Por Ana Beatriz Bartolo
Investing.com - Após uma longa novela de discussões, o processo de capitalização da Eletrobras (SA:ELET3) está prestes a acontecer, com a União deixando de ser a controladora da empresa. A reestruturação também possibilitará que trabalhadores utilizem seu FGTS para comprar ações. Será que esse tipo de movimentação faz dela uma boa oportunidade?
Analistas ouvidos por Investing.com avaliam que a operação deve trazer mudanças significativas na Eletrobras. Porém, não há consenso em relação à atratividade do investimento.
Na opinião de Victor Martins, analista-sênior da Planner Corretora, a Eletrobras é um excelente ativo, com relevante participação de mercado nos segmentos de geração e transmissão de energia,
“Sua alavancagem financeira é baixa, de 1,0x o Ebitda em mar/22, considerando uma empresa do seu porte e setor de atuação. Com a capitalização, a companhia dará seguimento na execução do seu Plano Diretor de Negócios e Gestão 2022-2026. O qual contempla investimentos totais de R$ 48,3 bilhões nos próximos 5 anos, com destaque para o segmento de Transmissão com R$ 20,0 bilhões, Geração com R$ 17,9 bilhões e outros R$ 8,7 bilhões nas SPEs”, explica Martins.
A União pretende reduzir a sua participação na Eletrobras de 60% para algo próximo dos 45% durante o processo de capitalização. Para o analista da Planner, isso dará a oportunidade para o investidor ter um bom ativo em um setor tido como defensivo e com bom histórico de distribuição de proventos.
“Passado o momento da oferta e concluída com sucesso, vemos um potencial importante de valorização, com um Preço Justo de R$ 60 por ação”, afirma Martins.
Já Gustavo Pazos, analista do time de Research da Warren, acredita que a Eletrobras hoje não é uma empresa tão interessante quanto os seus pares por causa da sua relação com o governo.
“Quando a gente faz uma análise intra setorial, a gente prefere outras empresas. Por exemplo, se formos falar em linhas de transmissão, a gente prefere a Taesa (SA:TAEE11), se a gente falar em geração de energia, a gente prefere a Engie (SA:EGIE3)”, explica Pazos.
A analista da Warren acredita que com a privatização da Eletrobras, pode ser que esse cenário mude, já que a expectativa é que a companhia fique “mais enxuta do ponto de vista administrativo e mais eficiente do ponto de vista operacional”. Isso sem contar a possibilidade de destravar valores e de ganhar investimentos que antes não existiam pelo fato da empresa ser uma estatal.
Ainda assim, Pazos defende que é cedo para saber como a privatização da Eletrobras realmente mudará a governança da estatal. "A gente só sabe que não será um controlador único, mas não sabemos como será feito esse controle e nem quais serão as ações tomadas ou como isso afetará os números da empresa”, comenta.
Por fim, apesar de existir uma possibilidade remota na visão de Pazos, o especialista afirma que não se pode descartar completamente a possibilidade da privatização não acontecer, especialmente por causa das eleições neste ano. Como consequência, isso poderia fazer com que os preços das ações da Eletrobras despencassem, segundo o analista da Warren.
Vale a pena investir FGTS na privatização da Eletrobras?
Uma particularidade do processo de capitalização da Eletrobras é a possibilidade da pessoa física usar até 50% do seu Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para participar do follow-on da empresa.
Nesse caso, os dois analistas concordam que essa é uma boa oportunidade para o investidor. Isso porque a rentabilidade do FGTS é uma das piores do mercado. “O FGTS rende a taxa referencial mais 3% ao ano, o que é menos que a poupança de agora e a inflação atual e histórica”, diz Pazos.
O analista da Warren também compara essa situação com o que aconteceu durante a privatização da Vale (SA:VALE3), quando os trabalhadores também puderam investir parte do seu FGTS na companhia mineradora.
“É grotesca a diferença entre quanto o FGTS e as ações da Vale renderam desde aquele momento até hoje. A Vale teve uma valorização de quase 2.000%, se não me engano, e é isso que o mercado que ver de novo”, afirma Pazos.