Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A Camil Alimentos (SA:CAML3), líder no mercado de arroz no Brasil, está fechando um ano que considera ter sido "excepcional" para os resultados da companhia, com o consumo firme e preços recordes do cereal, e avalia oportunidades para crescer por meio de aquisições.
Em entrevista à Reuters, o diretor financeiro e de relações com investidores da Camil, Flávio Vargas, disse nesta sexta-feira que o cenário de preços para o ano que vem segue positivo.
"O arroz é capaz de ficar no mesmo preço médio deste ano, talvez com uma dinâmica diferente. Este ano saiu de 45 reais e bateu 110 reais (a saca de 50 kg)", comentou o executivo, cuja empresa é líder de vendas no Brasil, com 13% do mercado desse produto.
"A gente vê uma estabilidade maior de preços, mas um preço médio elevado. Isso vale para arroz, feijão, açúcar, pescado (sardinha), e vemos nas operações internacionais uma dinâmica parecida...", acrescentou.
A próxima safra brasileira, com colheita no início de 2021, está estimada em quase 11 milhões de toneladas de arroz, com ligeira queda ante 2020, quando exportações firmes e um dólar forte elevaram as cotações a níveis recordes no país, juntamente com picos de compras de consumidores geradas por temores de desabastecimento durante a pandemia.
A Camil, em segundo no mercado brasileiro de feijão, com 7% de participação, é líder também em vendas de açúcar refinado, com a marca União, além de contar com a Coqueiro, de pescados enlatados.
As operações brasileiras respondem por dois terços dos negócios da companhia, que também tem unidades no Uruguai, Chile e Peru.
Segundo Vargas, a Camil trabalha com produtos alimentícios de "mercados resilientes", mas nem por isso deixa de ter preocupações com as "cicatrizes" que serão deixadas pela crise econômica gerada pela pandemia neste ano.
"Por mais que a Camil não tenha tanta concentração de venda nos produtos de mais baixo preço, esse movimento de perda de renda, pode ter impacto", afirmou, após ter participado do Camil Day, evento voltado para investidores.
"Por isso, independentemente de termos tido um ano excepcional, precisamos seguir muito focados em eficiência operacional, porque neste contexto para 2021 é o que a gente entende que pode complicar."
Ele comentou ainda que o mercado de arroz tem geralmente uma "demanda agregada fixa", o que indica que o crescimento passa por ganho de fatia no comércio.
"A gente acredita que essa consolidação no setor de grãos é trabalho de formiguinha, para crescer tem que tirar de alguém", comentou, sinalizando que a empresa está atenta a aquisições como vetor de expansão.
Em grãos, afirmou Vargas, há um "grupo mais seleto de empresas que fariam sentido" para a Camil adquirir.
"Entendemos que comprar uma empresa maior, que tenha marca, isso pode fazer sentido, são quatro a cinco empresas que estariam no radar", disse ele, sem dar detalhes sobre os planos.
PLANOS E IMPORTAÇÕES
A demanda no mercado interno foi tão firme este ano que o Brasil precisou isentar de tarifas temporariamente, até o final do ano, uma cota de 400 mil toneladas para importações de arroz de fora do Mercosul, uma medida com a qual a Camil acabou se beneficiando.
Segundo o executivo, a medida foi boa para a indústria e consumidor, "para dar uma freada de preços", em função do desbalanceamento entre oferta e demanda.
Neste contexto, em que as indústrias brasileiras fecharam negócios de cerca de 200 mil toneladas de fora do Mercosul, segundo informações da associação Abiarroz, a Camil importou 25 mil t toneladas dos Estados Unidos e outras 10 mil do produto da Guiana.
De acordo com Vargas, a Camil não realizou mais compras de fora do Mercosul. Ele avaliou que o volume disponível de arroz é suficiente para o país fazer uma transição até a próxima safra.
Disse ainda que a empresa realizou exportações das operações do Uruguai para o Brasil --negócios esses que normalmente já são isentos de tarifa e respondem por grande parte das importações brasileiras.
(Por Roberto Samora)