Especialista alerta: recessão e queda de lucros não estão precificadas no mercado

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Investing.com – Durante boa parte do ano, os participantes do mercado alimentaram a expectativa de que o Fed em algum momento tiraria o pé do acelerador e sinalizaria o fim do seu ciclo mais agressivo de aperto desde a década de 1980.

De acordo com o Morgan Stanley (NYSE:MS), os investidores mais recentemente reforçaram a esperança de uma mudança iminente no rumo da política do banco central mais poderoso do mundo, em razão da queda da inflação, o que levou o S&P 500 a disparar mais de 14% em dois meses. Mas o foco dos participantes do mercado deve agora mudar da política monetária do Fed e dos juros para o consumidor, que pode ficar cada vez mais pressionado no próximo ano, principalmente por conta do agressivo aperto do Fed, alertou o Morgan, em uma nota publicada na segunda-feira.

“A economia dos EUA deve começar a sentir os efeitos do aperto da política monetária deste ano no início de 2023, dado que os efeitos econômicos das mudanças de juros tendem a apresentar um atraso de seis a doze meses”, explicou Lisa Shalett, diretora-chefe de investimento da unidade de gestão de patrimônio do Morgan Stanley.

Em 2023, o Morgan Stanley espera ver um enfraquecimento do crescimento do PIB americano. Com isso, os volumes de vendas, o poder de definição de preços e os lucros corporativos irão sofrer, declarou a especialista. “No entanto, as expectativas de resultados e os valuations das ações não parecem refletir atualmente essa perspectiva”, alerta Shalett.

Daqui para frente, ela recomenda que os investidores direcionem seu foco mais para o consumo e menos para a trajetória de juros do Fed. De acordo com as atuais estimativas de mercado, os juros devem atingir o pico de 5,0% a 5,25% no próximo mês de julho nos EUA.

A economia americana depende muito do consumo das famílias. Como ressalta Shalett, o consumo responde por dois terços da atividade econômica do país, o que “provavelmente determinará o momento e a profundidade da desaceleração econômica”.

Segundo um modelo elaborado pela sucursal do Fed em Nova York, a probabilidade de que a economia dos EUA entre em recessão em novembro de 2023 é de 38%. Com base na precisão do modelo no passado, quando ele indica um valor acima de 30%, a probabilidade, na verdade, é próxima de 100%.

O consumidor americano “provavelmente influenciará o momento dos cortes de juros, que historicamente são o sinal mais confiável de fim de um bear market”, opinou Shalett.

Contudo, a especialista argumenta que os dados de consumo estão se segurando muito bem, citando a taxa de desemprego, o crescimento salarial, as despesas pessoais e as vendas no varejo. Apesar disso, a executiva alerta que já estão começando a surgir sinais de enfraquecimento da demanda. Exemplo disso é a taxa de poupança pessoal, que foi inflada pela pandemia graças aos auxílios emergenciais pagos pelo governo, "caindo de 33,8% no pico, em abril de 2020, para 2,3% em outubro de 2022, menor patamar desde 2005”.

Ela apontou que o rotativo do cartão de crédito já atingiu a máxima recorde, e o número de novos anúncios de emprego está em queda.

“Colocando tudo isso em perspectiva, acreditamos que é preciso ficar de olho nos dados do mercado de trabalho e dos gastos dos consumidores, na medida em que ajudarão a determinar o acontecerá com a economia dos EUA”, complementou Shalett.

Quanto ao mercado acionário, ela defende que os mercados ainda não precificaram uma desaceleração do crescimento nos valuations das ações nem nas estimativas de resultados.

Como um “mercado de baixa motivado pela política monetária” geralmente só termina quando as estimativas de resultados atingem o fundo e o Fed passa a cortar os juros, “ainda pode levar algum tempo até que o bear market atual realmente acabe”, concluiu.