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Ibovespa cai 2,23%, a 108,2 mil pontos, e emenda sétima perda

Publicado 27.04.2022, 05:00
© Reuters.  Ibovespa cai 2,23%, a 108,2 mil pontos, e emenda sétima perda
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Decepção com o resultado trimestral do Santander Brasil (SA:SANB11) e o mal-estar externo em torno da atividade econômica chinesa - em meio aos lockdowns - e da aceleração inflacionária global mantiveram o Ibovespa no negativo pela sétima sessão consecutiva, igualando em extensão sequência vista pela última vez em maio de 2016, de acordo com AE Dados.

Nesta terça, a referência da B3 (SA:B3SA3) encerrou o dia em baixa de 2,23%, a 108.212,86 pontos, entre mínima de 107.977,70 e máxima de 110.684,95 pontos, praticamente equivalente à abertura, a 110.684,23 pontos. O giro ficou em R$ 32,4 bilhões. Na semana, o índice cede 2,58% e, no mês, 9,82% - no ano, o ganho se limita a 3,23%.

Na mínima do dia, o Ibovespa perdeu a linha dos 108 mil pontos, em queda de 2,45%, no menor nível desde 15 de março (107.780,86), enquanto as perdas em Nova York chegavam a 3,40%, no Nasdaq - que fechou na mínima, em queda de 3,95%. Na B3, Vale ON (SA:VALE3) encerrou em baixa de 1,37% e Petrobras (SA:PETR4) também se firmou no negativo ao longo da tarde, com a ON (-0,15%) e a PN (-0,17%), apesar dos ganhos entre 2,40% (Brent de julho, a US$ 104,61 por barril) e 3,21% (WTI de junho, a US$ 101,70 por barril) para o petróleo na sessão.

Os grandes bancos também tiveram queda firme após os resultados do Santander, com o mercado especialmente atento à inadimplência e ao crédito no primeiro trimestre. "A carteira de crédito encolheu 3% no trimestre, um aumento modesto de 5% no comparativo anual, provavelmente o ritmo mais lento de qualquer grande banco no Brasil", afirmam os analistas Pedro Leduc, Mateus Raffaelli e William Barrajard em relatório do Itaú BBA. A decepção com os números da filial brasileira do banco espanhol manteve o segmento de maior peso no Ibovespa no negativo, com perdas entre 2,25% (BB (SA:BBAS3) ON) e 4,55% (Unit do Santander) para as grandes instituições.

Na ponta negativa do Ibovespa, destaque para Locaweb (SA:LWSA3) (-8,32%), à frente de Totvs (SA:TOTS3) (-6,50%) e de Banco Inter (SA:BIDI4) (-6,37%). No lado oposto, PetroRio (SA:PRIO3) (+2,47%), 3R Petroleum (SA:RRRP3) (+2,24%), CPFL (SA:CPFE3) (+1,84%) e Iguatemi (SA:IGTA3) (+1,81%).

No quadro mais amplo, "com a China 'trancada', investidores preocupados com o ritmo da subida de juros nos EUA e preocupações com a inflação sempre presentes, o mercado segue em ritmo de aversão a risco", observa Paula Zogbi, analista da Rico Investimentos. "O movimento de queda já está esticado, e em um suporte. Seria interessante uns dias de alta, mas a tendência de curto prazo ainda é de indefinição", aponta Pam Semezzato, analista técnica da Clear Corretora.

Abril tem se mostrado um ponto de inflexão para o Ibovespa, com a referência da B3 a caminho de colher a maior perda mensal desde o ponto mais baixo da pandemia, em março de 2020, quando o índice cedeu 29,90%. O fluxo estrangeiro, em recuperação que se estendeu de novembro de 2021 a março de 2022, tem se mostrado agora reticente, com saída de recursos no mês, em cenário de maior incerteza quanto à inflação global bem como sobre a extensão e o grau de ajuste da política monetária nas maiores economias. No ano, os estrangeiros ainda têm saldo líquido de R$ 64,359 bilhões na B3 até o dia 22, mas os saques no mês totalizam R$ 969 milhões.

"Houve uma inversão de fluxo para o Brasil no primeiro trimestre, também motivada pela guerra na Ucrânia, que afastou a Rússia (como opção entre emergentes), além de uma diminuição de apetite por China, com os problemas por lá. As commodities e o aumento de juros, que se acelerou no último trimestre do ano passado, e certa tranquilidade política favoreceram o Brasil no começo do ano como um ponto de alocação importante", diz Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento).

Ele chama atenção em especial para os efeitos sobre o câmbio, agora em reversão, com viés crescentemente "hawkish" nos sinais emitidos pelo Federal Reserve.

"Teve mudança de discurso no Fed, assumindo realidade de inflação global extremamente forte, e de que terá que perseguir com mais contundência um equilíbrio da inflação americana nos próximos dois anos, aceitando aperto monetário maior - inclusive o presidente, Jerome Powell", acrescenta Tingas. O economista espera 0,50 ponto porcentual de aumento na taxa de referência americana na próxima reunião do FOMC, semana que vem, apesar de integrantes do Fed, como James Bullard (St. Louis), defenderem aumento maior, de 0,75 ponto.

"A questão é saber se a taxa do fed fund para, até o fim do ano, entre 2,75% e 3%, ou se chega a 3,5%. Isso significa uma taxa de juros americana competitiva, tendo em vista que é uma moeda de risco muito baixo, quase zero. Há um movimento de reinterpretação sobre taxa de juros, com outros fatores passando a pesar, embora a nossa continue extremamente alta", acrescenta o economista, observando que "a inflação global está acima de qualquer capacidade de previsão". "Continua muito forte e surpreendendo, no Brasil e no mundo. E a economia global já está entrando em ritmo de desaceleração", acrescenta.

Para Tingas, o câmbio em especial, desde a última sexta-feira, tem reprecificado um conjunto de variáveis de risco, que incluem também ruídos domésticos, como a retomada do embate institucional entre o Planalto e a cúpula do Judiciário, após relativa calmaria política no começo do ano, eleitoral. Nesta terça, a moeda americana ficou perto de retomar o nível de R$ 5 na máxima do dia, a R$ 4,9997, o que suscitou reação do BC. Ao final, o dólar à vista se estabilizou em nível ainda elevado, a R$ 4,9905, em alta de 2,36% no fechamento.

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