SÃO PAULO (Reuters) -Grandes produtores de aço do Brasil fizeram nesta quarta-feira a mais forte cobrança pela criação de mecanismos de proteção comercial pelo governo federal dos últimos anos, com dirigentes de empresas como Gerdau (BVMF:GGBR4) e ArcelorMittal citando possibilidade de onda de demissões diante da capacidade ociosa de 40% do setor.
O presidente-executivo da Gerdau, Gustavo Werneck, afirmou que a companhia está perto de promover demissões no Brasil. O executivo citou a necessidade de o governo criar imposto de importação de 25% sobre o aço como forma de proteger o mercado interno de competição com material que tem chegado principalmente da China.
"Estamos hoje na iminência de ter que promover demissões e desligamentos", disse Werneck durante conferência do setor promovida pela entidade Aço Brasil. Ele defendeu a tomada de "decisões urgentes" pelo governo nos próximos 30 dias para "reprimir essa demanda predatória que está vindo".
De janeiro a agosto, as compras de material siderúrgico pelo Brasil de outros países somaram 3,18 milhões de toneladas, crescimento de 49,5%, segundo dados do Aço Brasil. O volume é quase o mesmo da capacidade produtiva total da siderúrgica CSP, da ArcelorMittal, instalada no Nordeste.
Somente em agosto, as importações de aço pelo Brasil atingiram o maior patamar desde julho de 2021, a 495,7 mil toneladas, avanço de 55,6% sobre o mesmo período de 2022, de acordo com a entidade.
"Temos hoje na Gerdau 600 pessoas com suspensão de contratos de trabalho", afirmou Werneck. "Temos planta no Ceará que está completamente parada. Em São Paulo... de norte a sul do país que não estão operando", disse o executivo.
"E as pessoas que estão em casa estão aguardando uma decisão do governo federal que possa resolver este problema", disse o presidente da Gerdau, se referindo ao pleito do setor pela tarifa de importação de 25%.
O presidente-executivo do Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, afirmou durante o evento que há possibilidade de perda de 15 mil postos de trabalho no setor.
Mais cedo, ele antecipou que a entidade vai elevar em breve a projeção de alta das importações neste ano de 25,6% para 40% a 42%.
Já o presidente da ArcelorMittal Brasil, Jefferson De Paula, disse que a companhia vai produzir 1,3 milhão de toneladas a menos de aço este ano que o orçado pela companhia.
"Temos hoje capacidade de 15 milhões a 16 milhões de toneladas (no Brasil). Fizemos orçamento no começo do ano para a máxima capacidade, mas se vamos produzir a menos, vocês podem entender que isso vai acabar gerando um problema social no país", disse o executivo durante o fórum.
"O Brasil não cresce. Nos últimos 10 anos o PIB cresceu apenas 0,7%", disse De Paula, defendendo um "plano de governo que funcione" no longo do prazo, com um crescimento no investimento em infraestrutura.
(Por Alberto Alerigi Jr.; edição de Paula Arend Laier e Pedro Fonseca)