu ao Ant Group abrir o capital da sua unidade financeira, o grupo foi obrigado a ceder 10% de participação ao governo de Hangzhou, cujo representante no conselho muito provavelmente será o primeiro entre iguais, para dizer o mínimo. O risco de repressão governamental criou e deve continuar criando canais permanentes de ingerência nos negócios da companhia. E empresas constituídas nesses moldes têm menos probabilidade de se tornar o próximo “Taobao”.
Vladimir Putin barganhou de forma similar com os oligarcas russos há 20 anos: fiquem fora da política e poderão manter suas fortunas, esse era o mantra. Passadas duas décadas, os oligarcas perderam seus mercados de exportação e seus iates para as sanções internacionais, devido à decisão do ex-todo-poderoso Putin de isolar a Rússia ainda mais da Europa.
É um precedente que ninguém vai querer seguir, mas pode ser que não tenham escolha. O setor de tecnologia da China é muito mais dinâmico do que a indústria russa, mas, em última análise, será difícil conciliar uma economia do conhecimento com o desejo de controle do PCCh. Com isso, o pior – e provavelmente o melhor – para o Alibaba provavelmente já ficaram para trás.