Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - A subsidiária de geração da estatal Eletrobras (SA:ELET3) no Amazonas foi autorizada na segunda-feira a iniciar a operação comercial de uma grande termelétrica em Manaus, mesmo após a Petrobras (SA:PETR4) se recusar a fornecer combustível para a usina devido à inadimplência da empresa em outros compromissos.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) publicou nesta terça-feira despacho no Diário Oficial da União em que autoriza a Amazonas Geração e Transmissão a acionar a primeira turbina da termelétrica Mauá 3 de forma temporária, no período de 19 de setembro deste ano a 31 de dezembro de 2018.
Segundo uma nota técnica da agência, a operação em caráter comercial será possível devido a uma decisão judicial.
Anteriormente, a Eletrobras já havia recorrido à Justiça, também com sucesso, para garantir o gás necessário ao menos à realização dos testes do empreendimento.
"Não havendo uma solução definitiva para o fornecimento do combustível... a Amazonas Energia GT demandou ação judicial e novamente conseguiu decisão judicial, dessa vez garantindo o fornecimento do combustível suficiente para operação comercial da usina até o julgamento do mérito em definitivo", afirma o documento da Aneel, visto pela Reuters.
"Vale (SA:VALE5) frisar que a decisão judicial estabelece multa diária de 500 mil reais pelo seu descumprimento", acrescenta a nota técnica.
Orçada em 1,7 bilhão de reais, a termelétrica Mauá 3 foi autorizada a iniciar testes ainda em maio, mas desde então Eletrobras e Petrobras vinham negociando o fornecimento de gás para a operação comercial, sem um acordo.
A usina no Amazonas, que somará 591 megawatts em capacidade, tem como objetivo substituir a geração mais cara e poluente de termelétricas a óleo na região. A primeira máquina, acionada nesta segunda-feira, tem 189,55 megawatts.
As obras do empreendimento começaram em 2012, e a usina chegou a aparecer em uma lista de projetos da Eletrobras que tiveram perdas por corrupção.
No ano passado, a estatal registrou prejuízo de 67 milhões de reais com Mauá 3 por achados de uma investigação interna sobre irregularidades, disparada após descobertas da Operação Lava Jato, em que autoridades detectaram um enorme esquema de corrupção no Brasil entre políticos, estatais e empresas privadas.
Procuradas, Petrobras e Eletrobras não responderam de imediato a um pedido de comentário.
Acesse o despacho da Aneel sobre Mauá 3 no Diário Oficial em: http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=19/09/2017&jornal=1&pagina=69&totalArquivos=80
DÍVIDA PROBLEMÁTICA
Dívidas entre subsidiárias da Eletrobras e a Petrobras ou sua controlada BR Distribuidora pelo fornecimento de combustíveis têm sido uma dor de cabeça constante para as companhias nos últimos anos.
Agora, com a Petrobras em preparação para realizar uma oferta de ações da BR Distribuidora na bolsa ainda neste ano, a companhia tem buscado soluções para as dívidas, ou ao menos um meio de evitar que elas comprometam o IPO em análise.
Nesse sentido, a Petrobras aprovou neste mês uma reestruturação que retirou do balanço da BR Distribuidora os recebíveis junto à Eletrobras e à própria Petrobras, em troca de uma porte de 6,3 bilhões de reais na subsidiária.
Em seu último balanço, a Petrobras listou cerca de 10,4 bilhões de reais em contas a receber de empresas do Grupo Eletrobras.
(Por Luciano Costa)