Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - Com a conclusão de reorganização societária que unificou três holdings e suas ações negociadas em bolsa, o conglomerado Cosan (SA:CSAN3) inicia nesta quarta-feira uma nova etapa em seus mais de 15 anos como empresa listada, que deverá focar em ofertas públicas (IPOs) de três companhias do grupo (Raízen, Compass (SA:PASS3) e Moove) e no fortalecimento da Rumo (SA:RAIL3), já negociada na B3 (SA:B3SA3).
"É um 'major milestone', uma coisa bastante importante, vínhamos trabalhando há bastante tempo nisso. As três holdings (Cosan Limited, Cosan S.A. e Cosan Logística (SA:RLOG3)) viram uma, e os negócios de infraestrutura, logística e energia ficam debaixo de um mesmo guarda-chuva", disse à Reuters o presidente da Cosan, Luis Henrique Guimarães, lembrando que ter as quatro plataformas do grupo listadas é um movimento planejado subsequente.
Assim, o momento de celebração da reorganização, que simplificará e deve impulsionar a companhia, vai durar pouco, disse o executivo. Isso porque o "espírito" da Cosan é de "inconformado", comentou Guimarães, citando o livro "O Inconformista", do controlador do grupo, Rubens Ometto, que está lançando a sua biografia este mês.
"A gente comemora e já vira a página, e já vamos atrás de como melhorar o resultado e aplicar o capital", afirmou o CEO, destacando que a Cosan agora busca cumprir as promessas de IPOs da Raízen, do setor de açúcar, etanol e de vendas de combustíveis, e Compass, que atua na distribuição de gás e produção e comercialização de energia.
A ação da Cosan tem sido negociada em patamar de mais de 90 reais, máxima histórica atingida nesta semana, o que para o executivo é um sinal de que o mercado entende que a simplificação da estrutura qualifica a empresa a continuar tomando as decisões consideradas "corretas quando a oportunidade se apresenta".
Seguindo essa lógica, os IPOs deverão ser realizados --e o CEO não descarta a efetivação das operações ainda neste ano.
Questionado se a movimentação para a oferta de ações da Raízen --que fechou acordo recentemente para incorporar a rival Biosev (SA:BSEV3) por 3,6 bilhões de reais mais ações-- seria a mais adiantada, Guimarães negou, enfático.
"Raízen não é o processo mais avançado, porque a Compass está pronta, basta eu apertar o botão", comentou, em referência ao processo do IPO da companhia de gás e energia, que foi cancelado em setembro último devido às condições de mercado e poderia ter levantado mais de 4 bilhões de reais.
Sobre a Raízen, o executivo evitou dar detalhes, mas disse que o IPO está sendo trabalhado com a sócia, a Shell, "para no momento correto poder divulgar as informações".
"Uma das maiores qualidades é entender os 'timings' de mercado, respeitar a nossa relação com sócio e fazer as coisas dependendo da situação. A ordem (dos IPOs das empresas) vai ser o que é melhor para a companhia e os investidores", disse.
Ao ser indagado sobre o ambiente para ofertas de ações ainda em 2021, o executivo lembrou que no primeiro trimestre, apesar de todos os desafios gerados pela pandemia, o país tem visto "recordes" de IPOs.
"Tudo tem muito a ver com a qualidade do ativo e o momento que o mercado está passando. Então eu nunca diria que não teria oportunidade em um ano como este que estamos vivendo", afirmou, acrescentando que o avanço da vacinação em várias partes do mundo traz algum alívio.
"Os números estão melhorando, vamos ter um ambiente externo global muito bom, vai depender um pouco do Brasil, de as coisas entrarem em um ritmo legal."
Ainda em relação à Compass, o executivo comentou que a companhia foi selecionada pela Petrobras (SA:PETR4) como "negociadora exclusiva" no processo de desinvestimento da Gaspetro, holding de distribuição de gás na qual a petroleira tem 51% de participação.
"Estamos no momento discutindo os termos e condições."
A Compass, que já atua em distribuição por meio da Comgás (SA:CGAS5), ainda poderá atuar em térmicas, disputando leilões do governo para novas usinas de geração de energia, assim como opera na comercialização de gás natural, biogás e eletricidade.
PETROBRAS
O grupo também tem interesse em ativos de refino que a Petrobras colocou à venda, assim como comercializa produtos como o etanol cujos preços dependem das políticas da estatal para combustíveis, que têm sido questionadas recentemente após o presidente Jair Bolsonaro anunciar troca no comando da petroleira por descontentamento relacionado aos valores do diesel.
Tanto o interesse em refino quanto o negócio de etanol poderiam, portanto, serem impactados negativamente. Mas Guimarães disse ter confiança em "decisões corretas para o Brasil se desenvolver, para ter um mercado mais competitivo, onde a própria Petrobras já declarou que não quer ser monopolista nem no refino nem no gás natural".
"Para que isso continue evoluindo, preço, segurança de contrato e regras regulatórias claras são condições fundamentais para investimento de longo prazo como a gente faz", destacou ele, opinando que o Brasil é um importador de combustíveis e é importante um modelo que acompanhe o mercado internacional.
Ele evitou responder se a insegurança trazida pela anunciada mudança no comando da Petrobras reduziu o interesse pelos ativos de refino. "Somos um player de mercado, estamos o tempo inteiro olhando oportunidade e tomando decisão de alocação de capital, sempre vamos ser muito disciplinados, entender os riscos, entender o momento e tomar as decisões."
Guimarães defendeu ainda que, se o governo quiser definir alguma política para beneficiar algum setor, ele pode fazer isso, desde que o plano caiba no orçamento e não interfira em questões de mercado da Petrobras.