O Ibovespa perdeu a carona do exterior moderadamente positivo na sessão e iniciou a semana em baixa, após ter interrompido na anterior três semanas de ganhos consecutivos. Nesta segunda-feira, 6, em retração pelo segundo dia, cedeu 0,82%, aos 110.185,91 pontos, bem mais perto da mínima (110.015,20), do começo da tarde, do que da máxima (111.934,78) da sessão, em que saiu de abertura a 111.102,32 - o nível de encerramento desta segunda-feira foi o menor desde 20 de maio (108.487,88). Bem enfraquecido, o giro financeiro ficou em R$ 17,0 bilhões nesta segunda. Neste início de mês, o Ibovespa acumula perda de 1,05% em junho, avançando 5,12% no ano.
"A semana passada foi muito agitada, com dados relevantes como o PIB, aqui, e o payroll nos Estados Unidos. O descolamento do exterior tem ocorrido já há alguns dias, às vezes com o Ibovespa andando à frente do que se viu lá fora. Então é natural um ajuste, sem grandes novidades na sessão", diz Rodrigo Natali, estrategista-chefe da Inv. "Alguns setores continuam a ter desempenho favorável, como as exportadoras, enquanto as empresas de menor capitalização - as small caps - e as de consumo, com exposição à economia doméstica, continuam a sofrer. Assim, com uns em alta e outros em baixa, o Ibovespa se mantém nesta faixa que temos visto, sem muita força."
"Hoje, o número do Caged veio mais forte do que o esperado, e os dados sobre atividade no País têm vindo em geral acima do que o mercado imaginava no começo do ano. Mas a atuação vista sobre os preços no mercado têm refletido o que se espera para os juros nos Estados Unidos e agora na Europa, em meio à inflação muito alta em 12 meses - por outro lado, há também a reabertura na China, com efeito sobre as commodities. A reunião do BCE (Banco Central Europeu) deve ser relevante nesta semana, com expectativa de que comece a elevar juros na zona do euro em julho, com redução de balanço da instituição a partir do mesmo mês", diz Daniel Miraglia, economista-chefe do Integral Group.
Na B3 (SA:B3SA3), na ponta do índice nesta segunda-feira, destaque para Raia Drogasil (SA:RADL3) (+2,68%), CSN Mineração (SA:CMIN3) (+1,94%), Locaweb (SA:LWSA3) (+1,69%) e Embraer (SA:EMBR3) (+1,16%). Na ponta oposta, Hapvida (SA:HAPV3) (-6,15%), Positivo (SA:POSI3)(-6,13%) e Méliuz (SA:CASH3) (-6,11%). Entre as blue chips, o dia foi majoritariamente negativo, à moderada exceção de Vale ON (SA:VALE3) (+0,10%) e de Petrobras PN (SA:PETR4) (+0,07%). As perdas entre as ações de grandes bancos chegaram a 1,24% (BB (SA:BBAS3) ON), e Bradesco (SA:BBDC4) PN (+0,10%) foi a exceção. Na siderurgia, destaque para CSN (SA:CSNA3) (ON -3,51%) e Usiminas (SA:USIM5) (PNA -2,14%).
No quadro doméstico, em meio a pressões do Planalto e da base aliada para que a equipe econômica encontre logo solução para equacionar a questão dos combustíveis, o mercado volta a ponderar o lado fiscal à medida que se aproxima nova reunião do Copom, na próxima semana, e o calendário eleitoral começa a ganhar dinamismo, em meio a negociações entre governo, Congresso e Estados sobre como reduzir os preços dos combustíveis e da energia elétrica.
Hoje, o presidente Jair Bolsonaro admitiu haver pressões para que substitua Paulo Guedes na Economia, e que espera solução do ministro nos próximos dias para o problema. Guedes esteve reunido nesta segunda-feira com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), uma das lideranças do Centrão que consideram essencial resposta aos preços dos combustíveis e da energia para que o governo chegue vivo a 2023, com as mais recentes pesquisas eleitorais mostrando chance de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vencer ainda no primeiro turno.
Em lista apresentada a lideranças políticas, o governo contabiliza que 11 entre 14 países da Europa optaram por reduzir os tributos sobre combustíveis como mecanismo para enfrentar o impacto da alta de preços de petróleo na economia. Nos Estados Unidos, vários Estados, entre eles Nova York, estão suspendendo ou congelando a cobrança dos tributos que incidem sobre os combustíveis, relata a jornalista Adriana Fernandes, do Estadão em Brasília.
Há quase três meses sem reajuste (87 dias), a gasolina nas refinarias da Petrobras já registra uma defasagem de preço em relação ao mercado internacional de 20%, patamar que não registrava desde meados de maio, reporta do Rio de Janeiro a jornalista Denise Luna, do Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
Ainda que tenha sido flexibilizado para cobrir demandas de países como Hungria, República Checa e Eslováquia, o embargo da União Europeia (UE) a importações de petróleo da Rússia manterá os preços da commodity elevados ao menos até o fim deste ano, impondo mais pressão sobre a inflação global e com consequências para o crescimento econômico e a política monetária de nações desenvolvidas, segundo avaliam analistas consultados pelo Broadcast, informa o jornalista Gabriel Caldeira, de São Paulo.
Em relatório mensal, a Âmago Capital observa que três fatores prevaleceram sobre a percepção pessimista do mercado em maio: a história de crescimento da China acabou; a guerra da Ucrânia será eterna; e empresas de alto crescimento estão fadadas ao fracasso na nova realidade econômica.
A casa observa que "as restrições à mobilidade tiveram um grande efeito na economia chinesa, levando o governo a adotar uma série de medidas de estímulos, que podem ter um efeito positivo relevante nos próximos meses". Por outro lado, a guerra na Ucrânia será "longa e causará problemas de oferta por muito tempo", aponta a Âmago. "Um terceiro consenso do mercado é que empresas de tecnologia e de crescimento devem ser evitadas e que tais empresas devem renunciar ao crescimento em busca de melhora de suas margens operacionais", acrescenta.