Por Gram Slattery e Marta Nogueira
BRUMADINHO (MG)/RIO DE JANEIRO (Reuters) - Equipes de resgate trabalham nas buscas de cerca de 300 pessoas desaparecidas devido ao colapso de uma barragem de rejeitos de mineração da Vale (SA:VALE3), em Brumadinho (MG), em meio a poucas esperanças de encontrar muitos sobreviventes do desastre ocorrido três anos depois de tragédia semelhante envolvendo a mineradora.
Nove corpos foram encontrados e retirados das áreas atingidas pelas equipes de resgate, segundo bombeiros que trabalham na cidade de Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte.
Uma lista publicada pela Vale na manhã deste sábado soma mais de 400 empregados e terceirizados desaparecidos.
"Infelizmente, neste momento, as chances de encontrar sobreviventes são mínimas. Provavelmente estaremos apenas resgatando corpos", disse a jornalistas Romeu Zema, governador do Estado de Minas Gerais, onde ocorreu o desastre.
O número de mortos deve subir drasticamente, segundo Avimar de Melo Barcelos, prefeito da cidade de Brumadinho. A causa da ruptura não é conhecida.
Equipes de resgate mapeavam quatro pontos em que as pessoas ainda podem ser encontradas vivas, incluindo um refeitório soterrado de lama perto da hora do almoço, disse um porta-voz da polícia. Cães de busca estavam sendo trazidos do Rio de Janeiro.
Todos os desaparecidos são empregados ou contratados da Vale, disse o porta-voz.
Renato Simão de Oliveiras, de 32 anos, procurava em hospitais e com a polícia por seu irmão, que trabalhava para a Vale há 6 anos, e estava desesperado com a falta de informação.
"Eu ouvi sobre isso quando estava no trabalho. Liguei para ele várias vezes, mas não consegui encontrá-lo", afirmou.
"Estamos perdidos, não sabemos de nada."
O Estado ainda está se recuperando do colapso de novembro de 2015, de uma barragem maior, da mineradora Samarco --uma joint venture da Vale com a anglo-australiana BHP (L:BHPB), (AX:BHP)--, que deixou 19 mortos, centenas de desabrigados e atingiu o rio Doce, causando o maior desastre ambiental do país até então.
A Justiça de Minas Gerais acatou pedido do Estado e determinou o bloqueio de 1 bilhão de reais da Vale, com imediata transferência para uma conta judicial, devido à tragédia. [nL1N1ZQ04B]
Neste sábado, a Agência Nacional de Mineração (ANM) em Minas Gerais decidiu interditar e suspender de imediato as atividades do Complexo Córrego do Feijão, até que haja o restabelecimento de todas as condições técnicas de segurança da operação, devidamente comprovadas junto à agência. [nS0N1W502U]
O presidente Jair Bolsonaro visitou a região e sobrevoou a área do desastre neste sábado, mas já embarcou de volta para Brasília sem dar entrevista. Ministros de Estado atualizaram jornalistas sobre toda a situação.
Em uma entrevista na noite de sexta-feira, o diretor-presidente da Vale, Fabio Schvartsman, afirmou que a barragem 1, que se rompeu, estava paralisada há três anos e estava sendo descomissionada. A estimativa é que havia cerca de 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro.
Schvartsman ressaltou que em 10 de janeiro havia sido feita a última leitura dos monitores e estava "tudo normal" e ressaltou que era cedo para dizer o motivo do colapso.
A mina de Feijão é uma das quatro no complexo da Vale em Paraopeba, que inclui duas plantas de processamento e produziu 26 milhões de toneladas de minério de ferro em 2017, ou cerca de 7 por cento da produção total da Vale naquele ano, segundo informações no site da empresa.
Schvartsman evitou comentar na sexta-feira sobre como a produção e sua operação seriam afetadas, destacando que a prioridade neste momento era o resgate às vítimas.